Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto impulsiona agenda de eventos correlacionados ao tema pelo país

Por: GIFE| Notícias| 08/10/2018

 

Em um mundo com desafios sociais e ambientais cada vez mais complexos, as soluções e os recursos de governos, empresas e organizações da sociedade civil têm sido insuficientes.

A crença de que é possível gerar transformações por meio de soluções que aliam impacto socioambiental a um modelo de negócios rentável tem mobilizado empreendedores, aceleradoras e incubadoras comprometidas em apoiar e qualificar esses negócios e investidores que estão redefinindo lucro e propósito em busca de maneiras mais efetivas de gerar impacto positivo na sociedade e no planeta.

O setor vem crescendo e ganhando relevância e visibilidade nos últimos anos e tem atraído cada vez mais a atenção do campo do Investimento Social Privado (ISP). Seja no apoio direto aos empreendedores, às organizações intermediárias (aceleradoras ou incubadoras) ou aos fundos de investimento de impacto, institutos e fundações empresariais têm apostado no modelo, ainda que de forma inicial e experimental, com o direcionamento de parte dos recursos filantrópicos para esse tipo de negócio. Uma das razões é a percepção de maior chance de perenidade dos projetos em face de um modelo que alia impacto a sustentabilidade financeira.

Atentos a esse cenário, Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Impact Hub e Vox Capital criaram o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto. Concebido em 2014 com a perspectiva de ampliar as fronteiras do tema e convergir novas perspectivas e diferentes agendas a fim de gerar um ecossistema mais resiliente e um impacto sistêmico, o evento chegou à sua terceira edição em junho deste ano. Trata-se de um grande encontro desse ecossistema, com espaço para conexão, aprendizagem e disseminação.

“O ICE vinha participando de alguns eventos internacionais e, com isso, percebemos a necessidade de criar um encontro brasileiro. Na primeira edição do Fórum, tivemos 650 inscritos e 25 palestrantes internacionais. Em 2018, tivemos seis palestrantes internacionais e 170 brasileiros. Isso mostra que o ecossistema de finanças sociais e negócios de impacto está crescendo e se fortalecendo com muita inovação local. Antes trazíamos pessoas de outros países para contarem suas experiências. Hoje nós é que estamos pautando e o conteúdo inovador acaba por atrair outros atores”, observa Célia Cruz, diretora executiva do ICE.

Panorama do setor

Existem mais de 800 negócios de impacto social no Brasil. Desses empreendimentos, 70% já estão formalizados e 79% já captam investimentos. Pouco mais de 1/3 ainda não teve faturamento no último ano, enquanto 5% já faturaram mais de R$ 1 milhão no mesmo período.

O setor tem movimentado cerca de US$ 60 bilhões em nível global e foi registrado um aumento de 7% ao ano, segundo a Ande Brasil (Aspen Network of Development Entrepreneurs), uma rede de empreendedores de países em desenvolvimento.

O Brasil é um dos primeiros países a implementar uma legislação sobre o tema. A Secretaria de Inovação e Novos Negócios do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços coordena a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO), em articulação com outros órgãos do governo, do setor privado, da comunidade científica e acadêmica e da sociedade civil.

Eventos regionais

Entendendo que o fortalecimento de um movimento nacional nesse sentido pressupõe também a criação de um calendário contínuo e descentralizado de eventos para disseminar o tema em todo o país, a edição 2018 do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto realizou uma chamada destinada a apoiar e impulsionar eventos com agendas correlacionadas ao tema ao longo do segundo semestre de 2018.

A iniciativa contemplou dez eventos nas cinco regiões brasileiras. São encontros, oficinas, seminários e outras atividades que receberam um apoio de R$ 10 mil para mobilizar empreendedores, investidores, acadêmicos e aceleradores de negócios. Além das dez propostas selecionadas, mais de trinta outras ações que acontecem entre os meses de julho e novembro foram mapeadas em dezoito estados e no Distrito Federal.

Na região Norte já aconteceram atividades em Belém (Pará) e Boa Vista (Roraima) promovidas por instituições de ensino e agências de inovação. Em novembro será a vez de Manaus (Amazonas) receber o evento “O Impacto das Organizações de Impacto”, que será promovido pelo Impact Hub Manaus.

No Nordeste, instituições de ensino, inovação e organizações da sociedade civil são responsáveis por um evento realizado em agosto, em Fortaleza (Ceará), e pelos próximos em Igarassu e Recife (Pernambuco), Maceió (Alagoas), Maraú (Bahia), Natal (Rio Grande do Norte) e São Luís (Maranhão).

