Panorama ISP promove formação e interação entre instituições do investimento social privado

Por: GIFE| Notícias| 10/12/2018

Na última sexta-feira (07/12), o GIFE promoveu o Panorama ISP, um encontro formativo direcionado a representantes das instituições associadas ao GIFE cujo objetivo é aproximar as equipes das tendências, conceitos e principais temas do campo do Investimento Social Privado (ISP), além de proporcionar momentos de interação e troca. A atividade aconteceu em São Paulo.

José Marcelo Zacchi, secretário-geral do GIFE, e Benjamin Bellegy, presidente da WINGS, abriram os trabalhos do dia falando sobre contextos e fronteiras nos campos do ISP e da filantropia no Brasil e no mundo.

José Marcelo reforçou a importância do papel de um investimento social privado mais plural, institucionalizado, coletivo, doador, abrangente, articulado, inspirador e efetivo. “O reconhecimento do valor e da complexidade da ação pública, seja na gestão pública, seja no âmbito da sociedade civil, é pré-requisito para que possamos avançar e acho que se comparado há 20, 30 anos, isso está em progresso. Nosso papel como campo é fortalecer esse tecido social e esse espaço de ação coletiva que é fundamental para lastrear um ambiente de ação pública confiável, consistente, republicano, representativo e efetivo.”

Benjamin, por sua vez, partilhou com os participantes o conceito de ‘Big Philanthropy’, bastante difundido internacionalmente, que se refere à prática de grandes doações realizadas por fundações poderosas como Fundação Bill e Melinda Gates e Fundação Rockefeller. Atualmente, existem 260 mil fundações no mundo. 95% delas estão concentradas na Europa e nos Estados Unidos.

Apesar da importância e do crescimento da tendência mundialmente, para Benjamin, a verdadeira ‘Big Philanthropy’ está no crescimento das doações dos indivíduos, o que reforça a importância do fortalecimento de uma cultura de doação.

O presidente da WINGS enumera as principais tendências do setor. A primeira tem a ver com a diminuição do espaço e da capacidade de atuação da sociedade civil, um fenômeno que está acontecendo em todo o mundo e é visto com preocupação por diversos atores. A segunda tendência apontada por Benjamin se refere ao aumento da ‘pressão’ por accountability, potencializado com o advento da internet. Nesse sentido, ele chama atenção para o fato de a legitimidade das organizações da sociedade civil (OSCs) estar sendo posta à prova e para o papel que a tecnologia, especialmente a Big Data, começa a ganhar nesse cenário.

Uma terceira tendência diz respeito à necessidade de uma mudança de mindset no que se refere ao apoio ligado a projetos e linhas programáticas. O assunto vem sendo bastante discutido, especialmente no Brasil, que tem no modelo grande parte das ações do setor do investimento social privado. Nesse sentido, Benjamin vê como imperativa uma reinvenção da relação entre filantropos e beneficiários apoiada na construção de confiança que a transforme numa parceria entre instituições do ISP e sociedade civil organizada.

Por fim, o presidente destacou a importância do co-impact, ou da colaboração, mesmo em se tratando da atuação de grandes fundações doadoras. Para ele, o real impacto só acontecerá com uma atuação conjunta e sistêmica do setor.

Panorama do ISP no Brasil

A equipe do GIFE foi responsável pelos quatro blocos formativos da programação do evento.

No Bloco I, “O campo em números”, foi apresentada aos participantes uma visão geral do setor das OSCs e do ISP com base em dados relativos a distribuição, finalidade, perfil, volume e fonte de recursos, formas e áreas de atuação, entre outros indicadores, além de informações referentes a gestão, governança e transparência nos dois setores tais como diversidade na composição das equipes e dos conselhos e boas práticas de governança e transparência.

O Bloco II foi destinado ao cenário atual e aos temas de destaque das “Agendas do campo”: cultura de doação, investimento social familiar, investimento social independente, investimento social empresarial e negócios de impacto.

Já o Bloco III trouxe informações acerca das “Conexões e interfaces” entre as três esferas da sociedade: sociedade civil, setor privado e setor público.

Por fim, o Bloco IV, “Ampliando o impacto”, tratou de temas como avaliação, comunicação, articulação e parcerias e agenda pública e ODS.

Horizontes e desafios

Para fechar a programação do Panorama ISP, os participantes contaram com a presença de Neca Setubal, presidente do conselho de governança do GIFE, para uma roda de conversa sobre os desafios e oportunidades projetados para o setor do investimento social privado no próximo período.

Ela apontou a diversidade do campo das OSCs, composto por 820 mil organizações, que, para ela, ao mesmo tempo em que expressa uma riqueza, representa grande complexidade para uma atuação mais conjunta. “O próximo ano será um grande desafio para o campo da sociedade civil, mas também uma oportunidade de atuarmos de forma mais colaborativa na defesa de direitos, onde temos atuado dentro do marco da democracia e da Constituição. Acho que as fundações e institutos têm um papel da maior relevância a partir do próximo ano. É o momento de fazermos uma revisão da nossa atuação e de rever como nos comunicamos”, observa.

Neca falou também sobre a importância do papel dos institutos e fundações empresariais no diálogo com as empresas. “Não deveria haver uma distância entre as empresas e seus institutos e fundações. Hoje, as empresas são demandadas o tempo todo por seus clientes no que se refere a seu posicionamento frente às grandes questões sociais. Então, é papel dos institutos e fundações buscar esse diálogo.”

Questionada sobre as razões para uma desvalorização do profissional no mercado de trabalho do setor do ISP, a presidente resgatou a origem da constituição do campo no Brasil. “Nossa história social vem de uma trajetória católica marcada pela abnegação e pelo assistencialismo. A profissionalização do setor é muito recente, mas eu já vejo passos no sentido de uma profissionalização e uma valorização salarial mais próximas do mercado empresarial”, afirma.

Sobre a descredibilidade atual em relação ao conhecimento científico e às evidências, Neca fala da relevância do trabalho de instituições como o GIFE. “O diálogo com as políticas públicas é parte essencial do trabalho realizado pelo GIFE e isso continuará. É imperativo que sigamos produzindo monitoramento, avaliação e conhecimento a respeito do trabalho que realizamos no campo social cujo sentido é público.”


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