Futuro da educação no Brasil: da pandemia à Reforma do Ensino Médio
Por: GIFE| Notícias| 13/03/2023Alunos da Escola de Ensino Médio durante aula, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil
Uma das áreas de maior expectativa para o futuro no país é a educação. Nos últimos quatro anos, o Brasil teve cinco nomes diferentes à frente do Ministério da Educação (MEC). A última gestão foi também a que mais fez cortes no MEC e no Ministério da Ciência e Tecnologia.
Se somou a esse cenário a pandemia de Covid-19. O Brasil foi o país que por mais tempo funcionou apenas com o ensino remoto.
Desafios e prioridades
De acordo com pesquisa recém divulgada pelo Unicef, após anos em queda, a taxa de analfabetismo entre crianças e adolescentes no Brasil aumentou de 1,9% para 3,8%.
“Isso é muito grave. Nos próximos anos, precisamos recuperar as aprendizagens. É urgente que se tenha um projeto articulado de enfrentamento do enorme desafio da alfabetização”, alerta Sônia Dias, coordenadora de implementação municipal do Itaú Social.
Para executar essas e outras prioridades é preciso orçamento. Esse é um dos principais desafios observados pelo diretor de Ciências e Tecnologia da União dos Estudantes da Bahia (UEB), filiada à União Nacional dos Estudantes (UNE), Thiago de Souza.
Outro fator apontado pelo diretor é a formação para o Enem, que em 2022 registrou o menor número de inscrições desde 2005. “Eles não se sentem formados, por isso não fizeram o Enem. O jovem que se formou durante a pandemia, hoje está no mercado informal porque precisa se sustentar. A gente precisa garantir que ele volte pra sala de aula”, alerta.
A gerente de Sustentabilidade, Parcerias e Comunicação da Fundação Norberto Odebrecht, Cristiane Nascimento, acredita que um dos caminhos é o protagonismo da juventude. “Acho que tem um lado um pouco assim do protagonismo do jovem. A gente fala muito na fundação de trabalhar com o jovem, não para o jovem, pelo jovem, mas fazer junto.”
Sistema Nacional de Educação
Na última quinta-feira (9), completou-se um ano que o Senado aprovou o Sistema Nacional de Educação (SNE), com objetivo de possibilitar a integração de políticas e ações educacionais da União, Estados, Municípios e Distrito Federal. De acordo com o texto, a ideia é universalizar o acesso à educação básica e garantir padrão de qualidade.
Para Sônia Dias, é uma grande conquista. “Nossa expectativa é que a implementação possa combater as desigualdades. Existe grande diferença de recurso entre as Secretarias, e os estudantes acabam prejudicados.”
Thiago de Souza também vê no SNE a oportunidade para avanços. “A gente precisa de um ciclo básico de educação respeitando as regionalidades, mas dialogado nacionalmente.”
Reforma do Ensino Médio
O Diário Oficial da União publicou na última quinta-feira (9) a decisão do MEC de instituir um Grupo de Trabalho para avaliar e reestruturar a nova política nacional do Ensino Médio (EM). Uma carta aberta assinada por mais de 300 entidades pede sua revogação, já descartada pelo atual governo. Entre as principais críticas está a ampliação da desigualdade no acesso ao ensino superior entre os alunos da rede pública e privada.
Para Thiago de Souza, o modelo atual forma trabalhadores, mas não cidadãos, reduzindo ainda o incentivo à formação de acadêmicos e cientistas.
Sônia Dias ressalta que a pandemia não pode ser desconsiderada quando o assunto são as desigualdades educacionais no EM. Principalmente para os estudantes da rede pública ou em condição de vulnerabilidade, que não tiveram o mesmo acesso e acompanhamento de estudantes de colégios particulares.
Grupos vulneráveis
A pandemia evidenciou desigualdades educacionais que sempre existiram. Dados do IBGE de 2010 mostram que jovens negros tinham mais que o dobro da taxa de analfabetismo que jovens brancos.
Samuel Emílio é associate na Imaginable Futures, que trabalha com o fortalecimento do protagonismo de estudantes indígenas, negros e quilombolas. Além de dar suporte ao acesso de lideranças que representem esses estudantes nos espaços de tomada de decisão.
“Pelo fato do ISP [Investimento Social Privado] ser majoritariamente liderado por pessoas brancas, é importante destacar que elas também têm papel fundamental na redução das desigualdades educacionais”, destaca. Para Sônia Dias, o ISP contribui principalmente construindo novas metodologias, apoiando a formação continuada de profissionais e produzindo dados para apoiar o poder público. Um exemplo, cita, foi o apoio do Itaú Social ao Instituto Reúna durante a pandemia na criação dos Mapas de Foco, alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).