Temperatura média do planeta rompe pela primeira vez o limite de 1.5°C em 2024
Por: GIFE| Notícias| 20/01/2025Rio de Janeiro (RJ), 14/11/2023 – População enfrente forte onda de calor no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Os centros meteorológicos consideraram 2024 como um ano de ‘condições climáticas excepcionais’. O cenário aponta para uma importância cada vez maior de medidas que visem a mitigação das mudanças climáticas e do aquecimento global
Em 2024, a temperatura média global ultrapassou, pela primeira vez, a marca de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais durante 11 meses consecutivos. De acordo com dados confirmados pelo serviço europeu de monitoramento climático (Copernicus), divulgados em 10 de janeiro, a média global foi 1,6°C mais alta em comparação ao período de 1850 a 1900.
Os dados climáticos alarmantes de 2024 têm impulsionado um esforço de coordenação entre centros meteorológicos globais, incluindo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês). No último dia 10 de janeiro, a WMO divulgou informações que confirmam 2024 como o ano mais quente desde o início dos registros, em 1850.
“Os dados refletem os ‘alertas’ que a ciência está emitindo há muito tempo. As consequências do impacto antropogênico no clima já deixaram de ser ‘cenários’. A realidade com a qual estamos vivendo exige ações e decisões ambiciosas que permitam frear a aproximação com o ponto de não retorno”, explicou em entrevista a Agência Gov o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes.
A anomalia de temperatura registrada em 2024, porém, não significa que tenha sido rompido o limite de 1.5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, que se refere às anomalias de temperatura calculadas ao longo de pelo menos 20 anos. Contudo, o comunicado ressalta que as temperaturas estão subindo além do que os humanos já experimentaram.
O centro europeu reitera o que a comunidade científica global tem enfatizado ao longo de décadas: a mudança do clima provocada pela ação humana é a principal causa dos extremos de temperatura na atmosfera e da superfície do mar. A principal fonte global de gases de efeito estufa (GEE) é proveniente da queima de combustíveis fósseis.
O fenômeno El Niño ocorrido entre 2023 e 2024, um dos cinco mais fortes já registrados , também contribuiu para o aumento da temperatura média global.
A constatação de que o limite foi alcançado em 2024 deve ser motivo de preocupação e alerta, pois a previsão dos cientistas era de que o limiar de 1.5°C fosse ultrapassado a partir de 2030. “O que chama a atenção é que o limiar foi ultrapassado pela primeira vez”, explica o coordenador-geral de Ciência da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilvan Sampaio, também em entrevista à Agência Gov.
Segundo o coordenador, a perspectiva é de que 2025 não seja tão quente quanto 2024. Porém, pode ser que fique entre os dez anos mais quentes, especialmente em decorrência das queimadas e do próprio aquecimento global.
Aquecimento na América é superior à média global
Enquanto a temperatura média global aumentou em 0.72°C em 2024, no continente americano o aumento foi maior. O coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, em entrevista a Agência Gov, afirmou que a anomalia da temperatura média ficou 0.95°C, comparada à média do período de 1990 a 2020. O pesquisador, que coordena a elaboração do relatório regional do Estado do Clima, afirma que diferença de 0.23°C superior à média global está associada às altas temperaturas em grandes regiões continentais, como o centro da América do Sul – abrangendo da Amazônia ao Pantanal – e o México. “Algumas áreas do México registraram ondas de calor com temperaturas de 45°C”, exemplifica.
Mesmo com a previsão de um 2025 menos quente devido ao fenômeno La Niña, a tendência de extremos climáticos persiste por conta do aquecimento global e do aumento de vapor d’água na atmosfera, alerta José Marengo. Ele compara a situação a “colocar gasolina no fogo” e enfatiza que a realidade superou as projeções, reforçando a urgência de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e o desmatamento em escala global.
Com informações da Agência Gov
Filantropia e Justiça Climática
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