O lugar do Brasil no enfrentamento à emergência climática

Por: GIFE| GIFEnaCOP| 14/11/2022
emergência climática

Colniza, MT, Brasil: Crianças da comunidade de ribeirinhos de São Lourenço (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

“O Brasil de fato perdeu credibilidade, e as razões para isso têm a ver, primeiro, com transparência. No momento em que o país tinha que aumentar a ambição da sua meta, a primeira coisa que fez foi esconder todas as informações possíveis que nos permitiriam, como brasileiros, ou para a comunidade internacional, entender qual é o compromisso de curto prazo”, explica Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. 

Um estudo inédito realizado por 30 cientistas brasileiros, em fase de revisão por outros cientistas, demonstra que os recordes de desmatamento e queimadas no Brasil entre 2019 e 2020 causaram aumento de 89% das emissões de gás carbônico em 2019 e de 120% em 2020.

Natalie ainda explica que essa falta de transparência brasileira acarretou em um outro problema, chamado falta de integridade climática. “Um princípio das negociações que quer dizer que não basta colocar uma proposta na COP, ela precisa, de fato, ser algo que não vá piorar o sistema, gerar outros problemas. E tem uma terceira coisa, que são os resultados muito ruins de políticas públicas no Brasil.”

Para o professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do IEE/USP, Ricardo Abramovay, “o desmatamento paralisa a nossa discussão, deixamos de debater agricultura sustentável, mobilidade sustentável”. E completa: “somos especialistas em transformar o atraso e a destruição em vantagem concorrencial. Isso se exprime nos processos de inovação tecnológica, na relação que temos com a natureza e com o mundo do trabalho.”

Na COP 26, realizada em 2021, houve um reconhecimento da importância de travar e reverter a perda florestal para o combate à questão climática. No Brasil, as taxas de desmatamento atingiram recordes históricos nos primeiros nove meses de 2022.

“Este ano foi ainda mais dramático para a política climática do Brasil, principalmente porque não vemos nem credibilidade política, nem ambição, nem capacidade de implementar os compromissos já estabelecidos. Por outro lado, todo este cenário resultou numa forte articulação e mobilização da sociedade civil brasileira, que na COP 26 fez a diferença e que pretende manter este espaço conquistado. Para recuperarmos a vanguarda nas questões do clima, é importante que a unidade destas mobilizações não se enfraqueça, mas sem dúvida é preciso vontade política. Nada substitui o papel do Estado”, analisa Renata Piazzon, diretora executiva do Instituto Arapyaú.

Ela destaca os dados do estudo “Oportunidades Financeiras para o Brasil com a Redução do Desmatamento na Amazônia”, realizado pela Iniciativa Amazônia 2030, que apontam que eliminar o desmatamento – legal e ilegal – na Amazônia, em dez anos, poderia gerar receitas da ordem de, pelo menos, US$ 18.3 bilhões por meio de mercados de carbono voluntários e regulados. E que a restauração florestal é capaz de conciliar objetivos ecológicos e econômicos com a aplicação de práticas sustentáveis.   

“Essas atividades não serão desenvolvidas espontaneamente e requerem serviços de apoio, ou seja, desenvolver mercados para novas tecnologias e serviços voltados aos produtos florestais e agrícolas. Estima-se que o esforço de recuperação de vegetação nativa em larga escala seja capaz de gerar algo entre 112 e 191 mil empregos diretos todos os anos no país, sobretudo em atividades de plantio. Nosso país possui vantagem competitiva no fornecimento de créditos de carbono florestais de alta qualidade, mas faltam políticas públicas que nos levem para este caminho.”

Os diferentes Brasis na COP 27

Dois Brasis estão presentes na COP 27: o oficial, do governo federal; e que é levado pelas organizações da sociedade civil e pelo governo de transição. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, estará presente na Conferência do Clima de Sharm El-Sheikh, no Egito, buscando acelerar o resgate da imagem desgastada do país na área ambiental. 

O Brasil tem três estandes na COP: o oficial do governo brasileiro, com cerca de 300 m², e o da sociedade civil, chamado de Brazil Climate Action Hub, com 150 m², que reúne movimentos socioambientais, setor privado, público, governos subnacionais, academia, e onde temos a contemporaneidade do debate e o engajamento dessa vanguarda nas questões de clima e meio ambiente; e o dos governadores da Amazônia, com 120 m²; que querem contar sua própria história para a comunidade internacional.

Segundo Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), “com a vitória do Lula nas eleições, o Brasil também chega nessa COP com a bandeira da esperança, de que o país sinalize para o mundo que estará de volta ao enfrentamento das mudanças climáticas de uma forma muito mais incisiva, como aconteceu no passado.”

Filantropia brasileira pelo clima

Desde 2019 o iCS, juntamente com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Instituto ClimaInfo, com o apoio de várias organizações e movimentos da sociedade brasileira, promovem, nas COPs de Clima, o espaço Brazil Climate Action Hub

O espaço foi criado para dar visibilidade à ação climática brasileira na COP 25, em Madri, tornando-se referência do Brasil e sediando mais de 50 eventos ao longo de duas semanas de conferência, com apresentação de estudos, iniciativas, soluções e experiências desenvolvidas pela sociedade brasileira. 

Para a COP 27, a intenção é expandir horizontes e buscar sinergias com outros países do Sul Global, discutindo a capacidade do Brasil de liderar a transição climática e justa e como dar escala a soluções para a crise climática a partir de uma agenda diversa de atividades e debates


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