Fundação Arymax lança estudo pioneiro sobre inclusão produtiva no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 13/01/2020

Em parceria com o Instituto Veredas, a Fundação Arymax e o Fundo Pranay apresentam o estudo Inclusão Produtiva no Brasil: evidências para impulsionar oportunidades de trabalho e renda.

A partir das evidências disponíveis, a publicação traz um panorama completo sobre o tema no Brasil e no mundo, seus principais desafios, atores envolvidos, assim como as mais promissoras soluções e grandes tendências.

Dividida em quatro etapas, a publicação reúne informações essenciais para a definição das intervenções mais eficazes, capazes de gerar impacto social.

O redeGIFE conversou com Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax, que teceu um panorama dos desafios que estão por trás da agenda e repercutiu alguns dos achados da publicação.

Confira a entrevista na íntegra.

redeGIFE: O que motivou a produção do estudo e como ele dialoga com o atual contexto político, econômico e social brasileiro?

Vivianne Naigeborin: A Fundação Arymax passou por um grande processo de reposicionamento nos últimos dois anos, em busca de priorizar seu foco de atuação e nortear seus investimentos nos próximos anos. Para isso, optou por adotar uma filantropia baseada em evidências. Esse processo culminou na escolha da inclusão produtiva como seu novo campo de atuação a fim de contribuir com iniciativas que apoiem pessoas em situação de vulnerabilidade econômica a encontrarem oportunidades de geração de renda no mundo do trabalho, diminuindo a exclusão social e aumentando a produtividade do país e, assim, contribuindo para uma transformação sistêmica nesse campo no Brasil.

Originalmente, o estudo Inclusão Produtiva no Brasil foi planejado para reunir as melhores evidências possíveis para apoiar a Fundação Arymax e o Fundo Pranay na definição de suas estratégias de investimento. O estudo traçou um amplo panorama sobre a inclusão produtiva no país (conceito, públicos-alvo, atores, contexto histórico, desafios, tendências para o futuro) e identificou as intervenções com maior potencial de impacto comprovado. A relevância do material gerado nos mobilizou a transformá-lo em uma publicação aberta a todos os atores interessados em atuar nesse campo.

A inclusão produtiva é uma estratégia fundamental para que a população possa ter condições dignas de vida e assumir efetivamente sua plena cidadania. Sua relevância pode ser comprovada pela crescente discussão sobre a importância do emprego como direito fundamental na agenda internacional de políticas públicas. O tema está presente em diversos momentos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com destaque para os Objetivos 1 e 8.  Segundo relatório de 2018 do Banco Mundial, bons empregos são o caminho mais seguro para sair da pobreza.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, hoje, no Brasil, a taxa de subutilização da força de trabalho é de 24%. São cerca de doze milhões de pessoas desempregadas, sete milhões de subocupados, sem contar os mais de quatro milhões de desalentados, que, após muita busca e frustração, desistiram de procurar trabalho. Além deles, temos um número recorde de pessoas trabalhando por conta própria. E quando olhamos para os jovens, as taxas de desemprego são três vezes maiores que a média da população, o que pode comprometer seu futuro e as expectativas de desenvolvimento social e econômico do país. As deficiências da educação formal contribuem para reduzir ainda mais as chances de empregabilidade.

A crise do trabalho vivida no Brasil e em outros países requer uma série de alavancas para que novas e mais oportunidades de trabalho e renda sejam efetivamente criadas e alcançadas. Por tudo isso, a inclusão produtiva é uma estratégia urgente a ser adotada. É preciso gerar trabalho e renda estáveis, duradouros e dignos para as populações em situação de vulnerabilidade econômica, de modo a facilitar a superação de situações crônicas e estruturais de pobreza e exclusão.

redeGIFE: Qual a importância da iniciativa e também os desafios inerentes à ela frente ao atual cenário de desvalorização da pesquisa e da ciência?

