As várias frentes de luta pelos direitos e orgulho LGBTQIA+

Junho é marcado mundialmente por ser o mês do Orgulho LGBTQIA+, sigla que ao decorrer do tempo foi crescendo para abarcar as múltiplas identidades e orientações sexuais. Neste especial redeGIFE, abordamos  as diversas lutas, conquistas e desafios constantes desta população para enfrentar uma sociedade permeada por preconceitos. Em infográfico, trazemos uma linha de tempo dos principais direitos da população LGBTQIA+. 

Priscilla Siqueira é uma pernambucana de 29 anos, e fundadora da primeira organização voltada para a população LGBTQIA+ com deficiência, o Vale PCD. A jovem tem nanismo e é bissexual, e a motivação para criar o projeto só veio quando participou do programa Embaixadorxs, da TODXS, em 2019.

“Eu estava muito perdida na vida. Hoje o Vale PCD é meu trabalho e o lugar que me ajuda a ser melhor todo dia”, conta. A iniciativa atua com saúde mental, empregabilidade e acessibilidade. Mas não existiria se ela não tivesse conhecido a TODXS, organização que promove inclusão de pessoas LGBTIA+ com formação de lideranças, pesquisa e conscientização. O que não é possível sem recursos

Retomada do Conselho Nacional LGBTQIA+

De acordo com levantamento da Great Place To Work realizado em 2022, apenas 8% das lideranças de empresas são LGBTQIA+. As pessoas trans travam uma luta ainda maior, já que segundo a 5º Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior, publicada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em 2019, essa população representa apenas 0,2% desses estudantes. 

Nos índices de violência, os números se invertem. 

Há 14 anos, o Brasil lidera o ranking mundial de crimes de ódio contra a população LGBTQIA+.

É nesse contexto que o governo federal retomou o Conselho Nacional dos Direitos LGBTQIA+ (CNLGBTQIA+), extinto em 2019

Para Daniel Kehl, co-diretor da TODXS, a iniciativa é importante para aprofundar as discussões de forma sistemática. “Acreditamos em algumas frentes de trabalho, como a proteção legal e igualdade de direitos; promoção da saúde e bem-estar entre a comunidade; e inclusão social e econômica.”

Keila Simpson é presidenta da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e observa a retomada do Conselho como um sinal de preocupação da atual gestão federal. Para ela, o primeiro passo é uma Conferência Nacional. “Só nas conferências é possível sentir os impactos da falta de políticas e propor diretrizes para que sejam executadas.”

Com o trabalho do Vale PCD, Priscila Siqueira ganhou experiência com conselhos: a organização compõe o Conselho Municipal LGBT de Recife. Ela avalia positivamente os nomes que integram o CNLGBTQIA+, mas sentiu falta da representação PCD. “Por isso é necessário conversar com outros conselhos, e entender todas as dores que cercam a sigla.”

Heliana Hemetério integra a Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas (Candaces), e recentemente passou a integrar o Conselho Nacional de Saúde. Para ela, a participação da população LGBTQIA+ nestes espaços é importante, mas é preciso sempre apontar os marcadores sociais. “A sociedade continua com seu grande projeto: o pacto da branquitude e da heteronormatividade.” 

Para Gustavo Narciso, diretor do Instituto C&A, o Conselho terá muito trabalho pela frente. “Ao olhar para a interseccionalidade encontramos nas pessoas transgênero negras e indígenas as necessidades mais urgentes e espero que a partir daí as prioridades sejam definidas”. O Instituto desenvolve ações na moda voltadas para população LGBTQIA+.

Transversalidade das agendas

De acordo com o Censo GIFE 2020, temáticas ligadas à diversidade são tratadas de forma mais transversal do que direta pelas iniciativas dos investidores sociais. Entre 55% e 65% das iniciativas levantadas não têm relação com os temas de diversidade e equidade mapeados no Censo. Dependendo do tema, entre 31% e 40% têm relação apenas transversal.

Keila Simpson percebe que a compreensão da sociedade sobre diversidade ainda é muito estereotipada, no caso da população LGBTQIA+, muito voltada para a área da cultura. “É preciso falar em educação, saúde, inclusão social.”

Já Gustavo Narciso observa que o amadurecimento da escuta dos públicos impactados pelas iniciativas acompanhou o surgimento de organizações que pautam o fomento à educação, empreendedorismo e empregabilidade. 

“No entanto, é preciso diversidade da gestão até o conselho administrativo das organizações investidoras para que as estratégias de investimento social se desdobrem de forma mais efetiva em ações transversais e principalmente nas diretas.”

Daniel Kehl ressalta que os dois escopos de ações podem ampliar o impacto. “Para aumentar as iniciativas diretas é necessário crescer a conscientização, alocar os recursos adequados e superar a oposição. Diversidade e equidade atravessam todas as áreas da sociedade.” 

É preciso mais atuação do Investimento Social Privado (ISP)

Uma das maiores satisfações de Priscila Siqueira no Vale PCD é exercer sua profissão enquanto psicóloga. Seu maior objetivo é que a organização tenha financiamento suficiente para oferecer o serviço de forma gratuita. “Mas é muito difícil as empresas terem olhar”, lamenta. A jovem alerta também para a carência no investimento a organizações voltadas a pessoas com deficiência. A maior crítica da psicóloga são os apoios em campanhas sazonais, que depois desaparecem.

Na TODXS, Daniel Kehl vem percebendo um crescimento da atuação do ISP na agenda. Mas, aponta razões pelas quais o investimento ainda é baixo. “Desconhecimento sobre as questões enfrentadas pela comunidade; preconceito no meio empresarial; a crença de que a igualdade LGBTI+ é responsabilidade exclusiva do governo ou de OSCs.” 

Keila Simpson defende que a comunidade empresarial atue pelas agendas LGBTQIA+ enquanto missão da empresa. “A população LGBTQIA+ tem capacidade de penetrar o mercado formal fazendo com que as empresas alcancem mais lucros, que precisam ser reinvestidos para essa população.”

Pessoas entrevistadas

DANIEL KEHL

co-diretor da TODXS

GUSTAVO NARCISO

diretor do Instituto C&A

HELIANA HEMETÉRIO

Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas (Candaces)

KEILA SIMPSON

presidenta da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra)

PRISCILLA SIQUEIRA

fundadora da Vale PCD

Expediente

Natália Passafaro
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

Leonardo Nunes
ASSISTÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

Afirmativa
REPORTAGEM/TEXTO & INFOGRÁFICO

Marina Castilho
DESIGN & DESENVOLVIMENTO


Apoio institucional

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