Plataforma ODS e atuação em rede é tema na Jornada ISP

Por: GIFE| Notícias| 12/12/2018

Aprofundar parcerias e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão entre as principais propostas da Plataforma de Filantropia, lançada no Brasil em abril de 2017. Este foi o tema central do segundo dia de Jornada ISP, realizada na Cinemateca, em São Paulo. O Brasil foi o oitavo país a lançar a Plataforma além do Quênia, Gana, Zâmbia, Indonésia, Colômbia, Estados Unidos e Índia. Os ODS são uma agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015 e é composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030.  A proposta da Plataforma é fortalecer os esforços em torno dos ODS e alavancar os recursos com os parceiros, que incluem organizações e fundações filantrópicas, as Nações Unidas e outros parceiros de desenvolvimento, governos, sociedade civil e setor privado.

Os desafios de implementação e promoção dos ODS foi a premissa para a mesa “Agendas Temáticas: parcerias e horizontes de ação”, que trouxe experiências relacionadas a quatro temas: educação, desigualdade, justiça e parceria.  Esses objetivos foram selecionados por serem grandes aceleradores dos processos de transformação na sociedade e porque as fundações e institutos presentes demonstram ter maior capacidade de atuação e de fomento nestas áreas.  Para a discussão, estiveram presentes Erika Sanchez Saez, do GIFE, Handemba Mutana, da Fundação Tide Setubal; Simone Gallo, do Itaú e Fabio Almeida, do Instituto C&A.

Patrícia Loyola, diretora de Gestão e Comunicação da Comunitas, mediou o debate e iniciou a discussão falando sobre o quanto a Plataforma ODS é uma iniciativa global importante, pois convoca institutos e fundações a atuarem em rede e como promotores. “O que nos une é o objetivo de trabalhar coletivamente. E aqui nós fazemos um exercício em que a essência é a colaboração. O nosso olhar sempre foi o da transformação sistêmica”, afirmou.

ODS 4 – Educação de qualidade

No Brasil, de cada 100 crianças que entram na educação básica, só 59 concluem o Ensino Médio até os 19 anos. A defasagem na educação brasileira é o centro da discussão do ODS 4, que de acordo com a ONU tem como objetivo “assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”.

A educação é também o que mobiliza a maioria dos filantropos brasileiros. De acordo com os dados do Censo GIFE, de 2016, 84% dos 116 associados respondentes da pesquisa atuam em educação. 71 % tem, ao menos, um projeto na área. “Educação é o principal foco de atuação da filantropia brasileira. “Precisamos entender com profundidade como estamos atuando e de que forma podemos ser mais efetivos e mais impactantes”, afirmou Érika Sanchez Saez, gerente de programas do GIFE.

Rogério Mônaco, relações institucionais, do Todos pela Educação compartilhou com o público a experiência do projeto “Educação Já”, uma iniciativa suprapartidária de construção de agenda para o próximo governo com o objetivo de fazer as mudanças necessárias e avançar nesse segmento.

ODS 10 – Redução das desigualdades

O Brasil está entre os cinco países mais desiguais, de acordo com um estudo publicado pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (IPC-IG/PNUD), pauta orientadora do ODS 10. Conscientes da questão, a Fundação Tide Setúbal criou o “Diversidade começa por você”, um projeto de engajamento para inclusão de diversidade nas organizações e com foco em gênero e raça, dois pilares estruturantes de desigualdade.

De acordo com Handemba Mutana, coordenador de ação macropolítica da Fundação, o primeiro passo é entender o contexto de cada fundação para que seja possível fazer um diagnóstico e criar soluções viáveis para cada organização. “A gente acredita que, aumentando a diversidade das organizações, nós estamos contribuindo para a redução das desigualdades. Além disso, incluir diversidade traz diferença de pensamentos e promove maior representatividade no trabalho. Isso pode impactar o campo da filantropia”, disse Mutana.

Atualmente apenas 2% dos investidores sociais privados levam em consideração o critério de raça e outros 4% levam em conta a diferença de gênero.

ODS 16 –  Paz, Justiça e Instituições Eficazes

“Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis” é o Objetivo 16. Simone Gallo, gerente de Relações Institucionais e Governamentais do Itaú-Unibanco, falou sobre o desafio de frear o aumento no número de mortes violentas que tem crescido anualmente no país – de acordo com o Atlas da Violência de 2018, 553 mil pessoas morreram violentamente no Brasil na última década. “A nossa missão é unir sociedade civil e governo. A gente quer trazer o governo para dentro da discussão e trazer as melhores práticas que já estão acontecendo no Brasil para prevenção na questão de segurança. É preciso ter educação, uma sociedade mais igual de fato para prevenir e para diminuir a quantidade de homicídios, especialmente homicídios violentos”, observou Gallo.

ODS 17 – Parcerias e meios de implementação

O ODS 17 se destaca por ser um grande eixo estruturante que conecta os demais Objetivos e cria meios de implementação. De acordo com Fábio Almeida, do Instituto C&A, “o ODS 17 tenta fomentar as parcerias dentro dos diferentes setores da sociedade e entre os países de renda baixa, média e alta”. São 198 metas divididas em 7 categorias.

Um exemplo prático de parceria e que ilustra bem como é possível fazer mobilização para fins públicos, é a experiência da 99 em parceria com a prefeitura de São José dos Campos que utiliza a filantropia de dados, uma tendência que tem sido observada com frequência. Por meio dos dados de mobilidade de seus usuários, a prefeitura pode otimizar e priorizar investimentos no setor viário, criar políticas públicas ou direcionar o horário de funcionamento das repartições públicas, por exemplo. Uma série de iniciativas baseada na utilização desses dados.

Outro exemplo de mobilização de recursos, é a experiência da Fundação Tide Setubal com o projeto Vivenda, que operava reformando moradias em comunidades de baixa renda. A Fundação já apoiava essa ação com o investimento direto e doações às famílias mas mudaram a atuação e resolveram atacar a escala de uma forma mais inovadora. Por meio de alguns intermediários e olhando para a questão de negócios de impacto, desenvolveram debênture de impacto na qual a Fundação é garantidora dessa estrutura, o que permitiu que investidores privados entrassem nesse mercado para o qual eles não estavam olhando antes.

Jornada ISP

A Jornada ISP, realizada entre os dias 29 e 30 de novembro foi organizada em duas trilhas temáticas. A programação do dia 29, “Fortalecimento da Sociedade Civil”, foi dedicada aos aprendizados e acúmulos do projeto “Sustenta OSC”, que tem como objetivo promover um ambiente regulatório mais favorável para a atuação das Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O segundo dia, “Promoção do Desenvolvimento Sustentável”, discutiu questões relacionadas aos desafios e à implementação da Plataforma de Filantropia das ODS Brasil.


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