Desemprego cai no Brasil, mas inclusão no mercado de trabalho não contempla todos os grupos sociais
Por: GIFE| Notícias| 03/06/2024
A taxa de desocupação no primeiro trimestre de 2024 ficou em 7,9%, o menor índice para o período desde 2014. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgados em abril pelo IBGE. Essa inclusão no mundo do trabalho, no entanto, ainda não contempla igualmente todos os grupos sociais em sua diversidade.
Um estudo realizado com dados do IBGE e entrevistas com jovens mostra que a contratação e os salários variam de acordo com raça, gênero e se se trata, ou não, de uma pessoa com deficiência. Pesquisas também apontam desafios enfrentados pela população trans para se estabelecer no mercado formal.
“A taxa de desocupados, desalentados e subocupados é muito maior entre pessoas negras do que brancas, inclusive com a mesma escolarização”, ressalta o economista e doutor em ciências sociais Marcelo Depieri.
Vini Michelucci é trans não binária e sócia da organização Travessia – Estratégias em Inclusão. Para ela, pensar no futuro do trabalho é olhar para um cenário múltiplo. Tanto pelos recortes regionais, quanto pelo próprio entendimento do que é trabalho.
“Em São Paulo, por exemplo, temos bairros corporativos, como Faria Lima e Pinheiros. Fora desses centros, o trabalho fica menos técnico e focado em comércio e serviços. Não vemos pessoas trans circulando nesses bairros corporativos, eu sinto isso na pele”, relata.
Ela observa que alguns segmentos têm evoluído, como tecnologia, consultorias e bancos. O que muitas vezes acontece por demandas judiciais. “Desde 1993 a legislação prevê cotas de pessoas com deficiência nas organizações. Até hoje, muitas empresas só começam porque são notificadas pelo Ministério Público do Trabalho.”
Tendências
Segundo o estudo Futuro do Trabalho 2023, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, 23% das ocupações devem se modificar até 2027, impulsionadas por fatores políticos, ambientais, sociais e econômicos. A previsão é que tendências como novas tecnologias e a transição energética, irão criar e eliminar milhões de empregos nos próximos anos.
Pensando nessas tendências, como o avanço da indústria 4.0 e inteligência artificial, Marcelo Depieri observa potencial para novos empregos, mas não sem crises. “O tempo de adaptação pode levar décadas. Impactará bastante os jovens, que precisarão de formação, que somente poucos terão condições de obter.”
Vini Michelucci lembra que o atual cenário social e político tem ocasionado a demissões em massa em grandes empresas, levando muitos à informalidade. “O que já é realidade para grupos minorizados há muito tempo. É até difícil falar de empreendimento quando não temos políticas públicas e linhas de crédito para pequenos negócios desses grupos.”
ISP pode aproximar governo do setor produtivo
Com o envelhecimento da população, apontado pelo Censo Demográfico de 2022, é preciso pensar nos efeitos de uma juventude fora do mercado de trabalho para o futuro.
“As juventudes estão vivendo situações de muita vulnerabilidade e a relação delas com o mercado de trabalho é muito frágil”, avalia João Alegria, secretário geral da Fundação Roberto Marinho. Em 2023, a Fundação lançou o estudo Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras. O secretário observa que os jovens encontram pouquíssimas oportunidades de formação. “A discussão sobre educação para o trabalho durante a escolaridade é uma das mais difíceis de serem enfrentadas.”
Para superar esses desafios, Rafael Gioielli, diretor de impacto social e ambiental da Mombak, acredita que o investimento social privado tem como papel entender quais são os gargalos para que ocorra a inclusão produtiva. “A filantropia também pode atuar na aproximação entre governos e setor privado, para que os esforços sejam coordenados.”
Um case destacado por Gioelli, é uma parceria entre a Auren Energia, o governo do estado de Pernambuco, o Instituto Votorantim e o Itaú Educação e Trabalho, para organizar o primeiro curso dentro do novo ensino médio, dedicado a formar técnicos em energias renováveis, no sertão pernambucano.
“Parece óbvio que o governo oferte cursos técnicos alinhados à demanda dos empregadores em cada região. Mas isso não acontecia, até que o ISP aproximou o governo do setor produtivo e ajudou a colocar o curso de pé.”