Importantes aliados na preservação ambiental, quilombos enfrentam dificuldades no acesso a recursos

Por: GIFE| GIFEnaCOP| 20/11/2023
comunidade quilombo kalunga

Foto: Maiana Diniz - Agência Brasil

O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou em um levantamento inédito que o Brasil possui atualmente 1,32 milhão de quilombolas, residentes em 1.696 municípios.  Dentre eles está o Quilombo Kalunga, maior território quilombola do Brasil, que tem recebido notório destaque pelo papel ambiental que tem desempenhado.

Localizado em Goiás, no centro-oeste do país, possuindo 260 mil hectares e cerca de 300 anos de existência, o Quilombo Kalunga é o primeiro do país a ser reconhecido pela ONU como Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca)

“Isso se deve à rotatividade de cultura. Esse cuidado existe aqui há cerca de 300 anos porque a mata é a manta do quilombola. A partir dessas ações, foi se percebendo a contribuição com a existência de mais animais, de mais alimentos, mais água. Estamos mostrando educação ambiental para o Brasil”, explica Dalila Martins, quilombola e conselheira da Associação Quilombola Kalunga. 

Percepção partilhada por Selma Dealdina, secretária-executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). “Nós [quilombolas] temos uma contribuição muito forte e direta com a preservação da natureza. Nossa relação com a terra não é de ‘explorar por explorar’ apenas visando o lucro. É uma relação ancestral, por subsistência.” 

Apesar do trabalho importante desempenhado por essas regiões, Selma Dealdina destaca que a falta de orçamento é um dos grandes desafios enfrentados atualmente. “Sem orçamento não se faz titulação, não se executa políticas públicas. Hoje, nosso maior desafio é garantir que haja um orçamento decente para 2024.”

A quilombola enxerga no investimento social privado (ISP) oportunidades resolutivas que precisam ser direcionadas a iniciativas de pessoas que estão na base. “Temos conquistado recursos importantes, mas o acesso aos investimentos nessa parte ambiental ainda não é o que a gente precisa para sobreviver.”

Realidade que se apresenta através de estudos, como a análise realizada pelo Relatório Luz sobre o andamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil, que mostrou povos quilombolas como uma das populações que mais sofreram retrocessos no país.  

“Precisamos mudar esse cenário e entender para onde e pra quem vão os apoios [filantrópicos] e qual a finalidade”, reitera Selma Dealdina. “O investimento social privado pode contribuir muito com o território quilombola, desde que não haja interesses por trás disso”, conclui  Dalila Martins.


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