Relatório aponta caminhos para desenvolvimento sustentável do agronegócio
Por: GIFE| Notícias| 06/09/2021Em 2020, a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 26,6%, o que corresponde a quase R$ 2 trilhões. O PIB nacional totalizou, no ano em questão, R$ 7,45 trilhões, de acordo com cálculo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Um estudo encomendado pela Agenda Pública a pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que os municípios considerados agropecuários no Brasil possuem nível de desenvolvimento humano menor do que os “não agro”. Somadas, as localidades em que o agro está presente representam 36,4% do total de municípios do país, uma parcela relevante que, entretanto, sustenta indicadores sociais piores do que os demais.
A publicação O agro pode mais: caminhos para o desenvolvimento sustentável comparou as condições socioeconômicas dos 5.570 municípios brasileiros e classificou como sendo “agro” aqueles que apresentaram mais de 50% de sua mão de obra empregada em atividades agropecuárias e valor agregado do setor acima dos demais. Os “não agro” são, portanto, aqueles que não se enquadram nesses critérios.
De acordo com o estudo, a concentração de população considerada pobre (10%) também é maior entre os municípios agropecuários do que entre os não agro (5%). A análise revela ainda que uma importante parcela desses lugares possui níveis de pobreza acima de 40%, além de piores índices em infraestrutura urbana, abastecimento de água e tratamento de esgoto, se comparados aos não agropecuários.
Sergio Andrade, diretor executivo da Agenda Pública e um dos coordenadores da pesquisa, explica que o objetivo do material é estimular mudanças na forma como o setor compreende o seu papel no desenvolvimento econômico local.
“Para grande parte das pessoas, as externalidades do setor não são tão claras, pois a agropecuária faz parte da paisagem e da cultura. É o exato contraponto à mineração, por exemplo, na qual os impactos socioambientais e econômicos são mais visíveis. No caso do agro, a produtividade e a geração de riqueza, na maioria das vezes, são os aspectos mais destacados”.
Desenvolvimento local e o papel do agronegócio
O diretor avalia que, em muitos municípios, a geração de impostos e de empregos diretos pelas atividades do agronegócio têm peso relativo. “Em regiões com atividades intensivas em capital, baseadas em produtos para exportação como soja, por exemplo, a capacidade de retenção de receitas pelo próprio município pode não ser satisfatória para oferecer serviços públicos adequados à população. Uma das razões é a natureza dos impostos gerados. A pouca receita do Imposto Sobre Serviço (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) não é compensada pela arrecadação de Imposto Territorial Rural (ITR), que é pouco representativa em sua maioria.”
Outro fator apontado por Sergio para a baixa geração de empregos em algumas localidades é a mecanização do campo. Por isso, ele crê que seja importante apostar em estratégias de desenvolvimento local, diversificação de oportunidades e acesso a serviços básicos para que a prosperidade não seja gerada apenas para uma pequena parcela da população.
Desafios para o setor
Ao afirmar que “o agro pode mais”, o estudo elenca três pontos essenciais para a transformação da vida no campo. O primeiro é a ação do poder público como indutor de políticas e diretrizes sustentáveis, com potencial para repercutir os caminhos para a sustentabilidade em esferas nacionais, estaduais e municipais, além de se mobilizar contra o avanço do desmatamento e a apropriação ilegal de terras e estabelecer bases para uma produção sustentável.
O segundo ponto é a produção de conhecimento científico e o compartilhamento de boas práticas no meio rural, com o objetivo de elevar a produtividade e a qualidade de vida, além de estimular o uso eficiente dos recursos naturais. Por fim, as parcerias público-privadas, com o papel fundamental de levar ações de cidadania aos territórios em que atuam, o que inclui o apoio aos serviços de saúde, educação e infraestrutura.