“Sem a violência contra meninas e mulheres indígenas, os garimpos não seriam possíveis”, afirma Milena Barroso, professora da UFS
Por: GIFE| Notícias| 24/10/2022Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O dia 25 de outubro foi a data escolhida pela ONU para marcar o Dia Internacional contra a Exploração da Mulher. Já o dia 11, foi instituído pela organização como Dia Internacional da Menina. Esse ano, o secretário-geral, António Guterres, pediu mais esforços dos países para garantir que elas estejam saudáveis, instruídas e em segurança.
Mas, a discussão sobre as desigualdades e acesso a direitos das meninas e mulheres, nem sempre dialoga com esse grupo em sua diversidade. No Brasil, de acordo com dados contabilizados entre 2017 e 2020 pelo Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, quase 80% das vítimas de abuso sexual infantil são meninas.
Apesar do estudo apontar dados a respeito da idade, raça e etnia das vítimas, casos de violência sexual contra crianças indígenas não são registrados conforme sua identidade. A pesquisa explica que “alguns estados de maior concentração de indígenas não possuem os dados que permitem a análise em série histórica”.
Garimpo e exploração
Segundo o relatório “Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo” da Hutukara Associação Yanomami, há relatos de garimpeiros bêbados invadindo casas e assediando mulheres Yanomamis, e oferecendo comida em troca de sexo com adolescentes.
Para Milena Barroso, professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade da Amazônia, a exploração de meninas e mulheres nesses territórios está diretamente relacionada à presença dos garimpos.
A presença do crime organizado como fomentador do garimpo e a ausência de políticas de proteção às mulheres, compõem o contexto que impulsiona o aumento da violência.
O que a COP27 e o ISP têm a ver com isso?
É nesse cenário que se aproxima a Conferência pelo Clima – COP27. E o movimento indígena brasileiro já se organiza para cobrar a promessa de doação de US$ 1,7 bilhão feita na COP26, por governos e entidades filantrópicas, para que os povos originários tenham condições de proteger seus territórios.
“Não há como pensar o clima isolado das relações sociais que incidem e compõem a sociodiversidade. É imprescindível o debate dessa questão na COP27”, ressalta Milena Barroso.
A professora destaca que o combate à exploração contra meninas e mulheres indígenas depende ainda da contribuição da sociedade civil organizada para garantir investimentos e recursos para financiar pesquisas e projetos protagonizados pelos povos originários.
“Além de iniciativas antirracistas que promovam a desnaturalização da violência e sua denúncia, fortalecimento dos territórios, defesa dos direitos das mulheres indígenas e fomento à construção de resistências plurais”, finaliza a pesquisadora.