Pessoas brancas vivem mais e melhor a velhice do que pessoas negras, aponta relatório

Por: GIFE| Notícias| 09/10/2023

A população idosa no Brasil cresceu para 15,1% em 2022. 10 anos atrás, em 2012, o percentual era de 11,3%. Os dados, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam o avanço do envelhecimento populacional. Situação que também ocorre a nível mundial. Até 2050, o mundo terá o dobro de idosos, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). No mês que marca os 20 anos do Estatuto do Idoso e o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1º de outubro), esses dados chamam atenção para a forma como a população tem envelhecido. 

O processo de envelhecimento é heterogêneo e envolve aspectos sociais que vão definir a qualidade nessa fase da vida. É o que aponta o relatório “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com o Itaú Viver Mais e lançado em maio deste ano. De acordo com o estudo, o Brasil tem sido um lugar inseguro para pessoas negras envelhecerem.

A pesquisa utiliza dados que foram coletados pela pesquisa “Impactos sociais do envelhecimento ativo”, realizada em 2021. Para a realização do trabalho foram feitos questionários direcionados a pessoas com 50 anos ou mais nas cidades de Salvador, São Paulo e Porto Alegre. 

Um dos aspectos analisados pela pesquisa, por exemplo, foi o nível de dificuldade que os grupos enfrentam para pagar contas mensais. Em São Paulo, a dificuldade dos homens brancos diminui com o avanço da idade. Apenas 21% deles, com 80 anos ou mais, dizem ter adversidades. Já entre os homens negros esse mesmo percentual é de 73%.

“Debater como as desigualdades raciais estão se atualizando no envelhecimento da população é um tema urgente”, avalia Huri Paz, pesquisador do Afro/Cebrap – Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – e um dos nomes responsáveis pela pesquisa. 

Pautado em uma das citações que conclui o relatório, “O Brasil é negro, mas o envelhecimento é branco”, de autoria de Roudom Ferreira, Rafael Moreira, professor do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador da Fiocruz, diz que as diferenças raciais entre pessoas idosas ocorrem “porque alcançar a velhice em nosso país significa obter privilégios que não são apenas geneticamente herdados, mas também de uma estrutura social pautada pela branquitude”.

Nesse sentido, os detalhamentos obtidos com a pesquisa são o retrato de que as determinações do Estatuto do Idoso não estão sendo respeitadas, pelo menos para uma parte da população. “O caminho para reverter esse legado secular passa por políticas públicas que possam reduzir o abismo racial nas oportunidades de envelhecimento pleno”, opina Rafael Ferreira. 

ISP pode ser um impulsionador de mudanças

Enquanto rota transformadora, os anos de estudos são apresentados como um dos principais fatores que explicam as desigualdades entre população branca e negra no país. “A diferença da média de anos de estudos entre a população negra e branca é grande, mas as disparidades diminuem de 25 a 49 anos, referente à política de ações afirmativas em universidades, que incluíram mais pessoas negras no ensino superior”, aponta Huri Paz.

Diante dessa realidade, o investimento social privado (ISP) aparece como um mecanismo de enfrentamento às desigualdades nessa fase da vida. Huri Paz destaca a importância do trabalho conjunto entre organizações da sociedade civil, ISP e o Estado. “Um dos principais papéis do investimento social privado é entender as pautas que necessitam de mudanças e apoiar essas produções e intervenções.”

Para o pesquisador é preciso disseminar e produzir mais dados, como os do relatório, para que não só o ISP, mas os diversos setores da sociedade trabalhem no combate às desigualdades do envelhecimento. “A parceria com o Itaú Viver Mais é fundamental para disseminar esses resultados com os diferentes setores que podem fazer a diferença no envelhecimento da população”, finaliza.

Mais longevidade

No próximo dia 12 de outubro, a Maria Farinha Filmes lança “Quantos dias. Quantas noites”. O documentário convida especialistas e pensadores para compartilhar as oportunidades e as desigualdades nesse tema, além da nossa própria conexão com o tempo e com a idade. Com a participação de Alexandre Kalache, Sueli Carneiro, Ana Claudia Arantes, Mona Rikumbi, Ana Michelle Soares, Mórris Litvak, Tom Almeida e Alexandre Silva, o filme traz à tona uma investigação essencial no nosso século: a revolução da longevidade já começou.


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