Conheça a Vitrine de ONGs: um dos quatro projetos apoiados pela segunda edição do Fundo BIS

Por: GIFE| Notícias| 15/02/2021

Uma plataforma de gestão, comunicação e transparência criada para facilitar a relação entre as organizações da sociedade civil (OSCs) e potenciais doadores. Esse é o objetivo da Vitrine de ONGs, um dos quatro projetos apoiados pela segunda edição do Fundo BIS, que contemplou iniciativas que contribuem para o fortalecimento da cultura de doação no Brasil.

A Vitrine de ONGs é resultado de uma parceria entre Instituto Liga Social, Editora MOL e Movimento Arredondar. Sua concepção começou em 2018 a partir do desejo de compartilhar custos de busca e seleção, certificação e gestão de resultados de OSCs de modo que mais recursos pudessem ser direcionados às organizações e seus projetos.

“O Benchmarking de Investimento Social Corporativo 2019 indicou que os investidores sociais apoiam somente 828 organizações da sociedade civil, de um total de 820 mil OSCs existentes no país. Além disso, verificamos uma tendência de apoio às mesmas organizações, em geral aquelas que já foram apoiadas por outros grantmakers ou cuja prestação de contas é entregue de forma impecável”, observa Patricia Mussi, fundadora do Instituto Liga Social.

Para a especialista, os desafios inerentes ao fomento à cultura de doação e ao grantmaking como ferramentas para a sustentabilidade econômica das OSCs não são pequenos.

“Por um lado, existe uma tendência do ISP de operar projetos ou apoiar OSCs mais estruturadas. Por outro, organizações  de base comunitária têm pouco acesso a grantmakers ou a doações de indivíduos. Somente 33% do apoio financeiro destinado às OSCs é institucional, de acordo com o Censo GIFE 2018. Além disso, as OSCs têm um custo alto inerente à adaptação a diferentes padrões de prestações de contas solicitados pelos investidores sociais. Esse cenário resulta na vulnerabilidade econômica das organizações, cuja valorização é central para o desenvolvimento da cultura de doação no país.”

Como funciona

A Vitrine de ONGs pode ser assinada por investidores sociais para a gestão de seu relacionamento com as organizações que apoia. Nesse eixo, cada organização apoiada ganha uma página de transparência criada pelo investidor – que exibe informações sobre prestação de contas, documentos, certificações e os resultados de sua atuação.

Já a Jornada Automatizada de Inscrição de Novas ONGs permite que as organizações que ainda não estão no radar dos grantmakers possam entrar na Vitrine de ONGs. Para isso, a organização passa por um processo de certificação que a habilita a ter sua própria página de transparência na Vitrine.

Por meio da tecnologia White Label – uma espécie de plataforma pré-fabricada em que o usuário pode incluir sua marca e identidade visual – essas páginas podem ser personalizadas. Dessa forma, a Vitrine de ONGs funciona como uma grande plataforma-mãe, que replica as páginas de transparência de todas as ONGs exibidas nas diversas plataformas White Label que forem desenvolvidas ou contratadas.

A plataforma também permite que as OSCs compartilhem sua página de transparência e suas histórias de impacto por meio do WhatsApp, Facebook e outras redes sociais.

“Queremos que as OSCs usem suas páginas de transparência como uma espécie de LinkedIn. De forma rápida e descomplicada, podem se apresentar a potenciais apoiadores sem ter que fazer grandes investimentos em um site, por exemplo. É uma solução sob medida para quem já doa e para quem já recebe recursos que resulta em uma base de dados sobre ONGs que fica à disposição da sociedade em geral, dando transparência e credibilidade aos processos”, observa Patricia.

A plataforma é integrada a meios de pagamento e plataformas de doação para que as organizações possam angariar recursos.

“A Vitrine de ONGs é uma grande oportunidade para as OSCs ganharem visibilidade no mundo virtual. Sabemos o quanto as organizações sofreram em sua captação de recursos durante a pandemia. Para os investidores sociais, é uma oportunidade de ajudar as organizações parceiras a ganharem mais visibilidade. A forma atual de divulgação das parcerias e resultados por meio de relatórios anuais é pouco eficaz. Queremos criar um círculo virtuoso, onde a divulgação dos resultados de doações já realizadas incentivem que mais empresas e pessoas se tornem doadoras”, observa a fundadora do Liga Social.

Levantamento de indicadores

O aporte do Fundo BIS também será utilizado para o levantamento de indicadores de resultado. A ideia é disponibilizar parâmetros de mensuração de resultados e prestação de contas que contribuam para que as organizações aprimorem seus processos internos de monitoramento e divulguem informações relevantes sobre seus projetos em uma linguagem validada pelo ecossistema, além de facilitar o processo de comparação e avaliação por parte de potenciais doadores e investidores sociais.

“Em 2019, no diagnóstico inicial para a criação da Vitrine de ONGs, realizamos um benchmarking internacional e conhecemos uma iniciativa do Guidestar – plataforma americana que traz informações sobre OSCs. Eles fizeram uma publicação com indicadores de resultado que as OSCs podem utilizar para reportar o impacto de suas atividades. Achamos a ideia sensacional porque facilita o entendimento das OSCs sobre o que o doador espera ver como resultado da doação que ele realiza. Com o apoio do Fundo BIS, estamos replicando a iniciativa no contexto brasileiro”, explica Patricia.

Criada em parceria técnica com o Insper Metricis, a metodologia para o levantamento parte das nove áreas temáticas mais apoiadas pelo investimento social brasileiro. Para cada área, foram selecionados alguns mentores, como explica Patricia.

“Fizemos um levantamento inicial em que consultamos fontes internacionais e alguns institutos e fundações. O Instituto Votorantim e o Itaú Social, por exemplo, cederam os indicadores que usam para avaliar seus resultados. Foram mais de 900 métricas levantadas.”

A metodologia prevê ainda a validação dos indicadores com OSCs de diferentes portes e com investidores sociais a fim de avaliar se os indicadores levantados são de coleta simples e baixo custo e relevantes tanto para investidores sociais, quanto para as OSCs. O resultado do levantamento será publicado em um e-book que será distribuído de forma gratuita e também utilizado pelas OSCs em suas páginas de transparência dentro da Vitrine de ONGs.

“Queremos que as organizações usem os indicadores para uma avaliação reflexiva e para comunicar de forma assertiva o resultado de sua atuação”, afirma a fundadora do Liga Social.

Próximos passos

Patricia conta que a iniciativa está em fase de expansão a partir da apresentação da ferramenta a uma série de investidores sociais. “Nossa expectativa é que esses investidores assinem a ferramenta como forma de aumentar a transparência de seus investimentos e ajudar a construir a base de dados da Vitrine de ONGs. Validamos com o ecossistema um valor de assinatura anual que é bem atraente para os investidores”, informa.

O Instituto também está em busca de patrocinadores para a Vitrine e pretende replicar a metodologia utilizada no levantamento de indicadores de resultado para a área de meio ambiente e sustentabilidade. “Já temos o projeto pronto e estamos na etapa de sondagens iniciais com investidores sociais focados na área ambiental”, conta a fundadora.


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