Incentivo à pesquisa científica deve estar atrelado à equidade de gênero e raça, avalia ABPN

Por: GIFE| Notícias| 18/03/2024

Foto: Freepik

Para Iraneide Soares, presidente da ABPN, o ISP tem potencial para agir enquanto aliado na busca pela equidade de gênero e raça na ciência, mas ainda não tem priorizado a causa

“Tivemos um apagão no campo científico”. Essas são palavras da historiadora Iraneide Soares, atualmente presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), em uma análise dos últimos seis anos. Ela aponta que com iniciativas mais recentes do governo federal para o setor, as expectativas positivas aumentam, no entanto as políticas de permanência para os pesquisadores ainda se apresentam como um grande desafio, que demanda comprometimento com a equidade de gênero e raça.  

De acordo com dados do relatório da Elsevier-Bori divulgados em 2023, a produção científica no Brasil caiu pela primeira vez em 2022 – o levantamento começou a ser feito em 1996. O relatório contabilizou um decréscimo de 7,4% na publicação de artigos em comparação a 2021. A pandemia e os cortes de recursos públicos para a pesquisa nos últimos anos são fatores que acompanharam essas reduções, a exemplo do corte de 87% no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia em 2021. 

Em 2023, o governo federal anunciou reajustes nas bolsas de pós-graduação e iniciação científica, mecanismo que de acordo com Iraneide Soares é importante, mas que precisa estar alinhado com as políticas afirmativas. “A bolsa é a garantia de que minimamente se permaneça na universidade. Temos uma política de ação afirmativa que não garante a disponibilidade dessas bolsas.”

Buscando fortalecer a participação negra na produção científica, a ABPN tem atuado junto a setores como o Ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia na busca por garantias de bolsas a todos os estudantes cotistas de universidades públicas, em especial mulheres negras,  tendo em vista que elas são minoria na ciência. “ Atualmente, além do Conselho Nacional de Igualdade Racial, do Ministério da Igualdade Racial (MIR), a ABPN compõe o Comitê de Popularização da Ciência e Tecnologia (Comitê Pop).”

O investimento na ciência

Vista como aliada na busca por melhorias sociais, a filantropia, bem como o investimento social privado (ISP) não tem direcionado tanta atenção ao setor científico. De acordo com informações do Censo GIFE 22/23, dentre as áreas temáticas de atuação que receberam atenção do ISP em 2022, “Ciência e Tecnologia” pontuou com apenas 15% desses investimentos, sendo a última colocada dentre as áreas nomeadas.

“O ISP tem potencial para contribuir bastante com a pesquisa científica no Brasil, mas não tem feito isso. Esse conjunto de instituições que formam o campo filantrópico é muito fechado, não há transparência”, opina a presidente da ABPN. “As ONGs dos movimentos negros, de mulheres, indígenas, têm um trabalho muito mais transparente e efetivo, e não é apenas de assistência mas, sobretudo, de formação política”, completa. 

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