Pesquisa aponta gargalos do futuro do trabalho para as juventudes brasileiras

Por: GIFE| Notícias| 01/05/2023
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Foto: Mídia Ninja.

Esta segunda-feira (1) marca o Dia do Trabalhador. Há um ano, o especial redeGIFE mostrava o aumento do desemprego, precarização do trabalho e crise econômica vivida pelo Brasil. O cenário se agrava para jovens de 14 a 29 anos, cerca de 24% da população. 

A pesquisa “Futuro do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, publicada em março de 2023, foi idealizada pela Fundação Telefônica Vivo, Itaú Educação e Trabalho, Fundação Roberto Marinho, Fundação Arymax e GOYN SP, e executada pelo Instituto Cíclica em parceria com o Instituto Veredas. Ela revela dados sobre a inserção educacional e laboral desse grupo e mostra que há falhas na sua formação para o mundo do trabalho. 

Para Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax, entre os desafios para promover o acesso a oportunidades de trabalho estáveis e dignas estão os impactos da pandemia na educação, crise econômica, além da desigualdade estrutural de raça, gênero e território. Assim, jovens enfrentam altas taxas de desocupação, baixos salários e incertezas quanto ao futuro. 

“Ao mesmo tempo, vivemos um momento de mudanças climáticas, envelhecimento populacional, avanço tecnológico e novas configurações de trabalho. O estudo pretende responder a esse novo contexto em benefício das juventudes brasileiras.”

Falta qualificação?

Para 67,65% das 34 organizações questionadas pela pesquisa, faltam cursos de qualificação profissional e técnica. De acordo com Vivianne Naigeborin, por um lado, a oferta e o acesso a oportunidades de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e de iniciativas de Aprendizagem Baseada no Trabalho (ABT) ainda é limitada, especialmente para os jovens mais vulneráveis. Por outro, ainda falta efetividade na oferta existente.

Eduardo Georjão é diretor Administrativo-financeiro do Instituto Cíclica e lembra que é preciso não jogar sobre o jovem toda a carga dessas dificuldades. O diretor acredita que é preciso olhar para as economias emergentes, como as economias digital, verde, criativa, se conectando com as mudanças do mundo. “Muitas vezes os cursos são focados em profissões de baixo nível de complexidade, que provavelmente vão ser substituídas pela digitalização.”

Além da qualificação e dos desafios estruturais, que implicam na evasão escolar, Eduardo Georjão aponta a precarização do trabalho. “Boa parte dos trabalhadores por aplicativos são jovens, que ganham muito pouco e têm poucos direitos protegidos.”

Impactos

Com o envelhecimento da população, é preciso pensar nos efeitos de uma juventude fora do mercado do trabalho para o futuro. “No segundo trimestre de 2022, 33,3% dos jovens entre 14 e 17 anos e 19,3% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam desocupados”, afirma Viviane Naigebornin. Ela considera o cenário preocupante pois o país vive o fim do período de bônus demográfico, quando há mais pessoas aptas a trabalhar do que inativas.

Recomendações 

O levantamento traz uma série de recomendações para diferentes atores. Vivianne Naigeborin destaca duas: ampliação da oferta de cursos e das matrículas em todas as modalidades de EPT e das oportunidades de ABT; e adesão de empregadores, seja na a ampliação de ofertas de programas de estágios e trainees, seja na oferta de oportunidades de formação e treinamento no ambiente das empresas.

“Há espaços de atuação do investimento social privado em todas essas frentes, seja na produção de conhecimento, na mobilização de empresas, no advocacy ou na cocriação e financiamento de iniciativas voltadas a formação profissional”, pontua.

Entre as recomendações direcionadas às Organizações da Sociedade Civil, Eduardo Georjão destaca o desenvolvimento de estratégias de combate à evasão escolar; a realização de pesquisas; e construção de melhores serviços de orientação profissional.

Além disso, como o letramento digital é uma das principais recomendações da pesquisa, o investimento nessa área é essencial para o avanço das economias emergentes. 

“Empresas e ISP poderão contribuir no acesso à infraestrutura, na orientação e no financiamento de conteúdos trabalhados nas qualificações digitais, sempre levando em conta as diferenças regionais”, finaliza Vivianne Naigeborin.

A fim de garantir um futuro para as juventudes, investimento social privado tem que descentralizar recursos e promover diversidades 

Os jovens são a força motriz da mudança. Elas não esperam o futuro,  escrevem o agora. Os desafios para a formação desse grupo populacional, que representa cerca de  um quarto dos brasileiros, foram tema da mesa “Juventudes: protagonistas do presente e do futuro” no segundo dia do 12º Congresso GIFE – Desafiando Estruturas de Desigualdades.

O debate contou com a mediação de Karina Penha,  coordenadora de Mobilização da Campanha Amazônia de Pé, do NOSSAS, e participação de Erica Fortuna,  gerente departamental de Relações Institucionais da Fundação Bradesco; Iago Hairon, oficial de programa sênior em justiça climática na Open Society Foundations; Manuella Donato, consultora de projetos no Fundo Malala; Tatiana de Jesus Pereira Ferreira, secretária de Estado de Juventude do Maranhão; e Wesla Monteiro, coordenadora executiva do Juventudes do Agora.


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