Aproveitamento do bônus demográfico no Brasil avança de forma tímida 

Por: GIFE| Notícias| 26/05/2025

A população brasileira alcançou, no ano de 2020, a marca da maior população jovem da história, alcançando o chamado “bônus demográfico”. Ou seja, quando atingimos o ápice da população economicamente ativa no país.

Esse momento é considerado crucial para transformar o futuro do país, já que apresenta uma janela de oportunidades que só pode ser aproveitada se as juventudes estiverem no centro desse debate. Essa janela, contudo, tem data para acabar, e, em poucas décadas, 25% dos brasileiros terá 65 anos ou mais, segundo o Atlas das Juventudes (2021).

Foi alinhada a essa conjuntura que a Rede Temática de Juventudes do GIFE publicou o Guia de Diretrizes, Estratégias e Boas Práticas de Investimento Social Privado para e com as Juventudes no Brasil.

“Temos registrado alguns avanços [no aproveitamento do bônus demográfico], mas muito tímidos perto do que seria necessário”, afirma Júlia Tavares, gerente de comunicação da Fundação Otacílio Coser, e uma das convidadas do Painel sobre juventudes no 13º Congresso GIFE.  Um exemplo são os dados divulgados pelo IBGE, que indicam uma queda de 21,6% para 21,2% na taxa de jovens que não estudam nem trabalham, em 2023. O dado aponta para uma melhora, porém ainda muito pequena, e que também revela a persistência de desigualdades — a maioria desse grupo é composta por pessoas negras (70%) e mulheres (65%).

“Com o envelhecimento da população, essa janela do bônus demográfico está se fechando rapidamente. Isso poderá agravar a crise previdenciária, pressionar os serviços públicos e comprometer o crescimento econômico”, completa. 

No que cabe ao Investimento Social Privado (ISP), o Guia chama atenção para um quadro conhecido: o setor prioriza educação e trabalho, com menos investimento nos demais direitos das juventudes. As organizações com investimento anual superior a R$ 50 milhões e aquelas que investem de R$ 10 a 50 milhões empregam a maior parte de seus recursos em educação formal. Organizações com investimento anual de até R$ 10 milhões concentram a maior parte de seus recursos em inclusão produtiva, empreendedorismo e geração de renda.

São esforços que o estudo classifica como significativos, mas que ainda não alcançam os jovens que mais precisam. Júlia Tavares alerta que há outras dimensões de direitos igualmente importantes, como saúde, segurança, cultura e participação cidadã, que impactam diretamente a trajetória de vida do jovem no mundo do trabalho. 

“Para avançar, o ISP precisa atuar de forma mais integrada e colaborativa, investindo sob a perspectiva da equidade e construindo estratégias com e para os jovens”, explica. Entre as boas experiências, cita o Programa Escolaí, que há 20 anos coloca os próprios estudantes de escolas públicas no centro das decisões, promovendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, além de estimular sua liderança na concepção e realização das atividades. 

Ainda nesse sentido, é fundamental lembrar que as experiências das juventudes são múltiplas e diversas. Sendo preciso garantir que as estratégias de investimento social sejam sensíveis às desigualdades territoriais, de gênero e raça.

“Ser sensível a essa diversidade significa construir estratégias a partir das experiências reais desses jovens”, opina Júlia Tavares, ressaltando que esse movimento exige escuta ativa, presença nos territórios, parcerias com organizações locais e governamentais e metodologias que promovam o protagonismo juvenil. “Defendemos que o ISP cobre mais responsabilidade das empresas na promoção de soluções sistêmicas e que fortaleça suas próprias práticas por meio da articulação com outras organizações.”

Um exemplo nesse sentido é o Mapeamento pelas Juventudes da Fundação Otacílio Coser, que está com inscrições abertas para a 2ª edição, e vai proporcionar mais visibilidade e colaboração entre ONGs, institutos e fundações voltadas à geração de oportunidades para jovens. 


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