Programa da Fundação Otacílio Coser incentiva participação da comunidade no ambiente escolar

Por: GIFE| Notícias| 10/12/2018

Uma instituição de ensino é formada por pessoas com diferentes atribuições, desde os alunos, passando pelos professores e equipe pedagógica até chegar nos coordenadores e diretores. Muitas escolas, entretanto, não envolvem atores importantes no processo educacional: os pais, responsáveis e a comunidade do entorno da escola.

Como forma de incentivar a articulação de comunidades educativas para que criem de forma colaborativa soluções para seus desafios, a Fundação Otacílio Coser (FOCO) oferece o programa Rede Escolaí. Para entender seu funcionamento, é preciso dar um passo atrás e voltar a 2001, quando algumas empresas do Grupo Coimex começaram a fazer trabalhos voluntários em uma escola estadual localizada na região da Avenida Paulista, em São Paulo.

Marta Cavalheiro, coordenadora de programas da FOCO, explica que, depois desse período, em 2005, o professor Antônio Carlos Gomes da Costa foi convidado para sistematizar o trabalho dos voluntários e pensar em um conjunto de conteúdos e atividades que pudessem mobilizar a comunidade escolar para que, de forma conjunta, pensasse em qual escola desejava. “Em 2009, o que a Fundação queria era que esse programa fosse replicável e ganhasse escala. Mas no formato que estava estruturado não tinha essa escalabilidade.”

A partir de um processo de consultoria, foi organizada uma sistematização para que a proposta fosse adaptável e pudesse ser disseminada. “Em 2013, com a saída da consultoria, a Fundação decidiu internalizar a coordenação do programa. Houve uma reestruturação e a mudança para o nome Rede Escolaí. Se olharmos a linha do tempo, ele mudou de nome, mas a proposta é a mesma desde 2005, então estamos caminhando para 14 anos de programa.”  

Desde sua última reformulação, o Rede Escolaí tem uma proposta simples mas eficiente: fomentar a mobilização e articulação da comunidade educativa para estabelecer uma corresponsabilidade pelo processo educacional. “A nossa ideia é que essa comunidade, de forma articulada, comece a criar soluções para seus desafios. Nós acreditamos muito na força do voluntariado, que pode contribuir, e muito, para o aumento do capital social da escola.”

Nesse sentido, a FOCO entende comunidade educativa como um conjunto de representantes da rede pública de ensino, professores, funcionários, diretores, coordenadores, alunos, familiares, voluntários da comunidade e instituições do entorno da escola.

O processo acontece a partir da adesão voluntária das escolas ao programa, seja a partir de um convite da FOCO, pelo próprio interesse da escola, por um convite da Secretaria de Educação ou pelo programa Escola da Família. Atualmente, é desenvolvido em dez municípios: cinco no estado de São Paulo, em escolas estaduais, e cinco municípios do Espírito Santo, em escolas municipais e estaduais.

Atividades

De forma geral, Marta explica que a Fundação trabalha para a melhoria do clima interno da instituição de ensino. Depois da adesão da escola, cada uma vai conhecer a estrutura do programa, distribuída em quatro anos. Esse conjunto de propostas de atividades forma a chamada Gincana Comunidade Educativa, que pode acontecer dentro ou fora do ambiente escolar.

A cada ano, a Fundação sugere temas, atividades e propostas de acordo com o grau de amadurecimento da instituição de ensino. Marta exemplifica: “Uma das propostas para o primeiro ano é cuidar de uma praça no entorno da escola. Pode ser uma aula diferente de plantação ou mutirão de limpeza. É uma oportunidade para chamar voluntários e familiares e envolver o poder público para pedir autorização. Tudo depende do que a escola quer fazer.”

Outro exemplo para momentos iniciais é fazer um levantamento histórico sobre o bairro ou região onde a escola está inserida. “Dessa forma, é possível trabalhar a relação de pertencimento ao local e começar uma conexão afetiva com aquele lugar, além da possibilidade de contato com a história viva das pessoas que moram ali, que frequentam ou frequentaram a região, ou com os familiares. Também sugerimos o mini censo de escolaridade das famílias para descobrir se os pais e responsáveis pelos alunos deram continuidade aos estudos. Pais que estudaram incentivam, participam e acompanham a vida escolar de seus filhos.”

