Cooperação e desenvolvimento territorial: especialista aponta protagonismo dos atores locais como elemento-chave

Por: GIFE| 11º Congresso GIFE| 01/03/2021

Diferente da intervenção do setor sobre as chamadas pautas setoriais – educação, saúde, etc. – uma atuação mais transversal em territórios diversos do país – especialmente os periféricos, nas grandes cidades – tem ganhado cada vez mais dedicação do setor e atraído a busca por uma atuação colaborativa entre as próprias fundações e institutos e também junto a organizações comunitárias e poder público.

Essas experiências e seu potencial de impacto foram tema de um painel realizado em outubro de 2020 como parte do trilho de atividades do 11º Congresso GIFE, buscando iluminar esse acúmulo, os aprendizados e também os desafios, além de oportunidades para a colaboração entre e com atores nos campos da filantropia, do investimento social e da ação cidadã de forma ampla.

Para aprofundar esse debate, o redeGIFE entrevistou Roberto Vilela, diretor executivo da Tabôa, organização que fomenta iniciativas de base comunitária e empreendimentos socioeconômicos que valorizam a cultura local, a diversidade e contribuem para a geração de prosperidade e qualidade de vida no Sul da Bahia.

Confira a entrevista a seguir.

redeGIFE: Quais são os elementos-chave para o desenvolvimento de ações de cooperação e desenvolvimento territorial?

Roberto: Um pressuposto é a coconstrução, assegurando a participação com equidade de diferentes atores territoriais, em contraposição ao modelo top-down. Para isso, é importante investir no desenvolvimento de capacidades locais, tanto da sociedade civil como do poder público, no fortalecimento de espaços interinstitucionais de diálogo e cooperação, como também na disponibilização de informações organizadas e confiáveis sobre a realidade do território.

redeGIFE: Na sua avaliação, quais são os desafios no atual contexto brasileiro para uma atuação mais colaborativa entre os diversos setores (privado, público e da sociedade civil) nos territórios, de modo a promover uma intervenção mais integrada e menos fragmentada?

Roberto: A construção de agendas territoriais de desenvolvimento requer o fortalecimento do tecido social, incluindo as organizações e as lideranças de base, de modo a gerar instâncias de governança local. Além disso, mostra-se importante estimular a cooperação multitemática nos níveis local e regional, por meio do fortalecimento de espaços e mecanismos de participação social, com a coletivização dos desafios entre os diferentes atores e a coconstrução de respostas aos diferentes problemas públicos enfrentados na escala no território.

redeGIFE: Que papel ganhou a colaboração da iniciativa privada e do setor filantrópico e do investimento social com o poder público, em especial com os governos locais, frente à pandemia?

Roberto: Frente a uma crise sem precedentes, ficou ainda mais evidente que o enfrentamento de problemas públicos complexos exige a construção de respostas multi-atores e multiescalares. A necessidade maior de colaboração entre sociedade civil e governos locais provocou, nesse sentido, uma aproximação de iniciativas e parcerias. Entretanto, a gramática da política local não mudou. Como 2020 foi um ano eleitoral no nível local, houve dificuldades de aprofundar as parcerias público-privadas em virtude da sobreposição da agenda eleitoral à dimensão pública dos problemas e soluções. Para haver uma transformação maior, é preciso um processo de fortalecimento da cidadania, de compreensão do ativismo, de direitos, tanto na sociedade civil, como no Estado.

redeGIFE: Na sua avaliação, há legados, aprendizados e novas tendências nessa articulação que podem responder de modo mais eficiente aos desafios sociais complexos da atualidade?

Roberto: Houve avanço na compreensão do poder da sociedade civil de mobilização, que é um ativo importante a ser valorizado e fortalecido. Os principais desafios ainda estão na capacidade de articular atores e viabilizar projetos conjuntos, a partir de uma visão sistêmica de território, o que demanda fortalecer a capacidade de conversa, de escuta e de ações coordenadas, valorizando a diversidade territorial. Fortalecer os coletivos e os mecanismos de participação, desde o desenho até a implementação e a avaliação das iniciativas, pode ser uma oportunidade a ser explorada para essa maior articulação entre sociedade civil e poder público.


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