Pacto pela Equidade Racial incentiva atuação de empresas no enfrentamento às desigualdades

Por: GIFE| Notícias| 02/08/2021
Pacto pela Equidade Racial incentiva atuação de empresas no enfrentamento às desigualdades no ambiente corporativo

“Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. A frase da filósofa americana Angela Davis resume a importância de ultrapassar a barreira do discurso e tomar ação diante do racismo que estrutura a sociedade brasileira, proposta por trás do recém lançado Pacto de Promoção da Equidade Racial

mês da filantropia negraCriada por investidores, organizações da sociedade civil e especialistas no tema, a iniciativa tem como objetivo incentivar o debate sobre equidade racial no ambiente corporativo. 

Para Gilberto Costa, diretor executivo do JP Morgan no Brasil, um dos coordenadores do Pacto e membro do Conselho de Governança do GIFE, congregar diferentes atores em torno do objetivo de alterar a situação da desigualdade racial no Brasil em uma geração é o que faz com que a iniciativa assuma um papel importante e estratégico. 

Temos 56% de população negra no Brasil. Entretanto, se colocarmos esse percentual frente à promoção da diversidade racial nas empresas, veremos que seus quadros de funcionários demonstram sempre que o maior número populacional de negros não está refletido nos postos de trabalho, tanto nas empresas nacionais quanto nas subsidiárias de multinacionais que atuam no país”, explica Selma Moreira, diretora executiva do Fundo Baobá, uma das organizações que integra o Pacto. 

À frente de uma organização que atua com projetos e ações pró-equidade racial, Selma explica que a sociedade está em um processo acentuado de transformação e exigências para organizações lucrativas e éticas alinhadas com justiça social. Entretanto, a diretora reforça que incluir pessoas negras nas empresas e instituições vai além de uma questão ética, trazendo benefícios para as instituições. 

“Empresas que contam com equipes diversas têm melhores índices criativos e de produtividade. São diferentes vivências, culturas e formas de enxergar a vida que, juntas, contribuem a partir da troca de ideias”, pontua. 

Documento orientador 

Para apoiar as empresas a discutirem o tema, o Pacto congrega ações em diferentes frentes. Uma delas é a criação do Protocolo ESG Racial, que deve ser seguido pelas organizações-membro. 

O documento deixa claro que o desafio da equidade racial deve ser observado sob duas perspectivas: internamente nas organizações, com a adoção de ações afirmativas que incluem cotas e processos seletivos exclusivos para pessoas negras, e na sociedade, na qual a empresa está inserida, com investimentos em educação pública de qualidade e formação de mais profissionais negros. 

Essa determinação responde à insuficiência das ações afirmativas, como letramento racial, redução dos impactos do viés inconsciente, formação de gestores para uma mente mais inclusiva e redução das barreiras de entrada nos processos seletivos, para resolver a questão de forma estratégica e estruturante, uma vez que parte considerável da comunidade negra não é alcançada pelas iniciativas, como explica Gilberto. 

“O novo protocolo une ações afirmativas e investimento social de impacto racial como formas de combate às desigualdades e mensura seus resultados de forma matemática, o que traz à discussão a visão de médio e longo prazo do ponto de vista das empresas, seus investidores e acionistas. O documento reúne sugestões de ações afirmativas, de investimentos sociais de caráter racial e de percentuais que podem ser alocados para que as empresas trabalhem e melhorem seu Índice de Equidade Racial.” 

Medição criteriosa 

Outra ação contemplada pelo Pacto é o Índice ESG de Equidade Racial (IEER). Trata-se de uma medição que avalia quão equilibrada ou desequilibrada racialmente uma empresa está, a partir da análise da participação de negros em cada cargo e comparação do resultado obtido com a população negra economicamente ativa na região onde a empresa atua. Além disso, o índice também avalia a relação entre a posição da pessoa na organização e seu salário. 

Todas essas informações são calculadas matematicamente, o que resulta em uma classificação das empresas. Aliar a mensuração da desigualdade racial nas empresas a partir de critérios claros com a representatividade estatística da população negra naquela região tem como finalidade possibilitar a adoção de ações específicas de combate à desigualdade, adequadas a diferentes regiões que contam com características próprias. 

Ao utilizar o Índice ESG de Equidade Racial como forma clara e mensurável de apresentar a situação da empresa do ponto de vista de equidade racial aos acionistas e investidores, os CEOs poderão utilizar uma linguagem comum sobre a situação da empresa, as ações propostas para modificá-la e o investimento envolvido”, explica Gilberto. 

União de esforços

Quando o assunto é investimento na pauta de equidade racial, não faltam oportunidades. O próprio site da iniciativa traz exemplos e defende que a destinação de investimentos sociais em equidade racial reflete o objetivo de aprimorar a formação de mão de obra negra qualificada. Assim, a pauta da equidade racial perpassa e conecta-se a alguns Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como educação de qualidade (ODS 4), trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8) e redução das desigualdades (ODS 10). 

Olhando para essas diferentes áreas de atuação, a elaboração das estratégias do Pacto contou com a participação de lideranças, especialistas, organizações e coletivos do movimento negro. “Isso faz com que todos tenham um olhar apurado sobre as principais necessidades que poderão levar o Pacto ao seu objetivo, que é a busca da equidade em sua total amplitude. São excelentes cabeças que estão emprestando todo o seu conhecimento para essa causa”, explica Selma. 

Gilberto pontua que atuar de forma ativa contra as desigualdades significa entender que, no Brasil, elas estão conectadas com o fato de que pessoas negras recebem menos do que brancos, o que encontra razões em diferentes áreas, como na falta de investimentos para uma educação pública de qualidade e formação técnica dessa população. Para o coordenador, sem o investimento social de impacto racial não será possível mudar o cenário. 

O terceiro setor consegue apoiar as empresas nos investimentos em educação pública, ajudando a melhorar os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Ideb] da região na qual a empresa está inserida. Além disso, também pode promover projetos de melhoria do ensino público com inserção da pauta antirracista, formação de professores para uma educação antirracista e empreendedorismo negro.”

O diretor reforça que o investimento social privado (ISP) tem um papel fundamental e estratégico no apoio às empresas e governos a respeito do direcionamento de recursos para projetos estratégicos de combate à desigualdade racial. Além disso, a experiência do ISP na atuação conjunta com governos e sociedade civil pode torná-lo parceiro no combate à desigualdade.

Participe do Pacto pela Equidade Racial

A adesão ao Pacto é voluntária e gratuita. Empresas interessadas em somar-se devem assinar um termo de parceria com a Associação de Promoção da Equidade Racial e, uma vez membro do grupo, devem calcular o seu próprio Índice ESG de Equidade Racial com apoio de uma empresa certificadora.

Ainda, o Pacto preza pela transparência das organizações-membro e, por isso, se uma empresa não desejar divulgar o seu IEER no momento da adesão, terá um prazo de um ano e meio para investir em melhorias e divulgar o índice ou retirar-se do Pacto. 

Todas as informações estão disponíveis no site oficial da iniciativa.

*Este conteúdo faz parte do Mês da Filantropia Negra, co-promovido por GIFE e Rede Temática de Equidade Racial.

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