Jovens se engajam politicamente a partir de causas sociais, aponta relatório
Por: GIFE| Notícias| 28/02/2022O Fórum Estadual de Mulheres Negras do Rio de Janeiro realizou pelo quinto ano consecutivo, a Marcha das Mulheres Negras, na orla de Copacabana, zona sul da capital.
O Brasil se aproxima das eleições para o Executivo e Legislativo com a maior população jovem da história. São cerca de 47,8 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, o que representa um quarto dos brasileiros, segundo dados do Atlas das Juventudes de 2021.
Os jovens são fortemente a favor do voto, mas não sentem que ele seja uma ferramenta democrática suficiente para alcançar mudanças. Essa é uma das conclusões apresentadas no recém-lançado relatório Juventude e Democracia na América Latina, encomendado pela organização de filantropia global Luminate e coordenado por Esther Solano, socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e por Camila Rocha, cientista política.
A pesquisa entrevistou pessoas entre 16 e 24 anos do Brasil, México, Colômbia e Argentina com o objetivo de mostrar como se relacionam com a política. Segundo o estudo, essa parcela da população se mantém mais engajada politicamente a partir de causas como meio ambiente, feminismo, desigualdades e defesa de direitos LGBTQIA+. Destacam-se três pontos neste levantamento:
- Os jovens valorizam a política e sua participação social, mas enxergam com desconfiança os partidos e políticos e preferem se engajar em causas concretas. Para eles, a política seria corrupta, violenta, desconectada do povo, centrada em interesses próprios, inflexível e pouco aberta à participação;
- O consumo de informações desse público se dá, sobretudo, a partir das redes sociais e muitos declaram comumente curtir conteúdos de outras pessoas, como influenciadores digitais. O Facebook figura como uma rede menos utilizada. Em seu lugar entram o Instagram e o TikTok, mais utilizados para ver conteúdos leves e humorísticos, geralmente de amigos e familiares;
- Todos dizem sentir receio de ser enganados por meio de mensagens falsas, as fake news. Assim, afirmam que, embora a mídia hegemônica também seja parcial e enviesada, é no ambiente online que a desinformação é abundante.
Camila Rocha, em entrevista à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, analisa que a influência de personalidades do mundo digital sobre os jovens não se reflete, necessariamente, em defesa de políticos e de partidos, mas sim de causas. “Por exemplo, influenciadoras do mundo da estética que defendem o empoderamento feminino ou influencers dos jogos que falam sobre os impostos relacionados aos games”.
Espaços de transformação
Como essa juventude, que considera o voto importante, mas vê a necessidade de ir além dele para conseguir mudanças na sociedade, pode agir no cotidiano? Para a Fundação FEAC, os conselhos de jovens podem ser um estímulo ao diálogo e a participação social. Em 2021, a instituição fomentou a criação do seu próprio conselho consultivo, formado por membros de organizações da sociedade civil.
Essa comissão é responsável por aconselhamentos que vão guiar as estratégias do Programa Juventudes da Fundação. “Como não podemos estar o tempo todo com todos os jovens em diferentes territórios, eles que estão nesses diferentes espaços são os nossos olhos, para entendermos de fato as suas demandas”, explica Tatiane Zamai, líder do projeto.
O exemplo da Fundação FEAC reflete a possibilidade de elaboração e implementação de iniciativas semelhantes em outros municípios e estados, bem como ações nacionais. O art. 45 do Estatuto da Juventude define esses conselhos como órgãos permanentes e autônomos, não jurisdicionais, encarregados de tratar das políticas públicas de juventude e da garantia do exercício de seus direitos. É uma instância de participação e controle social das políticas públicas.
Um espaço de transformação que não poderia ficar de fora da pauta é o da aprendizagem. “Conectar o jovem com a escola, políticas públicas, com a cidade e o mundo do trabalho faz parte de sua formação. Nós não podemos entender a escola com um espaço isolado. Outro elemento importante que a pandemia nos trouxe é o universo digital, que nos permitiu continuar formações e trabalhos. Mas deve-se considerar como essas ferramentas chegam aos jovens mais isolados”, acrescenta Marcelo Bentes, coordenador de relações institucionais da Fundação Roberto Marinho (FRM).
Importância da atuação do ISP
No Censo GIFE de 2018, a temática da juventudes já ocupava o segundo lugar no quesito destinação do investimento social privado (ISP), atrás apenas da educação. Com a pandemia de Covid-19, as prioridades mudaram, como a ampliação de apoio às áreas de proteção, assistência e desenvolvimento social (incluindo o combate à pobreza e à fome) e saúde e bem-estar (63%), e a agenda não aparece com tanto destaque no Censo GIFE 2020.
Mas, mesmo com os investimentos nos últimos anos, há recortes dentro dessa população que ainda necessitam de mais olhares do ISP. De acordo com o Mapeamento do investimento social nas juventudes, cerca de 70% das organizações atuam em periferias, grandes centros urbanos ou regiões metropolitanas.
Entre os contextos menos abrangidos estão a zona rural, com apenas 12%, e 2% entre territórios indígenas e quilombolas. O estudo mostra ainda que os investidores não costumam fazer um recorte específico de gênero, e quando isso ocorre, é voltado à comunidade LGBTQIA+.
Conheça outros espaços e ferramentas de organização e articulação:
– Sistema Nacional de Juventude (Sinajuve), espaço nacional de articulação e organização de políticas públicas;
– Cadastro Nacional de Unidades de Juventude, instrumento que busca consolidar o registro de entidades que fomentam as políticas de juventude em território nacional;
– E acompanhe os debates e as notícias da Rede Temática (RT) Juventudes do GIFE.