Experiências dos negócios de impacto podem auxiliar adoção de critérios ESG nas empresas

Por: GIFE| Notícias| 04/04/2022
negócios de impacto e ESG

Se as empresas ainda têm dúvidas sobre como podem aprender mais e, consequentemente, aplicar boas práticas em ESG, sigla em inglês para Environmental, Social and Governance (também chamada de ASG), a resposta pode estar mais perto do que se imagina: nos investimentos e negócios de impacto.

O investimento social privado, por exemplo, já percebeu o potencial dessa aproximação. 56% das organizações do investimento social privado respondentes do Censo GIFE 2020 tiveram algum tipo de envolvimento com o campo de negócios de impacto. A taxa é maior entre institutos, fundações e fundos filantrópicos independentes (74%), seguida por empresas (60%). 

A pesquisa também mostra que ficou na casa dos R$ 55 milhões o montante de recursos direcionado pelos investidores sociais para o desenvolvimento, promoção e apoio ao campo de negócios de impacto em 2020, sendo que repasse de recursos e apoio técnico são as principais formas de atuação nesse campo.  

Motivações

Anna Aranha, sócia-diretora do Quintessa, explica que tanto o ESG quanto os negócios de impacto partem da visão de que empresas não só podem, como devem ser parte da solução dos desafios sociais e ambientais, provando que uma nova forma de fazer negócios é possível. 

O que difere os dois mundos é que os negócios de impacto já nascem com essa missão: endereçar grandes problemas socioambientais e contribuir, a partir de sua atividade central, com um mundo melhor. As empresas não têm, necessariamente, a missão principal de enfrentar e propor soluções a agendas de interesse público, mas a adoção dos critérios ESG denota o interesse em agir da melhor maneira possível – tanto interna quanto externamente – com o objetivo de não gerar impactos negativos. 

“Até hoje, as empresas têm olhado para os temas denominados ESG como mitigação ou  prevenção de danos sociais ou ambientais. Já os negócios de impacto não apenas não causam danos, como têm, no motor da sua existência, a solução desses problemas. As grandes empresas poderiam se inspirar nesse exemplo para não causar novos desafios e também para resolver os problemas”, afirma Luciano Gurgel, diretor executivo da Artemisia. 

O tradicional e o inovador 

As motivações e os propósitos podem ser diferentes, bem como a forma de atuar. Entretanto, é a sociedade, as equipes de colaboradores e fornecedores que saem ganhando quando empresas e negócios de impacto articulam forças, trocam conhecimento e aprendem juntos.

Luciano comenta que soluções que já nascem com a missão do impacto socioambiental positivo podem ajudar as instituições fundadas nos moldes mais tradicionais a se adaptar e adotar critérios de sustentabilidade, por mais rígidas que possam ser suas estruturas. 

“Empresas maduras e consolidadas têm mais dificuldade de assimilar as inovações, o que é natural. Mas temos visto várias delas fazendo parcerias com startups como forma de trazer essas inovações inerentes para dentro do seu core business. São as chamadas plataformas de inovação aberta. Temos visto vários exemplos interessantes no campo do impacto também”, explica. 

Anna exemplifica que a relação entre empresas e negócios de impacto pode se dar de diferentes formas, como em um modelo de cliente-fornecedor, no qual a empresa contrata as soluções de negócios de geram impacto socioambiental positivo, ou, em outro tipo de arranjo, podem cocriar novos produtos. 

A ideia é, portanto, usar a expertise que os negócios inovadores já têm para auxiliar as empresas em seus processos em direção à maior sustentabilidade proposta pelos critérios ESG. 

“Quando consideramos negócios em estágio mais avançado, de tração e escala, estamos falando de empreendedores e equipes que há anos estão estudando o desafio, elaborando e refinando suas soluções, lidando com o público fim e tendo experiência no assunto. Trabalhar com esses negócios é uma forma de a empresa encurtar sua curva de aprendizado. Se ela depender apenas do desenvolvimento de soluções internamente, poderá tardar demais em promover as melhorias que deveria”, ressalta a diretora. 

Anna elenca benefícios para ambos os lados. Confira: 

Negócios de impacto podem: 

  • trazer assertividade, eficácia e eficiência para desafios das empresas;
  • apoiá-las no desenvolvimento de novos produtos serviços e na melhoria da relação com clientes e parceiros;
  • auxiliá-las em sua missão de sustentabilidade, com soluções de eficiência energética, eficiência hídrica e promoção de diversidade;
  • orientar ações de responsabilidade social, como atuação em causas específicas, soluções para promover o desenvolvimento de territórios de atuação, e outras.

Já as empresas podem: 

  • atuar como clientes ou investidoras;
  • investir no desenvolvimento do ecossistema de negócios de impacto ao apoiar programas de aceleração e mentoria;
  • disponibilizar espaços como fábricas e laboratórios como ambientes de testes;
  • contribuir com logística para distribuições, conexões comerciais com outras grandes empresas, acesso a potenciais investidores e executivos especialistas.

Lucro e impacto lado a lado

Outro ponto positivo a partir dessa interação é a possibilidade de os negócios de impacto mostrarem ao setor empresarial que lucro e impacto positivo não são opostos, mas podem caminhar lado a lado, ao mostrar que é possível usar as ferramentas do mundo dos negócios como uma forma de resolver problemas socioambientais. 

Isso não significa, entretanto, que, para cada desafio, exista um modelo de negócio pronto para resolvê-lo. “É aqui que a filantropia tradicional entra. A doação de recursos não pode ser substituída, mas onde houver espaço para que negócios de impacto atuem no enfrentamento aos problemas, estaremos otimizando recursos escassos e preciosos”, reforça Luciano.  

Responsabilidade compartilhada

Desafios complexos, como é o caso das mudanças climáticas e a promoção de educação de qualidade, demandam união de esforços e investimentos de diferentes frentes e setores. Luciano defende que a pandemia acelerou a percepção de que não é possível alcançar o mundo no qual todos querem viver se a responsabilidade pelos problemas socioambientais for inteiramente delegada ao Estado, ressaltando a importância de ações individuais. 

“Os indivíduos, especialmente os mais jovens, têm chamado para si a responsabilidade de ser parte da solução, e não apenas do problema. E há diversas dimensões em cada pessoa: o consumidor, o funcionário, o empreendedor, o eleitor, o investidor. Temos visto diversas ações em cada dimensão no sentido de um maior engajamento.” 

Anna completa ao reforçar que investir em negócios de impacto e avançar na agenda ESG pode ajudar a transformar a realidade brasileira. “A base dessa afirmação é a visão de que as empresas – o segundo setor -, e o setor dois e meio podem e devem ser parte da solução, sem esperarmos apenas que as organizações da sociedade civil – o terceiro setor -, e o governo – o primeiro setor -, executem todas as soluções necessárias.” 

Fique por dentro 

Em setembro de 2021, o redeGIFE ouviu especialistas do campo para entender se a agenda ESG é uma oportunidade de avanço no enfrentamento aos desafios socioambientais, possibilitando transformações na sociedade. 

Confira o material completo no Especial Os Diálogos e as Possibilidades entre o Investimento Social e a Agenda ESG


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