GIFE lança guia sobre mudanças climáticas como parte da série “O que o ISP pode fazer por…?”

Por: GIFE| Notícias| 08/07/2019

Segundo o Observatório do Clima, o Brasil foi responsável por 4% das emissões brutas e por 5% das emissões líquidas globais de gases de efeito estufa na atmosfera entre 1990 e 2016, ano em que o país emitiu 2,27 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico, sendo a agropecuária a principal fonte de emissão (74%). Já o ClimaInfo aponta que para manter o aquecimento abaixo de 1,5ºC, as emissões de dióxido de carbono teriam que diminuir cerca de 45% entre 2010 e 2030 e as emissões líquidas de gases de efeito estufa zeradas até 2050. 

Esses são apenas alguns dados e informações apresentados no guia O que o Investimento Social Privado pode fazer por Mudanças Climáticas?, lançado no dia 1º de julho, na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Relacionado diretamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13, que versa sobre ação contra a mudança global do clima, o tema mudanças climáticas é o terceiro – após Cidades Sustentáveis e Equidade Racial – de um total de oito tópicos que compõem a série. 

A Move Social é a responsável pela criação da metodologia, facilitação e sistematização dos workshops com especialistas, pesquisa complementar e redação dos guias. “Nós somos uma organização ‘meio’, com o propósito de mudar organizações para que elas mudem o mundo. Somos muito chamados para ajudar a estruturar a área social de uma instituição nova ou que está revisando todo o direcionamento estratégico do seu trabalho. A série O que o ISP pode fazer por… traz insumos que apoiam essa tomada de decisão e podem ajudar institutos e fundações a ter elementos sobre discussões relevantes no campo social brasileiro atual e a se conectar a essas agendas”, explica Gabriela Brettas, líder de projetos da Move.

José Marcelo Zacchi, secretário geral do GIFE, analisa que, de acordo com os dados do Censo GIFE, é possível depreender que a presença do investimento social privado (ISP) nos temas da série não é nula, mas é menor do que em outras agendas, como educação, principal área de investimentos dos associados ao GIFE. “A série busca fomentar ações nesses temas e promover o bom uso dos recursos, o que tem a ver com boa governança, práticas de transparência, planejamento, avaliação e gestão. Em outra vertente, buscamos uma relação aprofundada entre esses esforços e a produção de soluções novas para os desafios da nossa agenda pública.”

Para produzir o guia, o GIFE realizou, em parceria com a Move Social e instituições que atuam no tema, como Fundação Grupo Boticário, Instituto Clima e Sociedade e Observatório do Clima – copromotoras do guia -, um workshop que reuniu 17 organizações para responder ‘O que o ISP pode fazer por mudanças climáticas?’. “Queremos mostrar para os investidores porque esse tema é importante. O guia é repleto de cases para que possam encontrar informações e fontes para investir seus recursos”, explicou Erika Sanchez Saez, gerente de programas do GIFE.

Estratégias de atuação 

O documento aponta cinco principais desafios  para a agenda do clima: sensibilização e adesão; desmobilização das instâncias responsáveis pela área climática; modelo de produção atual e suas altas taxas de emissão de carbono; desmatamento e modelo de transporte mais individualizado em detrimento do coletivo; e predominância do uso de combustíveis fósseis.

Considerando esse cenário, o guia apresenta sete possibilidades de linhas de atuação do ISP no tema. São elas: incorporação do tema de modo transversal às áreas de atuação já existentes; fomento a iniciativas inovadoras voltadas a questões climáticas; desenvolvimento e implementação de ferramentas financeiras; fomento a modelos sustentáveis de negócio; produção e disseminação de conhecimento; mobilização para a causa climática; e advocacy para questões climáticas.

O material segue o mesmo modelo dos guias das temáticas já lançadas: apresenta cada linha de atuação juntamente com seus objetivos, dicas de como o ISP pode atuar na agenda e exemplos de cases. O objetivo da linha de atuação C, sobre desenvolvimento e implementação de ferramentas financeiras, por exemplo, é desenvolver mecanismos de mercado que reconheçam o valor dos recursos naturais, favoreçam atividades econômicas sustentáveis e reduzam o risco do investimento.

Exemplos de ações que podem ser encampadas pelo ISP nessa linha são o fomento a estudos e modelagem de mecanismos financeiros voltados a iniciativas de proteção ambiental, assim como a criação de grupos e fóruns para compartilhar riscos e aprendizados a partir da experimentação de novos mecanismos e ferramentas.  

Como o assunto está sendo abordado 

Ao defender que o tema caminha de mãos dadas, mas extrapola os limites do aspecto ambiental, Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), reforçou a necessidade de a agenda de mudanças climáticas ser encarada transversalmente. Segundo a diretora, apesar de perceber mais atores dando atenção e importância ao tema do clima, é preciso que organizações desse meio passem a compor mesas de discussões internacionais, além de organizarem reuniões também no âmbito nacional e voltarem o olhar para suas próprias emissões. “É preciso começar a fazer a lição de casa dentro das nossas organizações: quantas já fizeram sua própria pegada de carbono? Quando vemos nossas próprias emissões, nos enxergamos como atores nisso tudo”, observou.

A diretora ressaltou ainda que, ao contrário do que muitos pensam, as mudanças climáticas são um tema do agora. “O Brasil é o país mais bem posicionado no mundo todo. Temos floresta e abundância de fontes energéticas renováveis. Se comparado a outros países, nosso custo de transição [para energias limpas] seria muito baixo. Falta um olhar para a agenda positiva.”

Maior articulação com educadores que trabalham com o tema e uma força-tarefa para propor uma mesa sobre o que o ISP da América Latina pode fazer pelo clima durante a Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP 25), que acontecerá em novembro, no Chile, são algumas ideias propostas pela especialista.

André Ferretti, gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, explicou que a Fundação optou por fugir da abordagem tradicional de mudanças climáticas e trabalhar em outras frentes, priorizando o foco em soluções. Desde propostas educacionais, em que as personagens de uma coleção de livros didáticos acompanham o crescimento dos estudantes durante todo o Ensino Fundamental, até a aproximação com empresas e negócios de impacto socioambiental, a organização busca ampliar o escopo e abordar outras questões que também estão relacionadas a meio ambiente, como segurança alimentar, saúde, bem-estar, segurança hídrica e outras.“Nós acreditamos que a natureza pode nos ajudar a equacionar soluções para os principais desafios da sociedade.” 

No âmbito educacional, o gerente apontou a necessidade de esforços para fazer com que as produções já existentes – como é o caso do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG) – cheguem até os estudantes. “Precisamos fazer a informação chegar e mostrar que o clima vira negócio, gera empregos, não é só desastre. Há muita coisa que precisamos divulgar, espalhar, replicar e comemorar mais e institutos e fundações têm um papel muito importante nisso.”

Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, explicou que muitos dos fenômenos noticiados recentemente – como a falta de água na Índia, os ciclones que assolaram Moçambique e a onda de calor na Europa -, são consequências das mudanças climáticas. A necessidade de deixar mais claro o fato de o tema ser transversal e conversar, inclusive, com outras agendas da série – como água e direitos das mulheres – também foi ressaltada pelo secretário.

“Cada instituto e fundação deve procurar entender a relação entre o tema no qual estão investindo e as mudanças climáticas. É importante que essa agenda seja uma agenda de país e não de governo. A crise climática é a mãe de todas as crises. Desde 2009 já gerou-se muita informação sobre as soluções. Desde agricultura sustentável até energia renovável, há um mundo de oportunidades.”


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