Evento do FONIF debate reforma tributária e sua relação com as entidades filantrópicas
Por: GIFE| Notícias| 29/08/2019O Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (FONIF) reuniu cerca de 800 pessoas no dia 23 de agosto para debater os rumos da filantropia no Brasil. Dentre as determinações do grupo está o permanente diálogo com os parlamentares brasileiros, em especial no contexto das reformas Trabalhista e Tributária em processo de tramitação no legislativo, para evitar retrocessos nas imunidades.
A abertura contou com a presença do jurista Ives Gandra Martins, que rememorou o processo de garantia das imunidades às instituições filantrópicas desde a Constituição Brasileira, passando pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2028, proposta em 1999 (que declarou inconstitucional, entre outros dispositivos legais, o art. 55 da Lei 8.212/91, lei ordinária que previa requisitos para o exercício da imunidade tributária contida no referido artigo 195, inciso 7º, da Constituição), e até hoje ainda não houve uma manifestação definitiva do tribunal sobre a controvérsia. “O Supremo Tribunal Federal declarou a filantropia como fundamental ao analisar a ADI 2028. O Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social (CEBAS) é um mero reconhecimento. Não pode haver autorização por parte do fisco para que uma entidade seja considerada imune. Há uma grande diferença entre imunidade e autorização”, afirmou.
Gandra informou que no dia 11 de setembro estará na pauta do Supremo Tribunal Federal o julgamento dos embargos de declaração da ADI 2028. Em 2017, “o STF declarou por unanimidade que as contrapartidas deverão ser estabelecidas por lei complementar. Pode ser que o CEBAS venha a cair no dia 11, mas se isso não acontecer, seria importante deixar claro que a função de fiscalização é de reconhecimento da imunidade, e não de autorização. ”
Os deputados federais Antonio Brito (PSD/BA) e Maria Rosas (Republicanos/SP) reiteraram a importância de manter diálogo estreito com os parlamentares e trouxeram dados sobre projetos em tramitação no legislativo. Brito é titular da Comissão de Seguridade Social e Família na Câmara Federal, que reúne, segundo informação do deputado, 104 parlamentares. O Deputado chamou atenção para o projeto de lei complementar em tramitação no Congresso Nacional – PLP 134 – que estabelece as condições para que as entidades beneficentes de assistência social possam usufruir das imunidades previstas na Constituição. “Somos uma comissão vasta. Vamos começar a debater agora. Hoje o PLP 134 está em tramitação, e vai passar pela Comissão de Seguridade Social e Família. Se apresentarmos, por exemplo, o projeto constituído no âmbito do FONIF, ele será apensado ao PLP 134. Podemos fazer audiências e debates antes dos órgãos arrecadadores. A reforma tributária, até o momento, não mexeu com as associações filantrópicas, até agora não se mostra impacto direto na questão da isenção. Mas é preciso que estejamos mobilizados e acompanhando esse processo”.
Maria Rosas, que é também titular da Comissão de Educação na Câmara, elogiou a pesquisa “A contrapartida do setor filantrópico para o Brasil”, realizada pelo FONIF em 2018, segundo a qual as instituições filantrópicas retornam 7,39 vezes mais do que recebem em imunidade. “Esse assunto é pouco debatido em nosso parlamento. Hoje na Câmara temos cerca de cinco mil proposições relacionadas a entidades filantrópicas em tramitação, e dessas, 1.232 estão associadas diretamente à educação. Precisamos acompanhar e estar atentos”.
O presidente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Edson Rogatti, destacou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), o papel das filantrópicas nesse contexto e defendeu a necessidade de atualização da tabela de repasses pelo Sistema. “Quanto à reforma tributária, é importante garantirmos que ela não represente ameaça aos recursos já escassos para assistência e saúde”.
Paulo Fossati, diretor presidente da Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), destacou a Caravana da Filantropia (que reuniu representantes das filantrópicas durante três dias, no mês de março deste ano, na realização de encontros e reuniões com o maior número possível de congressistas brasileiros para apresentar dados da pesquisa do FONIF) e a importância de que esse tipo de contato próximo aos parlamentares seja contínuo no processo da reforma tributária: “a Caravana mostrou que nossos parlamentares não têm conhecimento da atuação da filantropia no Brasil, precisamos ocupar as agendas dos deputados e senadores para definir os rumos da filantropia”.
Integrante da Comissão Especial de Direitos do Terceiro Setor da OAB-SP, Ricardo Monello definiu o congresso atual como reformista e pediu vigilância para garantir que esse perfil não promova o corte de direitos conquistados. “Em termos de redação, até o momento não há nada nas propostas de reforma tributária que mencione imunidades às filantrópicas, mas elas podem sofrer efeitos indiretos”. Dentre esses efeitos ele cita, por exemplo, o ICMS, já que as filantrópicas não conseguem não ser tributadas por esse imposto.
Monello destacou também a pesquisa da FGV Direito SP, no âmbito do projeto Sustentabilidade Econômica das Organizações da Sociedade Civil (Sustenta OSC), sobre o Imposto Causa Mortis e Doação (ITCMD), apontando que o tributo é injustificado e que gera poucos recursos para o poder público: “Temos que ter tratamento diferenciado para organizações da sociedade civil de interesse público. Ver os caminhos e propostas para incluir a desoneração expressa dos recursos repassados para atividades de interesse público”.
A pesquisa foi apresentada no dia 06/08, em reunião da Comissão Especial de Direito do Terceiro Setor da OAB/SP, e na ocasião a atual presidente da Comissão, Ana Carolina Pinheiro Carrenha destacou a importância de ter acesso a dados sobre a questão tributária em relação às OSC que fundamentem ações nessa área.