Saúde da população negra está diretamente ligada ao enfrentamento ao racismo, afirma especialista
Por: GIFE| Notícias| 17/10/2022
A maioria dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) são pessoas negras, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontam 76% dos atendimentos e 81% das internações no SUS realizadas para a população negra. Na busca por equidade na atenção à saúde da população negra, o Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra é celebrado em 27 de outubro, como forma de chamar atenção para a necessidade de pensar as especificidades desse grupo.
Para Alexandre da Silva, especialista em Envelhecimento e doutor em Saúde Pública, é fundamental pensar na saúde da população negra em um país de estruturas desiguais, como o Brasil. Da Silva lembra que a população negra sofre com marcadores interseccionais por acumularem discriminações como racismo, sexismo, idadismo, capacitismo, distinção por classe social, que afetam a sua saúde como um todo.
“A especificidade da população negra talvez seja o acúmulo de desigualdades e de discriminações que essa pessoa vai ter. Há sim um grupo pequeno de doenças que têm um caráter genético e mesmo assim não tem a mesma atenção que outras doenças genéticas que afetam pessoas não-negras.”
Já que o racismo é um marcador que não pode ser deixado de lado para pensar a saúde da população negra, o pesquisador defende uma saúde pública de qualidade para que justamente esta parcela da população, mais afetada pelas desigualdades, possa ter acesso aos serviços e equipamentos necessários.
ISP pode auxiliar a pensar no bem-viver da saúde da população negra
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de idosos, pessoas com 60 anos ou mais, chegará a 2 bilhões até 2050. De acordo com o levantamento do IBGE, realizado em 2021, 21,6 milhões de brasileiros possuem 65 anos ou mais de idade, o que representa 10,2% da população nacional.
Alexandre da Silva aponta a importância de pensar nas pessoas que estão envelhecendo e no cruzamento entre o racismo e o idadismo que colocam ainda mais à margem os cuidados e atenção desse grupo. Para ele, além de pensar nas crianças, mulheres e pessoas em situação de rua, é preciso considerar também a pessoa idosa.
“Eu tentei várias vezes procurar entidades, pessoas, dispostas a pensar como melhorar essa fase da vida e não vejo interesse nessas instituições em ajudar. Temos que ficar atentos e requerer que essa faixa etária seja atendida também.”
O doutor em Saúde Coletiva ainda acrescenta que há um longo caminho para que haja equidade na saúde para toda a população, sobretudo a negra.
“A melhor ação é o enfrentamento do racismo nas suas instituições e isso é um programa longo. São vários movimentos, pactos, articulações, compromissos de médio a longo prazo, é a gente falar de capacitação e oportunidades, empregabilidade de pessoas nos mais diversos cargos, principalmente naqueles de tomada de decisão.”