Seminário pauta potencial do Blended Finance para o alcance dos ODS

Por: GIFE| Notícias| 23/09/2019

Em 2018, o Fórum Econômico Mundial apontou uma lacuna de US$ 2,5 trilhões por ano para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Apesar do compromisso dos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) com a agenda, a dimensão do recurso deixa evidente a necessidade de envolvimento de atores para além do setor público e da filantropia. Nesse sentido, os olhares têm se voltado ao engajamento do setor de investimentos com essas metas.

Apesar de ainda não haver um alinhamento no setor acerca da integração da perspectiva de impacto, cresce o número de investidores conscientes que desejam alocar seu capital em modalidades que consideram impacto socioambiental positivo para além do tradicional risco-retorno. Como direcionadores de recursos financeiros para os mais variados setores econômicos, investidores institucionais podem ter um papel protagonista na viabilização dos ODS.

Com base nessa perspectiva, Din4mo, Convergence e Invest Social realizaram no dia 18 de setembro o 1o Seminário do Brasil sobre Blended Finance – Estratégias inovadoras para o financiamento dos ODS.

A modalidade Blended Finance visa alavancar soluções para os desafios de financiamento das iniciativas de impacto, possibilitando que investidores catalisem recursos para a transformação social e ambiental a partir do uso estratégico do financiamento para o desenvolvimento e de recursos filantrópicos.

O evento trouxe um panorama sobre o assunto, além de apresentação de case e debates entre atores diversos do ecossistema.

O Blended Finance foi reconhecido pela primeira vez como uma solução para a lacuna de financiamento dos ODS no documento final da Terceira Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, realizada em julho de 2015.

Joan Larrea, CEO da Convergence – uma das principais instituições do ecossistema de Blended Finance do mundo – explica que o grande diferencial do instrumento é combinar diferentes expectativas em relação a risco, retorno e liquidez e distintas fontes de capital em prol de uma finalidade comum: o impacto socioambiental positivo. A especialista ressalta o potencial da ferramenta.

“Se olharmos o PIB global, a lacuna de 2,5 trilhões de dólares ao ano é pequena: apenas 1%. Apenas 10% de todo o recurso anual voltado ao financiamento do desenvolvimento, que é de 149 bilhões de dólares, alocado em Blended Finance poderia mobilizar 105 bilhões de dólares em financiamento privado adicional por ano.”

Panorama

A estimativa é que o mercado de Blended Finance tenha mobilizado até hoje um total de 132 bilhões de dólares, segundo dados mapeados pela Convergence, sendo 17% na região da América Latina e Caribe 17%. O Brasil corresponde a 5% do fluxo nessa região, com 85 transações, sendo a maioria operada por investidores estrangeiros.

Aakif Merchant, da Convergence, ressalta a importância da estratégia no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “O ODS mais alinhado ao Blended Finance é o 17, que versa sobre a necessidade de reunir os diferentes players para o alcance das metas. E quem são esses stakeholders? Agências de desenvolvimento, bancos multilaterais e instituições financeiras nacionais de desenvolvimento, investidores privados e fundações filantrópicas.”

Apesar da grande quantidade de atores internacionais, o especialista observa a necessidade de mobilizar recursos nacionais. “Há muito capital que pode ser mobilizado no Brasil, como fundos de pensão e empresas de seguros – a maior parte do recurso – e bancos locais que podem investir no alcance das metas mais oportunas para o contexto do país. Algumas dessas instituições podem abrir caminhos, inclusive, gerando confiança a futuros investidores.”

Aakif enfatizou ainda o potencial de fundações e institutos atuarem como catalisadores e mudarem paradigmas no setor. “Vocês têm um papel muito importante nesse ecossistema por terem a capacidade de assumir riscos logo de início, uma característica que pode ajudar na atração de investidores privados no futuro”, convocou.

Programa Vivenda

E foi exatamente isso que oportunizou o Programa Vivenda, especializado em reformas de moradias populares. Em 2014, a Din4Mo e o Grupo Gaia se uniram para desenvolver a primeira debênture de impacto social do país. O título foi pensado a partir do conceito de Blended Finance como solução para dois grandes gargalos do Programa: capital de giro e crédito para o cliente de baixa renda. A operação permitiu a captação de R$ 5 milhões e deve impactar cerca de 32 mil pessoas.

O papel pioneiro foi emitido pela Gaia Cred II e distribuído pelo Itaú Private Bank para dar ao Vivenda a possibilidade de oferecer crédito aos clientes que desejam fazer reformas em moradias localizadas em regiões de baixa renda. Entre os principais apoiadores dessa solução estão Fundo Zona Leste Sustentável, EP8 Participações e Maraé Investimentos.

Para Marco Gorini, um dos fundadores da Din4mo, Blended Finance pode ser uma alavanca na criação de infraestrutura para impulsionar a agenda de impacto. “É preciso coragem e empatia. Sem isso não há relação de confiança e sem relação de confiança não existe Blended Finance.”

Desafios e oportunidades

Para Joan, instituições intermediárias que fomentem a criação de infraestruturas adequadas para o modelo e o entendimento das demandas dos diferentes tipos de investidores são dois ingredientes primordiais para o êxito e a escalabilidade da modalidade no Brasil.

Humberto Matsuda, da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), por sua vez, acredita que o principal aspecto a ser trabalhado para o futuro do Blended Finance é a mudança de mindset. “Divulgar conceitos que ajudem na propagação da ideia é fundamental. Estamos vivendo um momento onde a mudança em como investir pode mudar a cara do mundo. Essa avaliação sempre foi feita em longo prazo, mas a urgência de pautas como as mudanças climáticas deixa claro que não temos tempo. Impacto tem que começar a compor a avaliação de risco-retorno. Essa deve ser a nova forma de pensar qualquer tipo de investimento.”


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