Violência contra a mulher aumenta durante isolamento social na pandemia do coronavírus

Por: GIFE| Notícias| 13/04/2020

A maior proximidade e o convívio obrigatório entre famílias e casais em razão de medidas como quarentena e distanciamento social para conter a rápida disseminação do novo coronavírus têm consequências diferentes para homens e mulheres. Na Colômbia, que conta com mais de 2.700 casos confirmados e 109 mortes pela doença, entre 20 de março e 4 de abril, 12 mulheres foram assassinadas, de acordo com dados do El País Brasil, ao passo que houve aumento de 79% por pedidos de ajuda no período. 

No Brasil, de acordo com Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, houve um aumento de 9% no volume de denúncias na semana de 23 de março, segundo dados do Ligue 180. Para reforçar o alerta sobre a necessidade de proteger meninas e mulheres durante a pandemia da COVID-19, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) publicou o documento COVID-19 – Um olhar para gênero: Proteção da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos e Promoção da Igualdade de Gênero

Entre as principais mensagens está o fato de que, em tempos de crise, “mulheres e meninas podem estar em maior risco de violência por parceiro íntimo e outras formas de violência doméstica devido ao aumento das tensões na família”. “Como os sistemas que protegem mulheres e meninas, incluindo estruturas comunitárias, podem enfraquecer ou quebrar, medidas específicas devem ser implementadas para proteger mulheres e meninas do risco de violência por parceiro íntimo com a dinâmica de risco imposta pelo COVID-19”, aponta o documento.

A Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que as mulheres representam 70% da força de trabalho em serviços social e de saúde ao redor do mundo. Por isso, é necessário pensá-las como profissionais de saúde na linha de frente e considerar os riscos de discriminação aos quais estão expostas. 

Além disso, em tempos de pandemia, existe a possibilidade de desvio de recursos de outras áreas, como os destinados a saúde sexual e reprodutiva, para dar conta de conter o avanço da doença. Isso, segundo o relatório, pode contribuir para o aumento da mortalidade materna e neonatal, assim como para um aumento na necessidade não atendida de contracepção e aumento do número de abortos inseguros e de infecções sexualmente transmitidas.

Para Mafoane Odara, gerente do Instituto Avon, o aumento da violência já era esperado, uma vez que foi observado em países onde a epidemia chegou primeiro, como China e Itália. Para ela, a permanência obrigatória em casa, considerando o cancelamento de aulas em escolas e universidades e a necessidade de mais atenção aos filhos, o aumento das tarefas domésticas – e sua distribuição desigual entre homens e mulheres – e o medo de um vírus ainda pouco conhecido e pesquisado acabam por aumentar as tensões. 

“Uma casa onde o diálogo não é tido como forma de solução de problemas, junto ao contexto como o que estamos enfrentando, contribui para que eventos de violência, e não apenas física, se intensifiquem. Por isso, esse momento exige um olhar redobrado a essas mulheres que estão isoladas em casa com seu agressor. É preciso agir com rapidez, iniciativa privada, governo e sociedade civil para que os impactos sejam mitigados e as vidas de mulheres e crianças sejam protegidas”, explica a gerente. 

Carmen Silva, da SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia, ratifica ao afirmar que todos esses fatores, aliados ao aumento de estresse e “ao fato de a maioria dos homens não se submeter a ficar retidos em casa por puro machismo, pioram ainda mais a vida das mulheres na quarentena”. 

Dever de todos 

Justamente pelo fato de proteger meninas e mulheres ser um dever de toda a sociedade, o Instituto Avon lançou a campanha #IsoladasSimSozinhasNão. A iniciativa, endossada por todos os países da América Latina onde o Grupo Natura opera (do qual a Avon faz parte), tem como objetivo mobilizar a sociedade para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres, meninas e crianças e ampliar a mensagem de prevenção. Quem não sabe ou deseja aprender mais sobre o que fazer diante de uma situação de violência, deve acessar as páginas do Instituto nas redes sociais (Facebook e Instagram). 

Além disso, Mafoane ressalta que o Instituto tem articulado empresas públicas e privadas, organizações da sociedade civil (OSCs) e órgãos públicos no Brasil para apoiar as mulheres durante a crise, oferecendo alimentação, apoio psicológico e jurídico, abrigo e outras medidas. 

A SOS Corpo, por sua vez, está apoiando redes de solidariedade entre mulheres que têm sido organizadas por movimentos feministas populares dos quais a organização participa, como o Fórum de Mulheres de Pernambuco, ligado nacionalmente à Articulação de Mulheres Brasileiras. 

Além disso, Carmen reforça que o envolvimento com a causa pode partir de qualquer um por meio do apoio a OSCs que trabalham pela justiça e igualdade. “Devemos apoiar os movimentos feministas e seguir denunciando e exigindo do Estado que amplie os serviços de atendimento que, antes de tudo isso, já eram bastante precários.” 

Papel do Investimento Social Privado 

Um dos oito temas da série O que o Investimento Social Privado pode fazer por…? é Direitos das Mulheres. Essa é uma das agendas onde a atuação do ISP ainda é considerada insuficiente para responder aos desafios da área. Para Mafoane, o momento exige a necessidade de redobrar esforços e investimentos para mitigar o máximo possível o crescimento da violência e o impacto na vida e bem-estar de todas as meninas e mulheres que podem estar em situação de maior vulnerabilidade. 

“Pode ser difícil que uma empresa destine esforços sozinha para esse enfrentamento e, por isso, é fundamental encontrar parceiros que estejam dispostos a unir forças e possam contribuir para o momento. É necessário agir em sinergia com outras empresas, parceiros e governos, seja com ações de conscientização, apoio, suporte financeiro, psicológico ou judiciário às mulheres vítimas de violência”, diz. 

O cuidado e atenção, segundo a gerente, deve estender-se às funcionárias das empresas e às meninas e mulheres que residem nas comunidades onde os negócios estão inseridos. 

Uma das ações que incentivam maior atuação do setor privado no tema é a Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas. Idealizada pelo Instituto Avon e pela Avon, a iniciativa tem como objetivo engajar líderes do setor privado e garantir o compromisso voluntário com o fim da violência contra mulheres e meninas. “Nesse momento, é ainda mais fundamental a união de forças de empresas privadas para o desenvolvimento de ações, de forma que as mulheres não se sintam ainda mais desamparadas e sozinhas durante o isolamento. Hoje, a Coalizão conta com 100 empresas signatárias do Brasil todo. E estamos, juntos, estudando ações que precisam ser tomadas com urgência diante do cenário.”


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