Finanças sustentáveis tem grande potencial de sinergia com a filantropia

Por: GIFE| Notícias| 20/05/2024

A Comissão Europeia define finanças sustentáveis como o processo de considerar fatores ambientais, sociais e de governança (ASG) na tomada de decisões de investimento.

Isso leva a operações de longo prazo e a projetos que visam a construção de um futuro mais estável, onde o meio ambiente é preservado, aspectos sociais e de governança são considerados ao mesmo tempo em que a economia se desenvolve. 

O modelo tem um potencial de sinergia gigante com a filantropia. É o que pensa o co-diretor de conhecimento da Latimpacto, Samir Hamra. Para ele, os investidores cada vez mais têm olhado para esse contínuo de capital, não para se definir em uma caixinha específica, mas para ter seu portfólio alocado ao longo dessas diferentes maneiras de gerar impacto.

Thales Vieira, diretor-executivo do Observatório da Branquitude, aposta em três caminhos para as finanças sustentáveis no terceiro setor: a construção de organizações perenes; conectar as atividades fim das organizações com a sua institucionalidade; a conexão entre as próprias organizações. “Pensar finanças sustentáveis é uma forma de constituir rede de atuação, o que constrói um campo mais forte de enfrentamento às desigualdades.”

Thales faz ainda uma alerta para que a filantropia não entenda as organizações do terceiro setor como um grande bloco homogêneo. “Não se pode tratar uma organização negra, periférica, do mesmo modo que se trata uma organização branca. É um desafio grande colocar uma organização negra para funcionar. Desde transformá-la numa organização perene, até abrir uma conta no banco.”

Soluções comunitárias e de bioeconomia na Amazônia 

Por prezar pela redução de impactos ambientais negativos, iniciativas baseadas em finanças sustentáveis são parte fundamental da transição para uma economia de carbono zero. De modo que soluções comunitárias e de bioeconomia na Amazônia podem acelerar o processo.

Para Samir Hamra, não é possível pensar nessa transição liderada apenas pelos modelos tradicionais de finanças. “É preciso um olhar amplo para pensar o papel das organizações de base comunitária. E mesmo no envolvimento de grandes corporações, como elas podem reconhecer e remunerar de maneira justa os conhecimentos de populações tradicionais com base nos quais muitas vezes elas desenvolvem os seus produtos?”, questiona.

A Latimpacto iniciou recentemente o Programa ecossistêmico Pan-Amazônico, uma iniciativa de formação e imersão para investidores em mudança sistêmica e bioeconomia na PanAmazônia. De acordo com Samir, a iniciativa foi pensada porque muitos dos recursos direcionados à Amazônia vêm de investidores com as melhores intenções, mas não conhecem a região.

“Estão tentando tomar decisões de investimento usando as caixinhas da Faria Lima ou Wall Street. Isso não vai ser suficiente para fomentar o desenvolvimento das soluções locais de base comunitária.”

A última fase da iniciativa pede que os investidores desenvolvam protótipos de soluções financeiras inovadoras para os desafios que identificaram na região. 

Presidência brasileira do G20

Presidindo temporariamente pela primeira vez o G20 – grupo que reúne as principais economias do Mundo, o Brasil sediará entre os dias 18 e 19 de novembro de 2024 a Cúpula de Chefes de Governo e Estado, que acontecerá no Rio de Janeiro, com o slogan “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”. 

“O G20 é uma oportunidade de repensar um modelo de investimento social privado para construirmos o campo das finanças sustentáveis na medida em que vai se avançando no enfrentamento às desigualdades”, afirma Thales Vieira.

Para Samir Hamra, tanto o G20 quanto a COP 30 são importantes oportunidades de exposição internacional do que o Brasil já faz de interessante.

“Já temos muitas soluções interessantes sendo feitas, seja em termos de entrega de valor propriamente, de bioeconomia, mas também testando diferentes soluções financeiras.”

Além disso, ele acredita que é uma oportunidade para o Brasil se conectar com outras realidades. “A América Latina tem uma crise de identidade. Vários países da região preferem interagir com Europa, Estados Unidos, do que com o vizinho. Isso cria uma oportunidade de conexão e troca de conhecimento para a região.”


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