Investimento na saúde das mulheres é fundamental para enfrentar mortes evitáveis 

Por: GIFE| Notícias| 04/03/2024

Projeto contra a pobreza menstrual realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental - EMEF Espaço de Bitita disponibiliza absorventes nos banheiros da escola. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O número de mortes evitáveis entre mulheres, entre 2012 e 2021, passou de 69,5% para 77,4%. Na saúde menstrual, das 60 milhões de pessoas que menstruam, 15 milhões não têm acesso a produtos de higiene menstrual.

Na próxima sexta-feira (8), é celebrado internacionalmente o Dia das Mulheres. A data é uma oportunidade para chamar atenção para as agendas das mulheres em sua diversidade. Entre elas, o acesso à saúde. 

No ano passado, o Ministério da Saúde divulgou o documento “Saúde da mulher brasileira: uma perspectiva integrada entre vigilância e atenção à Saúde”. Segundo o boletim, o número de mortes evitáveis de mulheres, entre os anos de 2012 e 2021, passou de 69,5% para 77,4%. 

Evelyn Santos, gerente de articulação e parcerias da Umane, explica que as maiores vulnerabilidades que levam ao quadro são a vacinação e o acesso aos serviços de saúde para promoção, prevenção e diagnóstico precoce de doenças crônicas.

Para a gerente, é de vital importância resgatar as altas coberturas vacinais, uma vez que 127 mil das 330 mil mortes poderiam ser evitadas por meio da vacinação. Quanto ao restante, das 149 mil mortes por causas evitáveis relacionadas às doenças crônicas registradas em 2021, a maioria foi causada por câncer (31,1%), seguida da soma das doenças isquêmicas, cerebrovasculares e diabetes (43,2%).

“É inaceitável que doenças para as quais conhecemos tanto a prevenção primária, quanto a secundária, sejam a maior causa de mortalidade evitável”, critica a gerente.

Saúde Menstrual 

Desde 2014, o direito à higiene menstrual é reconhecido pela ONU como uma questão de saúde pública e direitos humanos. Ainda assim, no Brasil, das 60 milhões de pessoas que menstruam, 15 milhões não têm acesso a produtos adequados de higiene menstrual, segundo relatório da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

Ainda de acordo com dados da ONU, uma em cada quatro meninas brasileiras faltam à escola durante o período menstrual e cerca de 4 milhões sofrem com privação de higiene no ambiente escolar.

Especialista em dignidade menstrual, Flávia Castelhano explica que, no Brasil, o tema ganhou capilaridade em 2020, com a chegada da pandemia. Em 2021, a Lei 14.214 propôs institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, mas foi vetada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Assim, o tema passou a ser mais debatido. 

Nesse mesmo período, o debate chegou ao Coletivo Mulheres, Políticas Públicas e Sociedade (MUPPS), de Salvador (BA). Em decorrência da pandemia, as ativistas se deram conta de que grande parte das organizações que passaram a distribuir cestas básicas, não incluíam itens de higiene menstrual. 

“As mulheres pobres estavam em situação vexatória, porque perderam seus postos de trabalho. Foi quando fizemos a primeira distribuição de cesta básica com absorventes”, conta Maise Silva, coordenadora administrativa do MUPPS.

No dia 8 de março de 2023, o presidente Lula sancionou o decreto regulamentando a distribuição de absorventes. Mas, pondera Maise Silva, dignidade menstrual vai além. “É preciso lembrar dos banheiros dignos nas escolas públicas, onde muitas vezes falta água, papel higiênico, sabão.”

Flávia Castelhano explica que já existem dados que demonstram que a indignidade menstrual prejudica o desempenho escolar e no trabalho. 

“É comum recebermos relatos de pessoas que utilizam métodos como panos, meias, algodão e até miolo de pão, o que pode gerar doenças graves, infecções, câncer e até a morte, em casos extremos, como da Síndrome do Choque Tóxico.”

O grave cenário acomete principalmente mulheres negras e de baixa renda. Segundo o Mapeamento de Dignidade Menstrual realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), uma menina negra tem o triplo de chance de estar em situação de indignidade menstrual que uma menina branca.

“Não há solução sem o setor privado”

Para atuar em uma agenda com tão recente visibilidade, Flávia Castelhano elogia o papel da sociedade civil durante a votação das leis sobre o tema, promovendo ações de advocacy. Lembra ainda do trabalho dos coletivos feministas na distribuição de absorventes.

“Mas, pensando no futuro, não há solução sem o setor privado, que são os fabricantes dos produtos necessários para assegurar a saúde menstrual. O setor privado é quem pode desenvolver soluções de baixo custo para ampliar o acesso a produtos”, constata.


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