Pesquisa aponta demanda por credibilidade a instituições de ensino e necessidade de escala como foco para atuação do ISP

Por: GIFE| Notícias| 19/10/2020

2020 ficará marcado como o ano que revolucionou o setor da educação. O ensino remoto, condição imposta pela pandemia do novo coronavírus, trouxe uma série de desafios para secretarias de educação, escolas, gestores, professores e estudantes. Apesar de um processo ‘forçado’ de digitalização das comunidades escolares, o novo modo de ensino escancarou o abismo das desigualdades que marcam a educação pública brasileira.

Esse cenário e a forma como estudantes de todo o país têm enfrentado a crise são objetos do estudo Sala de aula ou sala de casa? A nova realidade da educação, que retrata como os desafios impostos pela crise sanitária da Covid-19 podem se transformar em oportunidades para o setor do ensino superior.

Realizada pela Globo, em parceria com o Instituto Toluna, a pesquisa colheu impressões de 1.500 jovens de todas as regiões do país durante os meses de julho e agosto e revela que 83% deles sentem-se mais pressionados em relação ao futuro acadêmico e profissional, apesar de ainda enxergarem valor agregado no diploma.

“Algumas incertezas, como pensar a educação do futuro, têm mexido os ponteiros da sociedade, da iniciativa pública e também da privada. Nesse sentido, a pesquisa buscou entender esse novo momento na vida dos estudantes, além de fornecer caminhos possíveis para auxiliar o setor nesse processo de reinvenção das diretrizes pedagógicas e na criação de soluções para atender às necessidades dos alunos, levando em conta suas dores e seus anseios profissionais”, explica Rafael Garey, head de estratégia para o segmento de educação no time de inteligência de mercado da Globo.

Achados

Apesar dos desafios, o levantamento retrata uma maior valorização da educação: 84% dos jovens acreditam que o diploma é valorizado pelas empresas e 87% afirmam que o ensino superior é essencial para conseguir um bom emprego.

O diploma é percebido como ferramenta de capacitação e ascensão social: 70% dos respondentes querem desenvolver habilidades profissionais e de carreira, 68% alcançar estabilidade financeira e 58% conseguir melhores salários. O gasto com educação é prioridade para 75% dos entrevistados entre 16 e 24 anos, apesar de 72% dos estudantes que trabalham e frequentam um curso de graduação receberem até dois salários mínimos.

Quando o assunto é a escolha da instituição de ensino, o fator credibilidade aparece em primeiro lugar (58%), seguido por preço (42%), estrutura (40%), descontos e bolsas (32%), grade curricular (29%) e corpo docente (28%).

Da sala de aula para a sala de casa

Do lado dos estudantes, os desafios frente ao ensino remoto contemplam questões de ordem emocional (80%), ambiente doméstico não adequado para os estudos (63%), dificuldade de conexão (49%), exigência de maior disciplina (46%), percepção de menor valorização por parte do mercado de trabalho (44%), entre outros.

Nada disso, no entanto, parece abalar os universitários, que manifestam desejo de seguir estudando (94%), mesmo frente a tantas barreiras. Nos últimos meses, 19% começaram um novo curso pago remotamente e 39% passaram a consumir conteúdos e cursos gratuitos pela internet. 77% disseram querer se dedicar ainda mais e 68% pretendem retomar os estudos assim que a pandemia acabar.

Trabalho e ensino híbrido

90% dos respondentes da pesquisa acreditam que surgirão novas formas mais dinâmicas e acessíveis de estudar e 92% concordam que o trabalho à distância será mais comum, podendo trazer oportunidades para quem está mais distante das grandes cidades graças ao uso maior das tecnologias (83%).

73% dos entrevistados acreditam que o ensino poderá migrar definitivamente para o híbrido (com aulas online e presenciais) nos próximos anos, enquanto 58% passaram a ver de forma mais positiva o ensino à distância.

“Esses dados revelam como as instituições de ensino vão ser levadas a medir cada vez mais assertivamente o resultado das metodologias que estão implementando nesse novo momento. E essa entrega também passa pela crivo da credibilidade, que não é um processo pontual, mas um trabalho de construção. Por isso, é preciso comunicar de forma eficaz e criar processos e soluções que ajudem as pessoas a reconhecerem que a educação forma cidadãos capazes de ocupar seus espaços no mercado de trabalho e no mundo acadêmico, onde quer que esses espaços estejam”, defende Rafael.

Desafios e oportunidades que podem ser endereçados pelo investimento social privado e pela filantropia

Para o especialista, apesar de complexo, o cenário é fértil e a Educação Básica é o começo de tudo.

“Quanto maior a base de alunos formados no Ensino Fundamental e Médio, mais estudantes terão a oportunidade de ingressar no Ensino Superior. Para aumentar esse ingresso, que hoje soma 16%, é preciso incentivar projetos que ampliem o acesso – como, por exemplo, iniciativas de financiamento estudantil – e soluções para melhoria de conectividade, além de inovações em metodologias que permitam aos estudantes aprender melhor.”

Rafael observa que muitos desses projetos e soluções não são novos, mas precisam ganhar escala.

“Esse é um trabalho que pode contar com outros setores e atores sociais, para além do eixo da educação, incluindo braços como o investimento social privado a filantropia. Afinal, sem investir em educação não é possível investir no desenvolvimento social”, observa.


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