9º Encontro da RIS do Interior Paulista se debruça sobre gestão da diversidade e inclusão nas instituições
Por: GIFE| Notícias| 29/04/2019Dando sequência às conversas sobre “Diversidade e Equidade”, o 9º Encontro da Rede de Investidores Sociais (RIS) do Interior Paulista, realizado no dia 25 de abril, em Campinas (SP) – na sede do Instituto Robert Bosch –, contou com a participação de especialistas no assunto para aprofundar as discussões a respeito da “Gestão da Diversidade e Inclusão” nas instituições.
Fábio Amaral, responsável pela área de recursos humanos da Bosch; Lucas Silva, bacharelando em Direito e pesquisador na área de direitos humanos com foco no mercado de trabalho inclusivo; e Regiane Fayan, psicóloga e líder do programa Mobilização para Autonomia, da Fundação FEAC, abordaram o tema a partir de diferentes perspectivas.
Deficiência: conceito, cenário e barreiras
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), uma em cada sete pessoas no mundo tem algum tipo de deficiência.
Regiane trouxe dados do Centro de Estudos Sindicais e Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em conjunto com o Ministério do Trabalho, que revelam que, em Campinas, o número de pessoas com deficiências severas e graves entre 18 e 59 anos é de 35 mil – 3,3% da população.
Já o número de reserva de postos de trabalho para cumprimento de cotas na região é de 7.008. Desse total, 57,4% estão preenchidas, ou seja, existem três mil oportunidades de trabalho não ocupadas.
Sobre o conceito de deficiência, a especialista lembrou que a definição prioriza o modelo social, que leva em consideração as barreiras impostas às pessoas com deficiência, em detrimento do modelo médico, que responsabilizava essa parcela da população por suas dificuldades de inclusão.
Para a psicóloga, essas barreiras são diversas (arquitetônicas, informacionais ou comunicacionais), mas a principal delas é a barreira atitudinal, ou seja, a forma como a sociedade se porta perante a pessoa com deficiência. “Se a gente consegue remover essa, as demais são muito mais fáceis”, observou.
Com o que Lucas concorda: “Você não imputa à pessoa com deficiência a responsabilidade. Você não diz à pessoa que a deficiência dela não é adequada ao processo seletivo da sua empresa, por exemplo. A forma como você se porta frente à deficiência muda a forma como você expressa sua responsabilidade social”, observou.
Nesse sentido, o pesquisador observou ainda o desafio relacionado à imagem da pessoa com deficiência pautada pela mídia: a da superação. “O problema desse discurso é que toda a dificuldade decorrente da deficiência é por falta de acessibilidade, ou seja, não é a deficiência que precisa ser superada, mas as barreiras que são impostas às pessoas com deficiência”, explicou.
Acessibilidade: desafios e caminhos
Fábio compartilhou com o grupo algumas das boas práticas de inclusão de pessoas com deficiência no ambiente de trabalho implementadas pela Bosch. Em 2018, o Instituto Robert Bosch recebeu o “Prêmio Reconhecimento Global: Boas Práticas de Empregabilidade para Trabalhadores com Deficiência”.
“Durante um tempo, a questão da diversidade era olhada apenas a partir do âmbito da obrigação legal. O problema disso é que ao alcançar a meta exigida, você fica satisfeito. Já que a diversidade é um dos valores da Bosch, só atingir a cota não seria suficiente. Nós não fizemos nada de outro mundo para ganhar esse prêmio. Foram coisas relativamente simples, mas que dependem de um propósito e de abertura”, salientou.
O gestor contou que, para entender mais a fundo a questão da acessibilidade, a organização foi em busca de conhecimento junto às próprias pessoas com deficiência. Atualmente, a instituição conta com um grupo de 40 gestores que atuam internamente pela causa da inclusão. “Nos colocamos no lugar de embaixadores da diversidade e trouxemos as pessoas com deficiência para o lugar do protagonismo. Então, trouxemos o André, por exemplo”, contou.
André, funcionário da instituição, por sua vez, ressaltou como um dos pontos fortes da iniciativa adotada pela empresa a mudança de abordagem no processo seletivo, que promoveu alterações tais como ampliação do tempo de entrevista, adaptações na fase online, entre outras. “Não é uma rampa apenas, mas ouvir realmente quais são as dificuldades e ser mais flexível que faz toda a diferença.”
Fábio exemplificou citando algumas ferramentas e ações promovidas pela instituição na comunicação do dia a dia – desde tradução de libras em eventos e na programação dos televisores internos da Bosh, bem como ferramentas de acessibilidade no site da instituição, até a ampliação da periodicidade dos exames dos funcionários com deficiência auditiva, ação bastante valorizada por eles em razão de propiciar um espaço maior de interação. “O caminho é esse: conhecer, adaptar, promover mudanças e contar com pessoas que querem ver efetivamente essas transformações acontecer”, defendeu.
Regiane compartilhou com o grupo o trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Lab Inclusão, criado pela Fundação FEAC e executado por uma rede de organizações parceiras (Adacamp, Ceesd, Sorri Campinas e AEDHA), que compõem a Rede Lab homônima.
Essas organizações se utilizam da metodologia do emprego apoiado – que visa a garantir a inclusão e produtividade por meio de apoios efetivos, com foco nas potencialidades e habilidades de cada indivíduo – para aumentar a empregabilidade de pessoas com deficiência no município de Campinas e região e garantir seu acesso ao mercado de trabalho. O projeto viabiliza apoios que facilitam a realização do trabalho, além de contar com uma equipe multidisciplinar que realiza todo o acompanhamento necessário no local de trabalho.
O público alvo, além das empresas, são pessoas com Síndrome de Down, deficiência intelectual, visual, auditiva, física e com transtorno do espectro autismo. A modalidade de contratação pode ser via aprendizagem profissional, executada por instituição certificadora, a AEDHA – Guardinha, ou via CLT, executada por Adacamp, Ceesd e Sorri Campinas.
Outras iniciativas que poderiam ser promovidas pelas instituições, segundo a especialista, são: 1) Adaptação razoável para assegurar o acesso ao ambiente laboral: arquitetônica, modificação do conteúdo funcional, da duração e da organização do trabalho; 2) Implantação de tecnologia assistiva: métodos, estratégias, práticas e serviços; 3) Investimento na área: pesquisas, iniciativas que contribuam para a inclusão e melhoria de vida das pessoas com deficiência; 4) Inclusão da questão da deficiência na estratégia da empresa, bem como no planejamento de produtos, serviços e atendimento a clientes.
Próximos passos
O 9º Encontro da RIS do Interior Paulista, que é coordenada pela Fundação FEAC e pelo Instituto Estre, também contemplou a apresentação da proposta desenvolvida pela Agência M51 para a campanha de sensibilização sobre o tema, aprovação do logo e a primeira versão do Termo de Adesão da Rede -, que será apresentado em uma próxima reunião do grupo.
O próximo encontro está previsto para acontecer em na primeira semana de julho.