Rede Temática de Gestão Institucional discute modelos e práticas de governança
Por: GIFE| Notícias| 05/12/2016A governança – questão fundamental para a legitimidade e perenidade das organizações e uma das principais agendas estratégicas do GIFE – foi o tema central do segundo encontro promovido pela Rede Temática de Gestão Institucional, realizado no dia 01 de dezembro, em São Paulo.
Marisa Ohashi, gerente de Planejamento e Operações do GIFE, abriu o encontro apresentando um histórico da iniciativa e destacou que a RT surgiu para formalizar os encontros que já aconteciam esporadicamente entre um pequeno grupo de associados, especialmente em 2015. Segundo a gerente, o grupo sentiu a necessidade de avançar no diálogo e engajar mais atores do campo neste debate, trazendo um novo rumo para os encontros.
Tendo isso em vista, a Rede tem como proposta abrir espaço para trocas de experiências e conhecimentos sobre o cotidiano, os aprendizados e os desafios diários enfrentados pelos gestores administrativos-financeiros, de pessoas, de operações, entre outros responsáveis por atividades transversais que envolvem a gestão institucional das organizações.
Neste encontro, as organizações presentes puderam conhecer os primeiros resultados extraídos do preenchimento dos Indicadores GIFE de Governança, por associados e outras organizações da sociedade civil, com reflexões sobre as práticas adotadas. O Instituto Natura também compartilhou alguns aspectos da sua governança considerando os Indicadores GIFE.
Governança em destaque
Iara Rolnik, gerente de Conhecimento do GIFE, lembrou que a questão da governança é um conceito que surge do âmbito corporativo, ou seja, nasce para minimizar ou superar os conflitos de interesse que decorrem da separação entre o proprietário e os executivos da empresa. Nas organizações da sociedade civil, a ideia de criar estruturas de governança vem com o objetivo de minimizar ou superar os conflitos de interesse entre o controle e gestão, ou seja, entre o fundador (fundadores/mantenedor/mantenedores) e o gestor.
“No nosso setor, a principal razão para criar mecanismos de gestão é justamente para manter o foco no interesse público do trabalho”, ressaltou.
Assim, a governança nas organizações da sociedade civil é entendida como o sistema que determina a forma de operação, o papel e o impacto social de uma entidade e resulta de um sistema de relacionamento entre diversos grupos, internos e externos à organização, direta ou indiretamente relacionados – beneficiários, o conselho, a diretoria, os fundadores, a sociedade, o Estado, outras organizações sociais etc. –, levando-se em consideração os diferentes graus de responsabilidade, autoridade e influência de cada um destes stakeholders.
A criação dos Indicadores GIFE de Governança – ferramenta lançada este ano durante o Congresso GIFE – visa justamente trazer aspectos mais práticos para essa discussão dentro das organizações. Eles são um instrumento de autoavaliação online (clique aqui para preencher) sobre o estado da arte da governança nas organizações, que tem como objetivo criar as bases para um futuro mecanismo de autorregulação do setor.
Não se trata, porém, de um processo de certificação ou selo de qualidade de organizações da sociedade civil e nem visa estabelecer um ranking das melhores organizações, mesmo porque todas as informações dos respondentes não são divulgadas.
Segundo Iara, uma das principais motivações para o preenchimento dos indicadores – feito de forma livre por qualquer organização do terceiro setor interessada – é que se trata de um processo que leva as entidades à reflexão sobre seus próprios mecanismos de governança. “Com isso, pretendemos melhorar as práticas de governança do setor como um todo e, assim, fortalecer a legitimidade das organizações”, enfatizou.
Os indicadores foram construídos tendo como base uma ampla pesquisa bibliográfica e referências de outras experiências de indicadores no mundo, e foram validados junto à especialistas da área. Eles contemplam 10 princípios que devem guiar o trabalho de reflexão sobre governança nas organizações: autorregulação; sentido público da ação; coerência de valor; legitimidade; transparência e abertura; equidade e diversidade; accountability; dinamismo e a desburocratização; horizontalidade; e governança como sistema.
Os indicadores contam com cinco eixos – Conselho deliberativo; Controle e supervisão financeiros e econômicos; Estratégia e gestão; Políticas institucionais; Transparência e relação com partes interessadas – sendo que, para cada um deles, há diversos componentes. Ao preencherem cada um dos eixos, as organizações recebem uma nota por eixo do questionário.
A partir dos dados preenchidos nos indicadores por 26 associados e 47 organizações diversas, o GIFE preparou um relatório a respeito do panorama de governança.