Na região Centro-Oeste, houve programação em Cuiabá (Mato Grosso) e ainda haverá eventos nos meses de outubro e novembro em Brasília (Distrito Federal) e Anápolis (Goiás). A promoção é de incubadoras, centros de inovação, instituições de ensino, além do Impact Hub Brasília.

No Sul, as atividades mobilizam as cidades de Cascavel, Foz do Iguaçu, Maringá, Paranavaí e Curitiba (Paraná), Florianópolis e Joinville (Santa Catarina) e Duque de Caxias, Porto Alegre e São Leopoldo (Rio Grande do Sul). A promoção é de instituições de ensino e institutos como Legado, Semente, IEITEC, entre outras.

Por fim, na região Sudeste, a programação se estende por cidades como Belo Horizonte, Claro dos Poções, Montes Claros, Patos de Minas (Minas Gerais), Vitória (Espírito Santo), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Campinas, Jundiaí, Piracicaba e São Paulo (São Paulo). Os promotores das atividades incluem Sebrae, incubadoras, aceleradoras, organizações da sociedade civil e instituições de ensino.

Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto: edições regionais

Dois dos eventos apoiados pela chamada do ICE se configuram como edições regionais do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto.

A Impact Hub, o Instituto Sabin e a Anprotec promoveram no dia 2 de outubro a primeira edição regional em Brasília. Com o objetivo de fomentar, educar e ampliar a visão do empreendedorismo de finanças sociais e de impacto na região centro-oeste, o evento teve como tema “O alinhamento e engajamento da temática em todos os ecossistemas de Brasília”.

“A primeira edição do Fórum em Brasília foi espetacular. Primeiro porque mobilizou diferentes ‘tribos’ que até então não se encontravam na cidade – ONGs, empreendedores, institutos e fundações, governo, universidade. Segundo porque trouxe à cidade muito conteúdo e conexões de muita qualidade, pessoas chave no ecossistema de negócios de impacto de Brasília e de outras cidades do país em uma programação bastante densa e rica. Terceiro porque evidenciou que há espaço para prosseguirmos essa mobilização em Brasília, fortalecendo o ecossistema local de negócios de impacto”, conta Fabio Deboni, gerente executivo do Instituo Sabin.

Além da apresentação de iniciativas nacionais e estratégias para o avanço do setor, o evento contou com uma exposição de protótipos de negócios de impacto, bem como com rodas de conversas voltadas a empreendedores do Distrito Federal.

Para Deise Nicoletto, co-fundadora do Impact Hub Brasília, o evento contribui para consolidar e fomentar cada vez mais o ecossistema de impacto social no Distrito Federal e entorno. “A primeira edição do Fórum foi um sucesso e mostra a importância e relevância de falarmos deste assunto na capital do Brasil. Conseguimos reunir tantos agentes relevantes para discutir sobre negócios de impacto. Há muito a ser efeito e notamos cada vez mais a importância da ação coletiva para escalarmos o impacto.”

Baanko, 22Graus, HubSocial, ICE e NaAção, por sua vez, se reuniram para levar o evento para Belo Horizonte.

As atividades tiveram início no dia anterior à data oficial do evento, quando oito grupos temáticos realizaram dinâmicas e discussões sobre Educação, Saúde, Mudanças Climáticas, Mulheres e Minorias, Regeneração do Rio Doce, Inovação, Investimento de Impacto e Fundações e Institutos de Impacto (FIIMP). Os grupos tiveram a participação de nomes importantes de cada área e os resultados foram levados para debate no Fórum com o intuito de apontar soluções e novas perspectivas de modelos de negócios.

Interior de São Paulo

Outro destaque é o Fórum InovaSocioAmbiental, que será realizado no dia 25/10, em Campinas (SP), na programação do InovaCampinas, maior evento de empreendedorismo e inovação da região.

Uma realização da Phomenta e da Rede de Investidores Sociais (RIS) do Interior Paulista – uma das Redes Temáticas (RTs) do GIFE -, o evento contará com palestrantes de referência no tema e com a apresentação de práticas inovadoras, cases de sucesso e, principalmente, exemplos reais de negócios com retorno financeiro e impacto socioambiental positivo. O principal objetivo é difundir os conceitos de Negócios Socioambientais e Investimento de Impacto e fortalecer esse ecossistema no interior do estado de São Paulo.

“Desde o início do semestre estamos trabalhando num comitê organizador voluntário para que o InovaSocioAmbiental seja uma oportunidade para que o tema dos Negócios Sociais e Investimento de Impacto seja difundido na região. Um grande diferencial do evento é que ele acontecerá dentro do InovaCampinas, maior evento de inovação do Interior e que conta com um público de até dez mil pessoas”, comemora Camila Figueiredo, da Fundação Educar Dpaschoal, uma das coordenadoras da RIS.

