Pesquisa “Olhares do ISP” aprofunda reflexões sobre temas do investimento social a partir das perspectivas de lideranças

Após o Censo GIFE 22-23 evidenciar dados quantitativos sobre o Investimento Social Privado (ISP), a pesquisa “Olhares do ISP” apresenta, com uma abordagem qualitativa, os avanços, desafios e oportunidades do setor. No último especial redeGIFE do ano, detalhamos os principais pontos do estudo, destacando temas como diversidade, justiça social, cultura de doação e a necessidade de maior transparência e sensibilização para ampliar o impacto no Brasil

Após o Censo GIFE 22-23 apresentar informações quantitativas a respeito do cenário do Investimento Social Privado através da perspectiva dos seus associados, chegou a vez de lançar luz sobre esses dados a partir de entrevistas. Baseado nesse enfoque, o GIFE lança, nesta segunda-feira (2), a pesquisa “Olhares do ISP”, que aborda os desafios mais relevantes e as oportunidades do setor. 

Com o subtítulo “Reflexões e análise do setor à luz do Censo GIFE”, o estudo  aprofunda os temas do ISP no Brasil por meio das perspectivas de lideranças dos associados GIFE. 

“Uma pesquisa qualitativa nos permite mergulhar com mais profundidade nos debates, nas práticas e mesmo nas contradições do ISP e da filantropia institucionalizada enquanto fenômenos sociais e humanos”, afirma Patrícia Kunrath, coordenadora de Conhecimento do GIFE. 

Ivone Maio, diretora executiva do Instituto Cíclica, parceiro técnico do estudo, destaca que a pesquisa buscou trazer diferentes vozes do campo, que pudessem emprestar suas vivências, para refletir sobre temas centrais da filantropia hoje, mostrando ideias e práticas que podem inspirar o avanço do campo. Ela acredita que a pesquisa consegue abordar a diversidade de posições, inclusive as controvérsias entre as falas coletadas. “Escutar estas contradições oferece uma oportunidade de olhar os fenômenos de outros prismas.”

Governança e diversidade

O material traça um panorama geral do ISP, apresenta a cronologia de fortalecimento do setor no contexto brasileiro, identifica seus debates centrais no cenário atual e seus desafios para o futuro. Nesse sentido, chama atenção o reconhecimento que boa parte dos entrevistados faz sobre os avanços do campo da filantropia no Brasil, que se entende mais estratégica, mais profissional, mais interessada em produzir impacto social transformador, e, especialmente, mais diversa em suas formas de atuação.

Por outro lado, os atores e atrizes também reconhecem desafios persistentes, a exemplo das desigualdades que perduram no campo, especialmente no que se refere aos espaços de tomada de decisão e para quem e onde os recursos investidos efetivamente chegam.

Uma preocupação de Patrícia Kunrath nesse sentido, foi o quanto alguns respondentes ainda consideram a pauta da equidade como algo futuro e que se desenrolará “naturalmente” em suas organizações. “Acredito que precisamos de ações urgentes para reverter as ausências e nos espaços de tomada de decisão.”

Ainda assim, Ivone Maio ressalta que nos últimos anos o tema ganhou mais centralidade e conseguiu gerar efeitos nas políticas organizacionais. Organizações compartilharam com a Olhares do ISP uma série de medidas que tomaram nos últimos anos para ampliar a diversidade de suas equipes, como a proposição de conselhos consultivos mais diversos que apoiem o conselho deliberativo, geralmente ligado aos mantenedores. 

“Construir a diversidade real nas organizações nem sempre tem se mostrado uma tarefa fácil, ela esbarra em questões estruturais como o racismo e o sexismo, em tradições consolidadas da forma como os espaços de poder são constituídos e até mesmo na falta de autocrítica.”

IVONE MAIO, diretora executiva do Instituto Cíclica

Focos de atuação do ISP

A pesquisa também se dedicou a identificar as temáticas que têm sido priorizadas pelo ISP. De modo geral, os temas mais frequentemente trabalhados pelos associados estão relacionados às temáticas de educação, cultura e juventudes, conforme a série histórica do Censo GIFE tem mostrado há anos. O mais recente apontou que 71% dos respondentes apresentaram essa área de foco. A escolha é associada às possibilidades de geração de impacto em diferentes níveis, para além da educação dos beneficiários, de forma indireta.

“Vários estudos demonstram que se a gente conseguir melhorar os indicadores de educação no Brasil, você vai ter ganhos indiretos em outros indicadores específicos, como renda e combate a violências”, declarou uma fundação independente para a pesquisa.

Segundo a pesquisa, apesar da perspectiva de “transversalidade” defendida pelos associados, na maior parte dos casos relatados, os projetos possuem um enfoque comum: a capacitação voltada ao mercado de trabalho. 

Sendo possível identificar nessa escolha uma “percepção das elites brasileiras de que a educação seria o recurso central para a criação de oportunidades de mobilidade social no país –  sem, contudo, apontar para medidas de justiça social e reparação de desigualdades de forma direta”.

Ainda sobre as áreas temáticas, as organizações ouvidas apontaram as questões ambientais, com enfoque na mitigação da crise climática, como aquelas que devem ser fortalecidas. Efeitos específicos da emergência ambiental, como os relacionados ao acesso à água, são apontados entre as pautas prioritárias para os próximos anos do ISP.

Cultura de Doação

Um dos grandes consensos encontrados pela pesquisa entre os participantes, está o de que inexiste uma cultura de doação no Brasil. Constatação que aparece justificada por três pontos principais:

“Não há uma cultura de filantropia no Brasil. Isso está claro. E, nesse sentido, eu acho também que é uma situação de causa e efeito. Não há muita informação, ou há uma informação distorcida, sobre o que é filantropia no Brasil no geral. O imaginário brasileiro confunde filantropia com caridade […]”, disse uma organização independente. 

Mas as lideranças apontaram caminhos para superar esse desafio. “Investir na sensibilização de gestores e investidores para a doação, apresentar oportunidades concretas para esses líderes aplicarem seus recursos de maneira informada, ampliar a incidência na mídia, disseminando informações sobre o ISP e seu impacto social para um público mais geral”, pontua Ivone Maio. Trabalhar para que os incentivos legislativos para a doação avancem, como impostos sobre grandes fortunas e heranças, também está entre os possíveis caminhos, completa a diretora. 

A grande desconfiança no terceiro setor brasileiro, também foi comentada pelos participantes. Nesse sentido, transparência e publicização de resultados foram apresentados como grandes desafios. Pontos que Patrícia Kunrath considera interligados.

“O campo do ISP brasileiro tem espaço para trazer mais dados e informações ao público sobre o seu fazer, já que foca justamente no interesse público, aumentando sua transparência e prestação de contas à sociedade.”

PATRICIA KUNRATH, coordenadora de Conhecimento do GIFE

Um exemplo nesse sentido é o Painel de Transparência, iniciativa do GIFE. “Com mais transparência, o que inclui a comunicação ativa de suas ações e resultados, podemos chegar a um nível de confiança mais sólido.”

Expediente

Natália Passafaro
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

Geovana Miranda
ANALISTA DE COMUNICAÇÃO

Afirmativa
REPORTAGEM/TEXTO

Marina Castilho
DESIGN & DESENVOLVIMENTO


Apoio institucional

Translate »