Segundo Iara, uma leitura geral dos resultados apontou que as organizações cumprem mais as questões do eixo de Controle e supervisão financeiros e econômicos (82%) e menos em Políticas institucionais (40%) – tais como código de ética e política de conflito de interesses –, ainda menos presentes na cultura das organizações.
O relatório detalha também as questões específicas de cada eixo trazendo uma leitura de cada indicador e a comparação entre associados e outras organizações que preencheram o questionário. A ideia, segundo a gerente de Conhecimento do GIFE, é, que a partir da ampla utilização da plataforma pelas organizações, possa ser possível analisar o panorama e a evolução da governança no campo, com a produção de relatórios semestrais públicos. O primeiro relatório completo vai ser divulgado até o final do ano. Em termos de aprimoramento da ferramenta, o GIFE pretende incorporar outros aspectos relevantes aos indicadores iniciais, ampliando e diversificando níveis de exigência, além de trabalhar especificidades das organizações. Além disso, em breve, será lançada uma nova funcionalidade na ferramenta online que permitirá que, ao responder, a organização possa receber uma nota comparativa frente aos demais respondentes.
Experiência prática
Na segunda parte do encontro, Rodolfo Simões, coordenador Financeiro e Administrativo do Instituto Natura, e Marina Reato, coordenadora de PMO, apresentaram casos práticos da governança da organização com base nos eixos estruturados pelos Indicadores GIFE.
Segundo Rodolfo, para o Instituto, a questão de governança está extremamente relacionada ao eixo de “Estratégia e gestão” dos indicadores. Hoje há no Instituto, por exemplo, rituais de governança que seguem uma lógica de escalada de informação, ou seja, os alinhamentos são realizados dos níveis operacionais para os estratégicos. Todos os projetos têm indicadores definidos e os que não são passíveis de mensuração, estão sendo objeto de reflexão. Cada projeto tem metas individuais assim como cada membro da equipe.
Marina acredita que, entre os pontos fortes deste eixo, estão aspectos como o fato do planejamento estratégico ser aprovado e acompanhado pelo Conselho Deliberativo, assim como a determinação do diretor presidente não fazer parte do Conselho, possuindo funções distintas e bem claras e o Instituto ter uma política de remuneração bem definida.
Já em relação ao eixo “Conselho deliberativo”, o Instituto conta com a presença de conselheiros externos também, o que garante a diversidade de opiniões e pontos de vistas nos momentos de tomada de decisão, e tem uma diversidade de perfis e conhecimentos entre seus integrantes, o que promove uma certa pluralidade em suas discussões.
Entre os desafios apresentados a partir da reflexão sobre Indicadores GIFE, foi possível identificar que: o conselho do Instituto não conta com a presença de mulheres; não existem regras definidas para a escolha de conselheiros independentes e não existe um processo instituído de avaliação dos conselheiros.
Em relação a este item, inclusive, trata-se de um desafio apontado por praticamente todas as organizações participantes, tendo em vista o fato de não existirem no país muitas referências sobre este tipo de avaliação. Sobre este e outros pontos dos eixos dos Indicadores, O GIFE pretende trazer referências de caminhos e pesquisas como forma de aprimoramento da ferramenta em 2017.
O coordenador da Natura destacou que o processo de preenchimento dos indicadores foi muito enriquecedor, pois permitiu uma reflexão interna da equipe sobre temas importantes, como a questão de gênero no conselho e a importância do conselho ser independente, aspectos fundamentais para a perenidade para a organização. “É essencial que possamos pensar e já propor algumas ações frente a possíveis situações antes delas acontecerem. É importante termos essa clareza antecipadamente”, comentou.
Regina Stella Schwandner, diretora do Instituto Criança é Vida, comentou também que a instituição está neste momento justamente discutindo processos de governança e que os Indicadores GIFE são um importante norte para os debates com os conselheiros. O mesmo foi feito no momento de adesão ao Painel GIFE de Transparência cujos resultados foram muito positivos.
Próximos passos
A gerente de Planejamento e Operações do GIFE destaca que o nível das discussões estabelecidas pelas organizações participantes neste ano de 2016 na Rede Temática apontam a importância deste como um espaço legítimo para fortalecer ainda mais a prática dos profissionais do campo.
“O GIFE acredita muito no potencial da Rede Temática, pois é um espaço em que podemos expor a nossa prática e receber sugestões, assim como conhecer a dos outros. É bem rico este processo, pois os desafios são, muitas vezes, iguais e é muito bom conhecer de que forma outras instituições estão lidando com isso”, comentou também Marina Reato, coordenadora do Instituto Natura.
O grupo definiu que o terceiro encontro da Rede Temática será realizado em fevereiro de 2017, tendo como tema central a questão do planejamento estratégico e gestão de metas.
Clique aqui e preencha os Indicadores de Governança: