GIFE mobiliza delegação latino-americana para a 14ª conferência da European Venture Philanthropy Association

Por: GIFE| Notícias| 10/12/2018

De 28 a 30 de novembro, o GIFE participou da 14a conferência anual da European Venture Philanthropy Association (EVPA), realizada em Varsóvia, na Polônia. Reconhecido como o maior evento de Venture Philanthopy no campo da filantropia, a conferência tem reunido diferentes atores do setor a fim de promover uma maior cooperação para a resolução dos desafios socioambientais do planeta.

A programação do evento, este ano intitulado “Novas Fronteiras para o Impacto”, foi desenhada de forma segmentada em três níveis: exploradores (sessões para pessoas novas no setor ou para um tópico específico), especialistas (sessões para profissionais experientes para debater questões específicas) e co-criadores (sessões de trabalho interativas para a troca de conhecimentos e co-criação).

O GIFE promoveu a ida de uma delegação latino-americana composta por 20 representantes de instituições do Brasil, Peru, Chile, México e Colômbia.

O conceito de Venture Philanthropy

O dia 28 foi dedicado a uma programação prévia à conferência. Um curso introdutório sobre Venture Philanthropy (VP) foi oferecido aos participantes da América Latina e da África como forma de balizar a compreensão acerca do conceito. Ao longo de 2018, a EVPA visitou mais de 300 organizações na América Latina, com o objetivo de introduzir a ideia de VP.

O modelo se baseia no tripé “impact management, tailored finance e non-financial support”, que pressupõe mensuração do impacto dos resultados, compreensão do tipo de financiamento necessário e suporte além do financeiro por meio de processos de mentoria.

“No Brasil, fazemos isso em algumas iniciativas pontuais, mas não de forma completa. Várias instituições realizam o monitoramento do seu impacto, oferecem mentoria e tem também um pouco dessa inversão híbrida de capital que é uma decisão de cada investidor social. Talvez a gente não tenha esse processo global, com essas três etapas interligadas, que é o passo que o modelo da Venture Philanthropy dá”, observa Camila Aloi, assessora de relacionamento do GIFE.

No dia 28 à tarde, os participantes trocaram conhecimentos com representantes de organizações financiadoras e apoiadas que compartilharam suas experiências de parcerias no modelo da VP.

Para Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, um dos integrantes da delegação latino-americana, participar da 14ª conferência da EVPA foi uma oportunidade de mergulhar no tema e perceber boas oportunidades de inovação na forma de fazer filantropia na América Latina. “Há bastante espaço para que institutos e fundações, cada vez mais, hajam de forma coordenada, ajustadas às necessidades das instituições apoiadas, por mais tempo e com foco no maior impacto possível. A forte presença de instituições brasileiras na delegação da América Latina demonstra o potencial que temos de contribuir para que essa temática seja, cada vez mais, discutida em nosso continente.”

Colaboração

Camila explica que o modelo da VP não se traduz no aporte ao projeto unicamente, mas em um aporte estrutural, de longo prazo e que significa risco por parte do investidor, já que os projetos podem estar em uma fase inicial.

A medição do impacto dos resultados é feita de forma quantitativa e qualitativa e é construída junto à organização parceira. “Não é uma carta pronta, mas um processo feito em colaboração com a organização apoiada, que diz quais são os valores que devem ser monitorados”, explica a assessora.

Vista como um dos grandes desafios pelo setor da filantropia, a construção de confiança é uma premissa do modelo e se baseia em seus pilares colaborativos que se traduzem nas mentorias, no monitoramento e na escolha do tipo de financiamento, todos feitos com a participação da organização apoiada. “É a ideia de quanto VP pode ser a possibilidade de um olhar mais direcionado para as necessidades da organização de base pensando em seu desenvolvimento de forma institucional. Um movimento de encurtar a distância entre financiador e beneficiário, favorecendo a troca de aprendizados a partir de uma escuta mais profunda de seus atores, trocando expertises que empoderem a organização social a se tornar mais autônoma. ”

Um dos integrantes da delegação latino-americana, Leonardo Letelier, CEO e fundador da SITAWI, participou pela primeira vez da conferência da EVPA. “O ‘centro de gravidade’ da Venture Philanthropy tem um componente relevante de filantropia e foco maior no impacto com uma diferença de paradigma crucial, que nem sempre é explicitada: Venture Philanthropy começa com as necessidades da organização apoiada e não com o que o doador pode oferecer”, explica.

