Conferência Ethos 2021
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A pandemia transformou nossas rotinas, impactando a produção e logística, a economia e a política em todo o mundo. A Covid-19 chegou ao topo da lista das principais causas de mortes, embora alguns líderes globais ainda se mantenham firmes em negar a gravidade do problema, e em ignorar as recomendações da ciência e os benefícios da imunização em massa.
A explosão da doença e das mortes, pelo menos na América Latina, ainda esteve associada a um problema igualmente relevante: a queda do PIB e, consequentemente, o aumento do desemprego, o agravamento das desigualdades e a precarização, com uma pressão ainda maior sobre as mulheres, que assumem a maior carga do trabalho precário, trabalhos de cuidados não remunerados e estão mais expostas à pobreza e violência. A pandemia escancara as desigualdades e mostra que a pobreza, a ansiedade e o medo se tornam a norma para muitos. Jovens sofrem uma profunda incerteza e temem se enlutar pela própria esperança.
O que o mundo também pôde observar, é que locais onde a irresponsabilidade tornou-se política pública e o saldo de mortes explodiu, as economias sofreram maior tombo. Políticas fiscais para mitigar os efeitos na atividade econômica, estimular e gerar auxílios, mostraram-se bem-sucedidas em incentivar o consumo e suavizar a queda do PIB em diferentes países, tornando-se uma recomendação do Fundo Monetário Internacional para o ano de 2021. Prova de que investimento em renda e saúde não são nem contraproducentes e nem implicam em retrações e inibição dos investimentos, como provam muitas economias, na contramão das reformas de austeridade fiscal que insistiam em caracterizar o investimento social como algo que “drenava” e “esgotava” a economia. Pandemia e arrocho para quem mais precisa é receituário para arruinar a economia, ampliar a pobreza e as desigualdades.
Neste momento, no século XXI, a pandemia nos mostra que vivemos a urgência de um ajuste de foco. De forma sensata, Ailton Krenak destaca que a pandemia escancara a importância de abandonar o antropocentrismo, a desvalorização da vida e a degradação das florestas, que no Brasil se torna fonte de carbono por meio de queimadas ilegais. Ajustar o foco e nos desembaraçar de modelos predatórios e desiguais será fundamental para a recuperação econômica do país que se dará em meio a emergência climática.
É nessa direção que nossa Conferência buscará contribuir. Mobilizar empresas, organizações da sociedade civil e governos para que possamos ajustar o foco, valorizar a vida e mudar o rumo, em direção à recuperação econômica em bases sustentáveis. “