PretaHub incentiva inventividade, criatividade e tendência do empreendedorismo negro no Brasil 

Por: GIFE| Notícias| 29/07/2019

 

Em 2019, a Feira Preta chega à maioridade. O que nasceu como uma feira de produtos e serviços de empreendedores negros e se transformou em um instituto dedicado a fomentar o empreendedorismo negro a partir de diferentes iniciativas, agora olha para o futuro e celebra cada uma das etapas dessa jornada com um importante reposicionamento: o PretaHub, que passa a concentrar todos os projetos do Instituto Feira Preta com o objetivo de expandir o alcance dessas iniciativas junto à população e aos investidores.

“O PretaHub é o resultado de dezoito anos de trabalho do Instituto Feira Preta no mapeamento, capacitação técnica e criativa, aceleração e incubação do empreendedorismo negro no Brasil. É um hub de inventividade, criatividade e tendência pretas”, afirma Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e presidente do PretaHub.

A empreendedora chama atenção para uma mudança relevante nos últimos vinte anos: a autodeclaração. Segundo ela, o fato de o jovem negro de hoje se reconhecer e se posicionar como negro muito mais rápido e naturalmente, coloca um novo tipo de demanda para o mercado e para a sociedade.

“A partir do momento que a população negra começa a aparecer na Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], por exemplo, como maioria da população brasileira, a lógica muda, esse processo muda as relações no Brasil. Daí temos as cotas nas universidades, a inclusão racial no contexto corporativo, começamos a falar de consumo consciente e filantropia a partir da perspectiva negra”, observa.

A fundadora do PretaHub avalia, no entanto, que o avanço ainda se limita à autodeclaração. “Temos 131 anos pós abolição e só nos últimos 20 começamos a nos perceber e reconhecer como negros. É um processo cultural e também estrutural. E esse é o grande gap: aceleramos nesse processo de autodeclaração, mas não nos processos de equidade. Somos um Brasil negro, então precisamos ocupar de forma equânime todos os lugares. O de consumidores, mas também o de líderes, os espaços de tomada de decisões”, defende.

Representatividade

Para Adriana, a tarefa do investimento social privado na agenda é dar ao debate racial um caráter sistêmico. “É preciso pulverizar os recursos e ações destinadas ao tema da equidade racial. É papel de todas as organizações do setor fazer desse debate uma prioridade de suas agendas.”

Às organizações que desejam investir no tema, a empreendedora recomenda o acesso aos dados da pesquisa A Voz e a Vez – Diversidade no Mercado de Consumo e Empreendedorismo, realizada pelo Instituto Locomotiva com apoio do Itaú a pedido do Instituto Feira Preta. O estudo ouviu proprietários de empresas e empreendedores que fazem parte da Feira Preta e reuniu o material com dados públicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da base de dados do próprio instituto de pesquisa.

A pesquisa mostra que, representando 54% da população brasileira, as pessoas negras movimentam uma renda própria de R$ 1,7 trilhão por ano. Cerca de 14 milhões são empreendedores (29% da população negra), que movimentam R$ 359 bilhões em renda própria por ano. Se formassem um país, este seria o 17º em consumo no mundo e 11º em população. Mesmo assim, a média salarial de um empreendedor negro (R$ 1.420) equivale à metade da média de remuneração de um empreendedor branco (R$ 2.827). A maioria (39%) está na faixa dos 35 a 49 anos e 53% têm o Ensino Fundamental completo. 82% não têm Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e 57% diz sofrer preconceito na hora de abrir seu próprio negócio no Brasil.

O estudo também constatou que, apesar de ter uma grande representatividade entre produtores e consumidores, a população negra sente o racismo presente nas relações institucionais e não se identifica com a comunicação. Mais de 90% das campanhas têm protagonistas brancos e 72% dos consumidores negros consideram que as pessoas que aparecem na publicidade são muito diferentes deles. Dos entrevistados, 82% dizem que gostariam de ser mais ouvidos pelas empresas.

Projetos

O PretaHub atua nos quatro pilares (criação, produção, distribuição e consumo) do mercado de produtos e serviços voltados à estética e cultura negra, realizando um trabalho de articulação entre a oferta e a demanda.

Para isso, o negócio desenvolve quatro programas principais:

Afrolab – Programa de apoio, promoção e impulsionamento do afroempreendedorismo que oferta conhecimento e capacitação técnica e criativa, com foco em inovação, inventividade e autoconhecimento. Em sua primeira edição, em 2018, capacitou mais de 250 empreendedores em seis estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maceió). Em 2019, leva para nove estados brasileiros o Afrolab Para Elas, voltado exclusivamente para mulheres negras empreendedoras.

AfroHub – Programa de aceleração de empreendimentos negros com foco na decodificação dos códigos da internet para o uso das redes sociais de forma estratégica para o crescimento dos negócios. É idealizado em parceria com Afrobusiness e Diáspora.Black com apoio do Facebook. Em 2018, capacitou mais de mil empreendedores em quatro estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo). Em 2019, o projeto chegará a mais estados.

Conversando a Gente Se Aprende – Diálogos criativos e propositivos com instituições privadas, públicas e marcas para sensibilizar e promover a cultura da diversidade racial dentro da organização a partir de diálogos qualificados, abordagem humana e centrada na qualidade das relações, autoliderança, corresponsabilidade e ações práticas. Metodologia própria criada e realizada em parceria com a Mandacaru Consultoria. Já foi desenvolvido junto a empresas como Netflix, Facebook, Google, Bloomberg e Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Festival Pretas Potências – A primeira edição aconteceu no dia 13 de maio de 2018. A data, marcada oficialmente pelo dia da abolição da escravidão, que tem sido ressignificada pelos movimentos negros como o dia da abolição inconclusa, ganhou programação focada na inovação, criatividade e resistência negra. Os coletivos Alma Preta e Coletivo Abebé foram parceiros na realização do evento, que teve apoio do Centro Cultural São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura e Prefeitura Municipal de São Paulo. Sob o tema “Passado Presente e Futuro”, a edição de 2019 trouxe os jovens ao epicentro da discussão sobre negritude, herança e diáspora.

Fundo ÉdiTodos – Fundo social que reúne doze entidades entre organizações da sociedade civil, aceleradoras e empresas sociais. É fruto do trabalho iniciado no âmbito da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto – na ocasião Força Tarefa de Finanças Sociais -, liderado pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE). A SITAWI Finanças do Bem faz a gestão dos recursos captados a partir de doações.

Todas essas ações são canalizadas para o Festival Feira Preta. Maior festival de cultura negra da América Latina, o evento recebeu mais de 50 mil pessoas em sua última edição. Criado em 2002 como uma feira de produtos de empreendedores negros, Feira Preta é, atualmente, um festival que apresenta conteúdos, produtos e serviços que representam o que há de mais inventivo e inovador na criatividade preta em diferentes segmentos do empreendedorismo, da tecnologia à literatura, da música às artes digitais, passando também pelos painéis com o que há de mais urgente e futurista nas reflexões da existência negra.

Com uma programação que ocupa territórios descentralizados com atrações nacionais e internacionais, o Festival pauta a comunicação de grandes veículos de comunicação nacionais no mês de novembro, que celebra o Dia da Consciência Negra. Em 2018, foram mais de 40 atrações nacionais e internacionais ao longo de dez dias, 120 expositores, atividades distribuídas entre dez territórios culturais diferentes e circulação monetária superior a R$ 700 mil reais durante o evento. A edição deste ano acontece no dia 20 de novembro.


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