Para Márcia Soares, gestora de parcerias e redes do Fundo Vale, apesar de ainda pouco conhecido no Brasil, o modelo da VP se aproxima de algumas experiências brasileiras tais como mecanismos financeiros para negócios socioambientais e avaliação de impacto. “O evento nos permitiu refletir sobre os rumos da filantropia no Brasil. No fundo, o que todos buscam é aumentar o impacto social ou ambiental de suas ações, com ganho de escala e perenidade das iniciativas. Buscamos uma filantropia sustentável.”

Solução global

Atualmente, apenas 2% dos investimentos europeus de filantropia são alocados para as regiões central e oriental da Europa, enquanto 67% vão para a Europa ocidental. Entre os demais continentes, a filantropia e os investidores de impacto aportam 14% dos recursos na África, 6% na Ásia, 1% na América do Norte e 10% na América Latina.

Com 300 membros ao redor do mundo, a EVPA espera aumentar os recursos e trazer novos atores para o setor por acreditar que quanto mais global esse ecossistema, mais próximo o mundo estará da resolução de seus problemas mais complexos.

Para Fábio Deboni, gerente executivo do Instituto Sabin, participar da conferência foi uma experiência muito importante porque reforça a ampliação das fronteiras entre as diferentes ‘caixinhas’ que já atuam com impacto socioambiental, reforçando o papel de institutos e fundações nessa jornada. “A Venture Philanthropy é um convite a ampliarmos nossa forma de atuar, incorporando novas atitudes e práticas. Mais que um novo conceito da moda, é uma provocação a novos modelos mentais.”

Trabalho em rede

No segundo dia de conferência, os membros da delegação latino-americana tiveram a oportunidade de se reunir para trocar experiências e pensar caminhos de maior integração.

Para Camila, é necessário incentivar uma filantropia mais estratégica, com mais processos de coinvestimento e de cocriação junto às organizações da sociedade civil.

“Para mim está claro que o nosso maior desafio é ganhar escala e para construir esse ecossistema mais fortalecido precisamos potencializar o trabalho em rede. Precisamos trocar as boas e as más experiências, conseguir falar também dos nossos erros para que a gente possa aprender uns com os outros e encurtar esse processo de tomada de decisão. Pensando principalmente na rede latino-americana, é importante a gente tecer uma rede mais sólida para que possamos nos fortalecer a partir da experiência acumulada. Talvez tenhamos que construir menos redes e mais comunidades. A beleza da comunidade é que você se sente parte dela e, uma vez que eu sou parte, eu vou cuidar.”

“Há muita coisa inovadora e criativa no Brasil e na América Latina, ainda que a gente padeça do desafio de atuar de forma mais colaborativa e menos apegada às nossas agendas institucionais”, observa Fábio Deboni.

Carina Pimenta, diretora de operações do Conexsus Instituto Conexões Sustentáveis, acredita que as propostas por trás das premissas da VP sintetizam grandes desafios para o contexto brasileiro do investimento social privado. “Significa um diálogo muito maior e bem estratégico com nosso portfólio de parceiros e um perfil diferenciado de acompanhamento. Acho que o GIFE sendo esse espaço que agrega um grupo bem diverso de instituições é essencial para a formatação dessa discussão. E a abertura para o diálogo por parte das organizações da sociedade civil, que são as receptoras dos recursos, as parceiras na prática, é essencial para que entendam os conceitos, pratiquem junto, significa para elas também uma mudança de paradigma bastante necessária.”

 


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