Preservação ambiental: estratégias a partir da agroecologia e agricultura urbana
Por: GIFE| Notícias| 06/06/2022Relatórios com previsões preocupantes sobre o planeta são divulgados frequentemente por órgãos que atuam no combate às mudanças climáticas e na defesa do meio ambiente. Para entender as possíveis estratégias capazes de aproximar as pessoas dessa agenda, o GIFE conversou com Ana Santos, educadora popular, cozinheira e agricultora urbana que está à frente do Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM). Associação sem fins lucrativos situada no Complexo de Favelas da Penha (RJ), e que atua pela preservação ambiental a partir da agroecologia.
GIFE. Em abril, a ONU lançou novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, não é exagero dizer que essa edição do relatório é a prova de que o mundo está em um caminho rápido para o desastre. Você concorda?
Ana Santos: Sim, porque todos os nossos principais recursos estão sendo destruídos. Empresas altamente poluentes, liberações de agrotóxicos, desmatamento da Amazônia, são sinalizadores de que a gente está acabando com a vida na terra. As mudanças climáticas, para gente que planta, tornam a cada ano mais difícil entender as estações do ano. Vamos criando alternativas pela agroecologia, resgate de saberes, pela forma de cultivar a terra como os nossos antepassados.
GIFE. Quando o assunto é a defesa do meio ambiente, a maioria das pessoas visualiza ações de grandes proporções. Como tornar o tema menos distante?
Ana Santos: Quando a gente pensa em uma área verde no Rio de Janeiro, por exemplo, a gente pensa na Floresta da Tijuca. Não vem ao pensamento que a favela tem verde e meio ambiente. Para aproximar o morador dessa luta, resgatamos seus valores a partir de suas memórias, num trabalho de agroecologia construindo um território de bem viver. É pelo alimento que a gente aproxima, é plantando. Essa é a estratégia do CEM dentro da favela.
GIFE. Como relacionar a prática da agroecologia urbana com o planejamento necessário para recuperação do meio ambiente?
Ana Santos: Reflorestar a partir de um sistema agroflorestal, introduzindo árvores da Mata Atlântica. Uma faz sombra para outra. Uma cresce e vira adubo para que a outra se regenere. Então, nesse processo de regeneração da terra, solo, água, consorciando com a produção de alimentos, e com a sensibilização e envolvimento das pessoas que habitam esse local, é possível recuperar a faixa verde que ainda resiste na favela.
GIFE. Como o Investimento Social Privado (ISP) pode apoiar essa agenda?
Ana Santos: Fortalecendo para que essa vire uma política pública de estado e não de governo, para que a gente consiga ter respaldos para fomento da agricultura. Trabalhar agricultura vai além do plantar. É o cultivo de relações no território que se dá com o estímulo financeiro para sementes, adubos, sistemas de compostagem. Então, fortalecer esses agricultores diretamente com as suas DAPs, para que eles possam acessar políticas como Programa Nacional de Alimentação Escolar.