Intolerância política: o impacto na atuação das OSCs e o papel do ISP na restauração da democracia

Por: GIFE| Notícias| 26/09/2022
intolerância política

Crédito: Agência Brasil

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 25% da população brasileira pode ser considerada intolerante politicamente; 73% dizem que não costumam ter uma conversa construtiva no Brasil; e 38% preferem nunca expor suas opiniões numa conversa sobre política. Em paralelo, o medo da violência política atinge 67% da população, de acordo com o Panorama Brasileiro Pré-Eleições de 2022, realizado pelo Datafolha. Para entender os fatores que levaram a esse quadro e qual o papel do Investimento Social Privado (ISP) nesta conjuntura, o GIFE conversou com José Moroni, integrante do colegiado de gestão do Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos e membro da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

GIFE: Quais os principais fatores responsáveis para esse cenário?

José Moroni: Há décadas existe uma sistemática ação de deslegitimar tudo que é ação pública, que na verdade é política. Desde o impeachment, a aceleração do descrédito dos canais de construção de representação se acentuou, desembocando em 2018 na eleição de um governo fascista. Levando isso ao extremo, é um governo que propaga a violência não só no discurso, mas cria instrumentos para execução dessa violência, como a liberação das armas.

GIFE: Como a intolerância política pode impactar a atuação das organizações da sociedade civil?

José Moroni: Muitas atividades realizadas em praça pública ou mesmo em locais fechados demandam uma preocupação com segurança que não se tinha há cinco anos. Uma sociedade impactada pela violência política se organiza com estratégias diferentes, ou seja, é mais difícil que organizações estejam dispostas a estar em espaços de participação institucionalizada, como conselhos e representações, fazendo o embate necessário para o desenho das políticas públicas e gerando não renovação. Nossa democracia é branca, masculina, proprietária, cristã, hétero, e em função da violência política, fica cada vez mais com essa cara. 

José Moroni, integrante do colegiado de gestão do Inesc

GIFE: Tanto o sistema democrático como o sistema eleitoral do Brasil têm sido alvos de ataques. Como re-consolidar o regime democrático para pensar o país futuramente, e como o Investimento Social Privado (ISP) pode contribuir no processo de restauração do equilíbrio das instituições?

José Moroni: Há um ataque para desacreditar não o sistema eleitoral, mas o processo eleitoral como um todo, para ter perspectiva de golpe. O ISP tem papel fundamental através das suas fundações ajudando financeiramente e com seu poder político, apoiando organizações que fazem o debate da construção de uma democracia para todos e todas. Todavia, se o ISP apoiar organizações ou colocar seu capital social, político e econômico a serviço da estrutura que temos hoje, vai reproduzir as desigualdades que queremos enfrentar.


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