A educação é, historicamente, a principal área de atuação do investimento social privado, conforme o Censo GIFE. Desde 2001, o estudo mostra que mais de 80% dos investidores sociais afirmaram ter atuado com o tema.

Para a gerente de metodologias da Fundação Vale, Fernanda Fingerl, esse papel se intensificou diante da pandemia de Covid-19. Um levantamento divulgado em setembro pelo Ministério da Educação mostra que o percentual de crianças que não sabem ler e escrever mais que dobrou na pandemia, passando de 15% para 34% no segundo ano do ensino fundamental.

“Acreditamos na importância da atuação do setor privado no fortalecimento das políticas públicas educacionais e no fomento à articulação intersetorial, visto que o agravamento dos problemas sociais impacta tanto no acesso quanto na permanência escolar.”

Assim, a Vale tem atuado de forma integrada nos municípios de sua atuação em parceria com as Secretarias de Educação, Saúde e Assistência Social. 

Organizações sociais também têm trabalhado para recuperar o quadro educacional do país. “As OSCs têm por propósito atuar para contribuir em espaços mal ocupados pelo poder público”, destaca Lia Jamra Tsukumo, diretora executiva da Associação Vaga Lume, que trabalha com o acesso à leitura na Amazônia Legal. Ela acredita que, ao preencher esta lacuna social, a associação oferece espaços onde crianças e jovens adquirem perspectiva de futuro.

“Já testemunhamos escolas que só tinham livros didáticos, ou os livros ficavam trancados em armários. A gente fica feliz quando chega nas bibliotecas e os livros estão amassadinhos, com orelha, porque é sinal de que estão sendo usados.”

Bibliotecas comunitárias são estratégia para combater analfabetismo

Para cumprir o direito constitucional do acesso à educação e à leitura, a estratégia da Vaga Lume é baseada em cinco pilares: acesso à literatura e infraestrutura de biblioteca; capacitação de mediadores de leitura; apoio ao engajamento comunitário; valorização da cultura local e produção de livros artesanais; intercâmbio cultural. As bibliotecas se tornam ainda espaço cultural da comunidade, onde são promovidas atividades que impactam o senso de pertencimento.

Fernanda Fingerl defende que a implementação deve ser acompanhada de ações formativas, para que as escolas acessem esses espaços e mobilizem comunidades leitoras com estratégias que contribuam para o aumento do nível de alfabetismo.

Nesse sentido, o Trilhos da Alfabetização, projeto da Fundação Vale com foco na alfabetização, contempla a realização de circuitos literários, formação de educadores e gestores e disponibilização de material didático complementar. Outro projeto da Fundação, o Rotas e Redes Literárias, visa ampliar o conhecimento a respeito do cenário da leitura no país e apoiar as redes públicas na democratização do acesso ao livro. Neste ano, 326 educadores foram formados pelo projeto, que mobilizou 161 escolas municipais e estaduais.

Importância do Investimento Social Privado (ISP)

A Amazônia Legal tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e uma das maiores taxas de analfabetismo, além de escolas em condições precárias. Para Lia  Tsukumo, o trabalho que a sociedade civil vem desempenhando no combate à crise sistêmica na educação do país só é possível com apoio financeiro de empresas privadas. É por meio das doações, afirma, que foi possível levar 86 bibliotecas para os nove estados da Amazônia Legal, doar mais de 140 mil livros e impactar mais de 100 mil crianças em 20 anos de atuação.

Nessa perspectiva de atuação do ISP, a Fundação Vale promove atualmente a Campanha Experiências Leitoras, e as Estações Conhecimento. A Campanha segue até outubro promovendo arrecadação de livros, oficinas de contação de história e trilha de formação. Em setembro, realizou um webinário com participação da escritora Conceição Evaristo e foco na literatura, identidade e gênero e importância de considerar a diversidade de narrativas e autores ao fomentar uma comunidade leitora.