Apesar de ter uma metodologia definida e sugerir atividades, o programa não determina o que deve ser feito por cada escola. “Nós não sugerimos um passo a passo. Fazemos uma proposta de acordo com o objetivo de cada ano, mas são os alunos que definem o que será feito.”

Enquanto o primeiro ano da Gincana é mais dedicado a uma introdução, no segundo Marta explica que pressupõe-se que os alunos estejam mais unidos e, por isso, devem começar a planejar outras ações. No terceiro ano, os trabalhos podem ser desenvolvidos em vários temas amplos como comunicação, cultura de paz, arte e cultura e voluntariado.

Conforme o programa vai avançando dentro da escola, professores e alunos são convidados a compartilhar suas experiências em uma plataforma específica do Rede Escolaí. Ao final de cada ano, a Fundação faz um fechamento do programa com adesão de novas escolas e formatura daquelas que já estão há quatro anos desenvolvendo atividades.

“Como forma de incentivo, nós premiamos as escolas que mais mobilizam seus atores e alunos com diferentes turmas na comissão e professores de diferentes matérias porque quanto mais saberes envolvidos, mais rica ficará a produção das atividades com esses múltiplos olhares. Se o programa só acontece em uma turma pequena ou só com uma série, isso não contagia a escola toda e nós queremos cada vez mais gente participando ativamente. Também premiamos aquelas que têm ideias geniais porque queremos fazer um benchmarking mesmo, de compartilhar boas ideias.”

Transformação das escolas

Para exemplificar a potência do projeto, Marta cita o caso de uma escola localizada em São Bernardo do Campo, na região do ABCD paulista, que enfrentava casos de evasão escolar, indisciplina dos alunos e depredação do espaço. Além disso, a escola, que era regular e passou a ser integral, também contava com a resistência do corpo docente para com a mudança. Todo o cenário contribuía para que os indicadores da instituição fossem baixos.

“Em 2015, essa escola entrou no Rede Escolaí. No primeiro ano, eles foram premiados e foi uma farra porque como prêmio, geralmente pagamos um oficineiro que vai até a escola para dar oficina aos alunos e eles escolheram uma oficina de street dance, da cultura hip hop. O que nós ficamos muito felizes foi que, a partir daí, eles começaram a experimentar uma mudança. É uma escola pequena que não chega a 400 alunos, mas começaram a ter um olhar humano e se apropriar de várias tarefas da Gincana e isso começou a transformar aquele lugar. Hoje, os próprios alunos estão propondo as atividades fora de sala de aula.”

Além disso, Marta conta que os pais e responsáveis, que antes não se envolviam com a educação dos filhos, passaram a frequentar a escola, apoiando a diminuição da depredação, do abandono, fazendo reparos e até mesmo ministrando palestras. “Quando os alunos precisam se ausentar por algum motivo, por exemplo, os pais se antecipam e ligam para a escola para explicar porque não querem que eles faltem. Virou uma super escola e eles atribuem parte do sucesso ao programa.”

Outro caso de destaque é o de uma escola onde a comunidade descartava todo tipo de lixo em um local próximo à entrada dos alunos. Na atividade de revitalização da praça, a direção, juntamente com professores e alunos, decidiu transformar aquele espaço em uma praça. “A escola fez uma campanha com duração de quase um ano para sensibilizar a comunidade a não jogar mais lixo. Depois de limparem, voltaram a descartar lixo. Os funcionários e alunos limparam novamente, colocaram uma faixa e depois de algumas tentativas, conseguiram manter o lugar limpo. Eles que moram naquela comunidade que propuseram, não fomos nós.”

Empoderamento

Um bom programa, entretanto, não é suficiente para a mudança institucional de uma escola. Marta ressalta que é preciso um corpo docente envolvido que ‘compre a ideia’, além de alunos de grêmios estudantis ou representantes de sala que repassem as propostas e contagiem seus colegas, sem contar a direção da escola, que precisa estar comprometida.

Um ponto fundamental segundo a coordenadora, é envolver a comunidade para que ela mesma possa dizer quais são as melhores soluções para seus desafios. “É claro que nós temos uma intencionalidade, mas fazemos um programa muito livre e solto, meio com cara de brincadeira para os alunos porque quando são eles que geram a melhoria do clima e isso não vem de fora, de um agente externo, a chance disso se perpetuar é muito maior. Nós acreditamos no protagonismo deles porque são eles que vão sensibilizar os demais.”


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