“Os recursos do investimento social privado não estão crescendo proporcionalmente às nossas demandas sociais”, afirma Beatriz Johannpeter
Por: GIFE| Notícias| 04/11/2024No Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar, segundo dados do IBGE. Além de responder por mais da metade do PIB nacional, tais empresas chegam a empregar 75% da mão de obra do país. Se por um lado a iniciativa dessas famílias estão bastante presentes no desenvolvimento econômico nacional, por outro, segundo a pesquisa “O Futuro da Filantropia no Brasil”, do Instituto BEJA, nos últimos anos, há uma tendência da segunda e terceira geração de famílias ricas em criar novas fundações focalizadas em questões relacionadas aos direitos humanos e à justiça social.
Mas não foi sempre assim. Dedicada ao campo do terceiro setor há mais de 20 anos, Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau, que leva o nome de sua avó paterna, traçou um panorama das últimas duas décadas da filantropia no Brasil, em entrevista ao 21º episódio da série “Grantmaking” do Podcast GIFE.
Na conversa, a diretora e ex-presidente do Conselho de Governança do GIFE, lembra que o termo filantropia não era muito bem-visto por sua associação com as doações assistenciais e religiosas; em contrapartida, as fundações familiares eram raras. As organizações empresariais, no entanto, já começavam a crescer, bem como a agenda da responsabilidade corporativa. Nessa esteira, fortaleceram-se as ONGs, hoje chamadas Organizações da Sociedade Civil (OSCs); práticas como o voluntariado corporativo; e a Agenda ESG (Environmental/Ambiental, Social e Governança).
“Não adianta continuar tendo iniciativas isoladas e colocar recursos sem pensar em questões sistêmicas. É preciso buscar cada vez mais estratégia e impacto. Estou muito voltada para como atrair diferentes possibilidades de capitais para as transformações sociais, talentos para nossas organizações sociais, e potencializar a inclusão de gênero e racial”, conta.
Entre os exemplos citados, está o blended finance. “A gente tem tantos ativos financeiros disponíveis e cada vez mais a intenção de se fazer mudanças sociais que eu acho que essa combinação de capitais mistos onde há um capital filantrópico, paciente, disposto a tomar o risco e tornar atrativo para outros tipos de capitais, uma prática super inovadora que está surgindo. Aposto muito nela.”
Para Beatriz Johannpeter, as famílias empresárias, embora importantes, têm recursos mais limitados. “O último Censo GIFE mostrou que estamos com recursos parecidos com o que a gente investia em 2014. Esse bolo de investimentos do ISP não cresce proporcionalmente ao país e muito menos às nossas demandas sociais”, avalia.
A adoção da agenda de venture philanthropy, o envolvimento das gerações mais jovens com atividades filantrópicas familiares e o papel das mulheres na liderança desse ecossistema foram outros dos temas abordados no programa.