Brasil tem queda de 7,4% no volume da produção científica

Por: GIFE| Notícias| 07/08/2023

A produção científica brasileira caiu 7,4% em 2022. É o que aponta o levantamento da Agência Bori e da editora Elsevier divulgado no último dia 24 de julho. Além disso, o país tem a pior taxa entre os 51 países analisados. Esse foi o primeiro ano em que o número de pesquisas publicadas no Brasil foi menor do que o verificado no ano anterior desde o início da tabulação desses dados em 1996.

Para a diretora de ciência do Instituto Serrapilheira, Cristina Caldas, o dado é muito ruim, mas não chega a ser uma surpresa. Primeiro, devido à pandemia de Covid-19. “As universidades esvaziaram, os institutos e grupos de pesquisa se desfizeram”. Mas, ela também atribui o resultado do levantamento ao “descaso” e “falta de apoio” à ciência durante o último governo federal. “A gente passou por um verdadeiro pesadelo de baixo incentivo à ciência.”

Ainda assim, a diretora defende a importância de pensar para além do que chama de “obsessão por numerologia”. Ou seja, revisitar os critérios de avaliação de impacto da nossa ciência. “É importante migrar dessa posição de contar o número de artigos e passar a avaliar com cuidado a qualidade do que o Brasil está produzindo. A ciência que o Brasil produz está respondendo às demandas mais prementes na nossa sociedade?”, questiona.

Impactos 

A nível de comparação, um dos dados da pesquisa que chama atenção é de que a queda da produção científica brasileira se assemelha à da Ucrânia, que entrou em guerra. Os dois tiveram a maior perda de produção científica entre os países analisados.

Cristina Caldas acredita que o importante de estudos como esses é apontar que a ciência precisa de apoio constante e orçamentos robustos. “Alerta que não podemos ter soluços no financiamento à ciência porque o dano é muito grave. Tanto na produção científica quanto no engajamento das pessoas. Eu visito as universidades e vejo alunos desmotivados.”

Para Clíssio Santana, doutorando em história na Universidade Federal da Bahia (UFBA), os danos são incalculáveis em todas as esferas da sociedade. “No campo das tecnologias, o Brasil perde poder de barganha, todo seu consumo tecnológico é oriundo de fora e paga-se mais caro. No campo das ciências humanas, nos tornamos um país violento, racista e misógino”. Além disso, o pesquisador aponta o enfraquecimento da pesquisa como um terreno fértil para a propagação de fake news. A exemplo das quedas bruscas na vacinação infantil no Brasil.

Cristina Caldas acredita que nos últimos meses, no entanto, é possível observar uma retomada das agências de fomento. Em julho, o governo federal anunciou a retomada do Conselho Nacional de Ciência, e um reajuste de até 94% nas bolsas de fomento tecnológico e extensão inovadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além disso, o orçamento previsto para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) alcançou o maior valor nos últimos sete anos, ultrapassando R$ 5,5 bilhões.

Estratégias do investimento social privado

O contexto da crise pandêmica determinou muitas escolhas dos investidores sociais privados e filantropos. 34% dos respondentes do Censo GIFE 2020 afirmaram ter atuado na área temática de Ciência e Tecnologia naquele ano.  

No Serrapilheira, Cristina Caldas explica que a estratégia é testar novos formatos de seleção, financiamento, flexibilidade, relação de confiança com pesquisadores e investir em diversidade. Uma das recentes iniciativas do Instituto é o apoio a 32 jovens cientistas com R$ 22 milhões, em parceria com fundações de amparo à pesquisa estaduais.

“Gostaríamos de ver mais doadores interessados em iniciativas de apoio à ciência. Porque o financiamento privado permite testar formas diferentes de olhar para a ciência com muito mais flexibilidade e agilidade do que o público.”

Para engajar a juventude, a diretora acredita que o caminho é focar na resolução de problemas concretos. Ou seja, provocar o que a ciência pode fazer pela erradicação da fome, de doenças, pela conservação da biodiversidade, entre outros temas urgentes.


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