Desde antes da pandemia de Covid-19, o cenário político brasileiro enfrenta grandes desafios. Por conta disso, diversas iniciativas foram criadas com o objetivo de  pensar novas formas de fazer política, além de mobilizar e engajar o governo  em torno de temas e agendas de interesse público. Uma delas é o Gabinete de Inovação, que tem como foco promover intercâmbio de experiências sobre inovação no exercício legislativo.

Criada em 2019 a partir de um mapeamento sobre inovação política emergente na América Latina, a iniciativa do Instituto Update e do Pacto pela Democracia reúne mandatos das casas legislativas de todo o país para que, juntos, possam se inspirar e construir caminhos para a inovação nos parlamentos brasileiros. 

“A aprendizagem deve acontecer entre mandatos e não entre parlamentares. É bastante difícil que uma liderança eleita tenha tempo para encontros ou formações. Além disso, os mandatos com equipe, como de deputados estaduais, federais, senadores e vereadores de cidades grandes, têm sua gestão e práticas realizadas pela figura da chefia de gabinete, coordenação de mandato ou com uma estrutura ainda mais descentralizada”, explica Gabriela Juns, gerente de programas do Instituto Update. 

Os principais objetivos da iniciativa são oportunizar um espaço de diálogo e de fortalecimento de alianças entre gabinetes de espectros políticos diversos e promover inspiração a partir de experiências inovadoras de mandatos legislativos mapeadas pelo Gabinete.

A primeira edição da iniciativa trouxe a gestão de diversos mandatos para um encontro de trocas. “A criação de um círculo de chefias de gabinete e não de líderes de mandato é inovadora por si só. Se pudermos deixar de lado temporariamente as diferenças partidárias ou específicas de um projeto ou outro para trocar sobre um ponto comum, que são as práticas que buscam aproximar o mandato da cidadania e nos representar melhor, essa conexão entre as pessoas será uma conquista” explica a gerente.

Desafios da inovação no ambiente político brasileiro

Diante das proporções continentais brasileiras, a iniciativa tem o desafio de conseguir se aproximar de mandatos que não têm suas bases nos grandes centros urbanos, assim como chamá-los à participação e difundir os conteúdos produzidos. Para isso, Gabriela explica que é necessário um investimento em comunicação e articulação de atores com capilaridade, como os partidos e seus institutos.

Existem diferenças importantes entre gabinetes de cidades grandes e pequenas. A vereança em uma cidade como São Paulo se difere muito da prática em cidades pequenas, onde os eleitos não têm uma equipe dedicada. “As pessoas que representam populações em cidades pequenas têm inerente a proximidade com a cidadania, o que pode ensinar muito aos mandatos de vereadores das grandes cidades que precisam cuidar para não perder essa proximidade.”

A experiência só para mandatos municipais deixou evidente que esses casos são muitos no país, principalmente na região Norte. “No evento online, que trouxe a agenda de clima, foram poucos os mandatos no Norte que conseguimos mapear. Acredito que a representação dessa agenda nas câmaras municipais esteja baixa. E isso é preocupante por ser a região que abriga a maior parte da Amazônia.”

Edição 2021: Mudança climática e socioambiental

Na segunda edição do Gabinete, que teve como tema O olhar local para o Clima, a ideia foi engajar os mandatos a se comprometer com a agenda climática. Os participantes tiveram a oportunidade de compartilhar experiências, relatar desafios e conhecer exemplos apresentados por outros legisladores e especialistas.

“Tivemos aulas abertas sobre cada um dos temas no YouTube e, depois, os participantes continuaram o debate em salas paralelas, explicando como a agenda climática acontece na prática em seus mandatos. Por um lado, perdemos na construção de relações. Por outro, tivemos participantes de todas as regiões do país e tudo ficou gravado e será publicado posteriormente”, completa Gabriela.