Curitiba

Em novembro é a vez de Curitiba (PR). De 5 a 9 de novembro, a cidade sediará a primeira edição do Festival de Impacto. O evento reunirá empresários, consultores, investidores, empreendedores, estudantes, professores, agentes públicos e executivos com o objetivo de explorar as oportunidades envolvendo negócios e finanças de impacto.

A iniciativa foi idealizada pelo Instituto Legado e pelo Projeto Libria sendo fruto da união do ecossistema de empreendedorismo de Curitiba, da Rede Dinheiro e Consciência e da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto.

Serão cinco dias de evento e nove palestrantes. A expectativa é que 500 pessoas passem pelo Festival.

Para Rachel de Oliveira, do Instituto Legado, essa é uma evolução natural do mercado, que hoje inicia um processo de rejeição dos negócios incapazes de perceber a sua responsabilidade com o entorno e de premiar aqueles que constroem um ambiente mais sadio. Trata-se de uma tendência cada vez mais recorrente em todos os setores, inclusive no mercado financeiro e no mercado de capitais.

“Nesse momento de tanta instabilidade, polarização e desesperança, o Festival de Impacto surge como um bálsamo, um oásis de esperança num futuro não tão distante. Com esse festival pretendemos comunicar, refletir, inspirar e convocar os diversos atores a olharem para os desafios e oportunidades envolvendo o desenvolvimento de negócios que transcendem a busca do lucro e que se ocupam de forma central com o seu impacto social e ambiental.”

Fortaleza

Com a intenção de inserir essa agenda no estado do Ceará, a In3citi, junto a uma rede de parceiros, realizou, no dia 04/10, o 1º Fórum de Investimento Privado em Negócios de Impacto, em Fortaleza.

Erika Sanchez Saez, gerente de programas do GIFE, um dos parceiros da iniciativa, foi uma das integrantes do painel “O novo papel das empresas na sociedade”, cujo objetivo foi promover uma reflexão junto aos empresários e empreendedores centrada em dois eixos: o desafio do setor privado de transformar seus interesses para fins também públicos e o papel das empresas na mobilização da agenda global para o desenvolvimento sustentável.

“Esse foi um dos primeiros eventos em Fortaleza sobre investimento social privado e negócios de impacto social. O tema dialogou muito bem com o universo empresarial, do investimento familiar e com o poder público”, observa mencionando a participação do prefeito de Fortaleza no fechamento do evento compartilhando iniciativas que estão sendo promovidas para estímulo ao empreendedorismo como políticas de microcrédito para empreendedores de baixa renda, por exemplo.

Erika chama atenção para a distância entre as realidades de cada região. A realidade de outros estados é muito diferente de Rio e São Paulo. O tema é ainda bastante novo quando a gente sai do Sudeste.”

FIIMP

No âmbito do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018 aconteceu a Roda de Conversa FIIMP. Criado em 2016 com o intuito de aprender, acompanhar e conhecer os resultados de investimentos em negócios de impacto, o FIIMP (Fundações e Institutos de Impacto) reúne 22 fundações e institutos familiares, empresariais e independentes, entre os quais diversos associados ao GIFE. Cada investidor aportou 10 mil dólares para iniciar as atividades do FIIMP em 2017.

“Somos uma rede de aprendizagem. Foram muitas trocas durante quase dois anos e temos um potencial incrível para ampliar a escala,” avaliou Márcia Soares, analista de meio ambiente no Fundo Vale, durante o evento.

As dúvidas que motivaram o nascimento do FIIMP, a trajetória de discussões e aprendizados do grupo e toda a formulação de conceitos decorrente foram sistematizadas no Guia FIIMP – Nossa jornada de aprendizado em Finanças Sociais e Negócios de Impacto para institutos e fundações que desejam apoiar e investir nesse novo ecossistema.

Na publicação, lançada na ocasião da Roda de Conversa FIIMP, é possível conhecer toda a jornada do grupo e também se aprofundar com os materiais de apoio disponibilizados ao longo do texto. Além disso, há indicações de leitura prática sobre como fundações e institutos podem efetivar investimentos de impacto. O material está disponível para download gratuito na biblioteca virtual do GIFE.

Durante a Roda de Conversa FIIMP, Fillipe Barros, analista de gestão de programas do Instituto Votorantim, anunciou a atuação do grupo para 2019 e 2020. “Essa governança coletiva do FIIMP construiu um desejo de não pararmos por aí. Estamos estruturando o FIIMP 2 e convocamos instituições que queiram construir conosco o modelo dessa segunda rodada.”


Apoio institucional