Escola em tempo integral, gestão de resultados e estratégias pedagógicas inovadoras são caminhos para qualificar educação pública

Por: GIFE| Notícias| 30/09/2019
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Entendendo que a discussão sobre oportunidades e caminhos para o Ensino Médio é inadiável, especialmente com a recente homologação de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a etapa, Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), Fundação Lemann, Instituto Unibanco e Itaú BBA decidiram investigar as instituições que trabalham para garantir um bom nível de aprendizagem aos alunos – mesmo que ainda não estejam em um patamar em que possam receber a qualificação de excelência – e realizam ações efetivas para o bom fluxo escolar (diminuição da reprovação e do abandono).

O resultado desse trabalho está no mais recente estudo da série Excelência com Equidade. A iniciativa teve início em 2012, com o mapeamento das escolas públicas brasileiras que atendiam alunos de baixo nível socioeconômico e conseguiam boa aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A partir de 2015, passou-se a pesquisar também os bons resultados nos anos finais do Ensino Fundamental. Desta vez, o foco é a última etapa da Educação Básica: o Ensino Médio.

Com o objetivo de entender a fundo as estratégias e práticas pedagógicas, de gestão e administrativas que influenciam a aprendizagem dos estudantes, o novo relatório, intitulado Excelência com Equidade no Ensino Médio: a dificuldade das redes de ensino de darem um suporte efetivo às escolas, analisa escolas públicas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico e conseguiram bons resultados na Prova Brasil e no Enem 2017, além de possuírem uma taxa de aprovação mínima de 95%.

Das 5.042 escolas elegíveis, 100 atingiram os indicadores de qualidade propostos, sendo 82 de tempo integral. Os estados que apresentaram a maior quantidade de escolas são: Ceará (55), Espírito Santo (14), Goiás (7) e Pernambuco (7). Por essa razão, foram escolhidos para a realização da pesquisa de campo (qualitativa), em que foram visitadas duas escolas com bons resultados em cada estado, além de uma escola com indicadores na média.

Ernesto Faria, diretor do Iede e coordenador da série, explica que mesmo havendo desafios em relação aos indicadores de aprendizagem, o estudo conseguiu identificar estratégias e práticas que podem servir de inspiração a outras escolas e redes. Além disso, tanto o trabalho de campo, como as análises quantitativas, trazem diagnósticos importantes para pensar políticas públicas.

Achados

“Boa parte das escolas que conseguem garantir um nível básico de aprendizagem e um bom fluxo escolar são em tempo integral. Há uma grande dificuldade por parte das escolas regulares em razão da defasagem de aprendizagem acumulada. O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica. Portanto, precisa resolver ou ao menos minimizar os problemas das etapas anteriores. O estudo apontou este como um caminho possível e gera uma reflexão de como escalar esse modelo, já que hoje apenas 10% dos alunos estão matriculados em escolas de período integral”, observa.

Ainda segundo o coordenador, a preocupação com o monitoramento e a gestão dos resultados é outra característica das escolas com melhores desempenhos, além do trabalho com estratégias pedagógicas inovadoras. “Nós identificamos essa mistura: o olhar para a avaliação e estratégicas como protagonismo juvenil, autonomia e outras que ligam as disciplinas e fazem a escola ter sentido, o que também gera a necessidade de mais tempo na escola.”

Tomadas de decisão baseadas em evidências quantitativas e qualitativas; parceria entre professores e alunos, com escuta ativa e quebra do tabu da hierarquia; e boa interlocução dentro e fora da escola (pais, comunidade e Secretaria de Educação); são outras ações e práticas identificadas a partir da análise que contribuem para os bons resultados e podem servir de inspiração a outras unidades e redes.

Mapa da Aprendizagem

Junto com o estudo, Iede, Fundação Lemann e Itaú BBA também lançaram o Mapa da Aprendizagem. A plataforma reúne dados do Brasil e do mundo no Pisa 2015.

Ernesto explica que o Mapa contextualiza a educação do Brasil em relação aos demais países com foco nas desigualdades, principalmente em relação aos alunos de baixo nível socioeconômico.

“O cenário da educação brasileira, no geral, é muito desafiador, mas é muito mais no que diz respeito a esse grupo. Os indicadores de aprendizagem estão muito baixos. Nesse sentido, foi ótimo lançar o Mapa junto com o estudo porque a ferramenta traz esse contexto do quanto precisamos olhar com mais intencionalidade para os alunos de mais baixa renda e do quanto precisamos de políticas focadas nessa parcela para promover equidade na educação do Brasil.”

O papel do investimento social privado

Perguntado sobre o papel do investimento social privado no enfrentamento dos desafios e qualificação da agenda da educação no Brasil, Ernesto traz o exemplo do Instituto Unibanco, um dos financiadores do estudo, que atua em três das quatro redes focalizadas pela pesquisa – Espírito Santo, Goiás e Pernambuco – com o Programa Jovem do Futuro

Por meio de parceria com as Secretarias Estaduais de Educação, a iniciativa oferece diferentes instrumentos que dão suporte ao trabalho de gestão das escolas e das redes de ensino, como assessoria técnica, formações, análises de dados e apoio de sistemas tecnológicos especialmente desenvolvidos para elas. Além disso, o programa também estimula as trocas de experiências entre os gestores envolvidos, de forma a contribuir com o fortalecimento dos conhecimentos instalados e produzidos em cada rede parceira.

“O terceiro setor precisa atuar mais na ponta e o trabalho do Instituto Unibanco é um bom exemplo de como fazer isso, no modelo de parceria, de escuta das redes, para identificar onde há necessidade de apoio. Temos visto nos últimos anos uma presença forte do investimento social privado nesse sentido e acho que o estudo também nos ajuda a ver resultados a partir dessa experiência específica.”

Próximos passos

No horizonte de ambas as iniciativas há duas tarefas importantes: a continuidade das pesquisas e o diálogo com os gestores públicos a fim de que esse conhecimento possa apoiá-los na formulação e no aperfeiçoamento das políticas públicas.

“Um estudo como esse só tem sentido se de fato levarmos essas evidências para as pessoas que precisam delas para tomar decisões”, enfatiza Ernesto.

Acesse aqui o estudo na íntegra. Para acessar o Mapa da Aprendizagem, clique aqui.


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