As desigualdades regionais observadas pelo levantamento do ICS se destacam principalmente em áreas como renda, saúde e segurança pública. Carina Serra lembra que as áreas citadas dependem muito da quantidade de investimento público feito. “Direito à cidade significa que todos e todas consigam ter acesso à moradia, lazer, emprego e todas as estruturas que uma cidade deve oferecer.”
Questões que também impactam territórios que estão para além das capitais. Oitavo município mais populoso da Região Metropolitana do Recife (RMR), Camaragibe é um dos exemplos disto. Com uma população de 147.771 pessoas , sendo 67,6% negras (IBGE 2022), apenas 1,11% desse grupo possui acesso a serviço de esgotamento sanitário, como mostram dados do Instituto Água e Saneamento. Além de ser uma dos municípios da região que mais sofrem com deslizamento de terra.
Coordenadora da Iniciativa Favelas Camarás – que atua com o intuito de mitigar as vulnerabilidades nas comunidades de Camaragibe – Biatriz Santos afirma que as condições precárias que muitas comunidades do município enfrentam exibem o retrato de um Brasil resultado de uma abolição mal sucedida. “Hoje a gente entende que as piores terras, os piores espaços ocupacionais no território são ocupados pela população negra. Áreas de morro, becos, periferias, comunidades, áreas descobertas, áreas que não têm CEP, áreas sem registros, áreas com alta periculosidade.”
Na falta do compromisso público, são ações como a Favelas Camarás que oferecem atenção e cuidado a população. Nessa esteira também atua a Fundação Feac, que tem como um de seus pilares o Desenvolvimento Territorial, investindo em iniciativas que fortalecem o tecido social e econômico de periferias.
“Entendemos o bem-estar social como a presença simultânea de um conjunto de fatores de que uma pessoa precisa para gozar de uma boa qualidade de vida, com emprego digno, recursos econômicos, lazer com tempo e qualidade, um lar seguro e, principalmente, a garantia do acesso às políticas e equipamentos públicos”, pondera José Roberto Dalbem, diretor executivo da Fundação Feac.
Para Dalbem, embora as capitais sejam indutoras fundamentais do desenvolvimento sustentável para superar o cenário de disparidade, é importante o fortalecimento da abordagem regional dentro dos estados.
Percepção que Daniela Pavan, gerente executiva de sustentabilidade e do Instituto Center Norte, também compartilha. “Para criar ações de alto impacto, é importante que as empresas privadas incorporem em suas agendas, juntamente ao poder público, um plano 360º de urbanismo social, compreendendo de forma holística as demandas das comunidades locais”, pondera.