Vivianne: Acreditamos que essa iniciativa inaugura uma nova forma de atuar na Fundação Arymax ainda pouco difundida no setor social: a adoção de estudos com base em evidências para guiar as tomadas de decisão estratégica. Com uma metodologia baseada em racionalidade e não em paixões, abrimos um caminho diferente que está trazendo ganhos significativos por usar um alinhamento científico e por aceitar a possibilidade de erros nas próprias hipóteses. Na jornada da Arymax não se partiu do princípio do que já se sabia, mas optou-se pela abertura a aprender com o que existe e confrontar saberes estabelecidos que poderiam ser contra-intuitivos.

redeGIFE: Quais são os principais desafios no tema, segundo os achados do estudo?

Vivianne: Há diversos desafios identificados, seja no caso da inserção no mercado de trabalho via emprego, seja no empreendedorismo individual ou associativo urbano e rural. Do lado da oferta, a falta de capacitação e de acesso à informação e ao conhecimento de pessoas em busca de trabalho, a dificuldade no acesso e uso de tecnologias e o custo, burocracia e a falta de instrumentos financeiros adequados para quem quer empreender são alguns dos principais obstáculos. Do lado da demanda, a eliminação de vagas em empresas pelo avanço tecnológico, a informação sobre vagas de emprego que não chega à população, as barreiras de contratação a determinados grupos e um mercado insuficiente ou até inacessível para pequenos empreendedores devido a atores dominantes são questões igualmente críticas.

Os desafios são ainda maiores, se considerarmos as tendências que têm afetado a nossa sociedade. A indústria 4.0 (inteligência, robótica, automatização) trará avanços na produtividade, mas também desafios para  a geração de empregos. Segundo a consultoria McKinsey, 50% dos cargos existentes hoje (mais de 50 milhões de empregados no Brasil) podem ser substituídos por meio da adaptação de tecnologias disponíveis.

O envelhecimento da população também levanta questionamentos sobre como se dará a inclusão de idosos no mercado de trabalho e a necessidade de requalificação. Em 2050, mais de 20% da população mundial terá mais de 60 anos – atualmente são cerca de 10%.

A degradação ambiental é outra variável importante, já que ameaça os serviços ecossistêmicos. Hoje, 1,2 bilhões de empregos dependem do bom funcionamento de processos naturais e as mais afetadas são as populações mais vulneráveis.

Por outro lado, as novas tendências também podem abrir oportunidades interessantes. O surgimento de alternativas mais sustentáveis, como a economia circular, práticas agrícolas e produção e uso de energia sustentável pode contribuir para a geração de novos empregos nesse setores. O mercado de cuidados deve crescer com a maior expectativa de vida da população, o que também gera novas oportunidades de trabalho e de negócios.

redeGIFE: Que soluções, atores e perspectivas podem ser vislumbrados frente a tais desafios? Quais são as principais oportunidades de atuação identificadas pelo estudo e como o setor do investimento social privado pode contribuir ainda mais com o tema?

Vivianne: O estudo aponta que é muito importante trabalhar com uma combinação de intervenções, em vez de adotar um enfoque fragmentado. Por exemplo, formações profissionais devem combinar competências técnicas e socioemocionais com serviços que apoiem o participante a acessar e se inserir no mercado de trabalho. A promoção mais efetiva do empreendedorismo deve incluir não somente a capacitação pessoal e para negócios, mas serviços de acompanhamento no longo prazo e acesso a capital financeiro e social. Programas de subsídios salariais para jovens são mais eficazes na inclusão via emprego quando acompanhados de capacitações.  E no caso de empreendedores rurais, é mais efetivo unir a capacitação dos envolvidos à formação de grupos ou associações de produtores, ao fornecimento de apoio financeiro e às demandas de acesso a mercados.

Adicionalmente, é altamente relevante estar atento ao contexto em que as intervenções são implementadas, que variam nas diferentes regiões do país.

Por tudo isso, é fundamental que haja uma articulação e coordenação de esforços por parte de uma rede de diferentes atores comprometida com o avanço desse campo no Brasil, seja pela via do emprego ou do empreendedorismo: organizações da sociedade civil, governos, organismos internacionais, fundações e institutos, empresas e instituições educacionais.


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