A emergência climática, a COP 27 e o futuro do planeta

Por: GIFE| GIFEnaCOP| 07/11/2022

Líderes de todo o planeta, governos subnacionais, organizações da sociedade civil e outros atores se reúnem na COP 27 (Conferência das Nações Unidas sobre o Clima), de 6 a 18 de novembro, no Egito, na busca de soluções e comprometimento para combater a questão do século: a emergência climática.

A temperatura média global hoje está 1,1ºC acima da média pré-industrial (1850 a 1900), e os últimos sete anos foram os mais quentes já registrados. Os dados são da World Meteorological Organization (WMO), que mede as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa.

O Acordo de Paris, assinado em 2015, cujo objetivo principal era reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, foi amplamente comemorado como norteador de uma mudança. No entanto, decorridos sete anos, seguimos batendo recordes de aumentos de temperatura.

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicou que, para limitar o aquecimento a 1,5ºC, as emissões precisam parar de crescer em 2025 e cair 43% até 2030 (em relação aos níveis de 2019).

Além disso, destacou a necessidade de transformações rápidas em todos os setores para evitar os piores impactos climáticos:

  • Expandir o uso de energia limpa
  • Descarbonizar a indústria
  • Incentivar construções verdes
  • Redesenhar cidades e a fazer transição para transporte de zero e baixo carbono
  • Conservar os ecossistemas naturais
  • Melhorar os sistemas alimentares

Outros três pontos do relatório incluem mudanças de comportamento e estilo de vida com papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas, a necessidade de remover carbono da atmosfera; e de aumentar o financiamento climático de três a seis vezes até 2030.

A descarbonização da economia é um caminho que vem sendo mirado como oportunidade ao desenvolvimento pelos Estados Unidos e por países da Europa.

“Os Estados Unidos acabaram de aprovar um pacote de US$ 369 bilhões, e há muita coisa voltada à restauração. Ações domésticas para fazendeiros e pessoas terem recursos para fazer conservação e restauração de áreas. O Credit Suisse fez as contas e viu que, na verdade, vão acabar sendo movimentados outros US$ 800 milhões. Os investidores do setor privado estão muito animados. Então, essa conta chega a US$ 1.7 trilhão até o final dessa década. E aí temos muito emprego. Nesse instante, nos Estados Unidos, não se trata mais de se tentar minimizar os riscos em uma transição, é o contrário. É maximizar as chances de usar as oportunidades que estão vindo aí”, analisa Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.  

Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), concorda com Natalie, destacando que nos EUA e em países europeus, a mudança climática virou um pilar do planejamento econômico. E que, no caso do Brasil, temos a possibilidade de fazer o mesmo, transformando as vantagens comparativas do país em termos de florestas e de fontes de energia limpa em vantagem competitiva.

Temos que trazer o tema das mudanças climáticas para o centro do debate sobre desenvolvimento. Isso ainda não foi feito. O enfrentamento das mudanças climáticas pode alavancar o crescimento econômico, a floresta em pé pode alavancar novos investimentos. É isso que a gente espera para o futuro do Brasil no próximo governo eleito

O protagonismo da sociedade civil organizada

A emergência climática já afeta, e afetará cada vez mais, a saúde, a vida e os meios de subsistência das pessoas, incluindo sistemas de energia, transporte e produção de alimentos. O mundo será cada vez mais suscetível a riscos trazidos por eventos extremos como tempestades, secas e inundações, além de mudanças de início lento, mas com grande impacto na vida de boa parte da humanidade, como a elevação do nível do mar.

As consequências já são sentidas em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Chuvas extremas, ondas de frio e de calor que chegam a provocar mortes, furacões, comunidades tendo que deslocar roças e moradas para o interior dos territórios por causa do aumento do nível dos rios e do mar são alguns dos sinais visíveis dessa transformação.

Quem mais sofre com isso são as populações mais pobres e vulneráveis, empurradas para viver em áreas de risco em nossas cidades, com pouco ou nenhum acesso a direitos fundamentais como saúde, saneamento, acesso à água potável, moradia e trabalho.

E este é um ponto de reflexão que vem reiteradamente marcando presença nas últimas COPs de Clima, em especial reforçada por organizações da sociedade civil – as consequências da emergência climática não são sentidas da mesma forma por todas as regiões, grupos e pessoas. Por essa razão, os diferentes grupos devem ter suas vozes ouvidas e amplificadas na busca de soluções e tomadas de decisão, de modo a não vermos reproduzidas lógicas coloniais também nas soluções propostas para combater a emergência climática.

Durante a COP 26, realizada em 2021, em Glasgow, na Escócia, movimentos negros, indígenas e juventudes estiveram presentes liderando a Marcha Global pelo Clima, levando suas vozes e participando ativamente das discussões. A tendência é que nesta COP 27 compareçam em ainda maior número.

Uma transição justa para a economia de baixo carbono está também no horizonte das COPs há algum tempo, com foco em trabalhadores e trabalhadoras que atuam em áreas que serão fortemente afetadas pela transição.

Na COP 24, foi assinado o “Acordo de Solidariedade e Transição Justa – Declaração da Silésia”, pedindo mais progresso na abordagem da vulnerabilidade do trabalho em setores intensivos em carbono que enfrentam risco de transição.

Na COP 25 foi adotado o Plano de Ação de Gênero, que reconheceu a importância de envolver mulheres e homens igualmente no desenvolvimento e implementação de políticas climáticas nacionais sensíveis ao gênero.

E ano passado, na COP 26, mais de 30 nações assinaram a Transição Justa de Glasgow, enfatizando a necessidade de que nenhum trabalhador/a ou comunidade seja deixado para trás na transição.

Nesta COP 27 estão previstas mesas sobre Transição Justa e sobre Mudança Climática e a Sustentabilidade de Comunidades Vulneráveis. 

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