Perspectivas para o investimento social privado em 2020
Por: GIFE| Notícias| 06/01/2020Um contexto político, econômico e social conturbado inaugura o ano de 2020, não só no Brasil, como no mundo.
A dez anos do prazo para o cumprimento dos objetivos e metas da agenda de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, o novo ano – de ‘entregas’ dos compromissos assumidos em 2015 – se inicia com perspectivas pouco animadoras quanto ao alcance de uma economia global mais sustentável em 2030.
No Brasil, evidências indicam profundas desigualdades com o comprometimento de praticamente todas as áreas sociais: educação, saúde, trabalho e renda, segurança pública, moradia, meio ambiente, entre outras.
Para o investimento social privado, é momento de avaliar estratégias e estruturar a atuação do próximo período em linha com as demandas da agenda pública do país.
A fim de contribuir com essa tarefa, o redeGIFE conversou com membros do Conselho de Governança do GIFE para mapear as principais oportunidades e desafios para o setor em 2020.
Confira a seguir os destaques:
Desafios
- Disputa de narrativas, combate a fake news, apoio à produção de conteúdos e avanço em transparência, de modo a produzir mais informação e repertório de qualidade sobre o campo socioambiental.
- Composição e fortalecimento de uma frente ampla de resistência aos ataques ao campo democrático.
- Ampliação do engajamento de empresas, governos e sociedade em geral na agenda das mudanças climáticas e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente relacionados à Amazônia.
- Convencimento da população brasileira acerca da importância da existência de uma sociedade civil organizada.
- Fortalecimento da gestão das organizações da sociedade civil.
- Aumento do apoio institucional às organizações da sociedade civil.
- Rompimento de um olhar endógeno, restrito às demandas institucionais das organizações, e maior conexão com o contexto do país.
- Equidade de gênero e raça no investimento social privado, tanto na perspectiva organizacional, dentro das equipes e dos conselhos, quanto no apoio a projetos e no fortalecimento de organizações que atuem com a pauta da diversidade.
- Implementação de políticas públicas baseadas em evidências para o enfrentamento dos desafios educacionais.
Oportunidades
- Inovações na atuação de institutos, fundações e empresas.
- Expansão de iniciativas inovadoras para além do eixo Rio-São Paulo, a exemplo de Rede Temática Nordeste, Impacta Nordeste e Plataforma Parceiros pela Amazônia.
- Aumento do engajamento da sociedade em programas e projetos capazes de promover o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a partir da grande atenção nacional e internacional às ameaças à Amazônia.
- Incentivo a movimento capaz de engajar diferentes atores da sociedade brasileira na agenda de mudanças climáticas a partir da sensibilização da juventude pela liderança da ativista Greta Thunberg.
- Realização de iniciativas em áreas como cultura, desenvolvimento comunitário e educação no contexto da Economia Criativa.
- Atuação como laboratórios de inovação e centros de experimentações.
- Realização de campanha de posicionamento e valorização da contribuição do investimento social privado para as agendas social e ambiental.
- Atuação territorial que possibilite experiências participativas e gerem, ao mesmo tempo, sentimento de pertencimento local e consciência das questões da sociedade contemporânea global.
- Advocacy em projetos de leis e políticas públicas voltadas à equidade e justiça social.
- Maior investimento em monitoramento e avaliação de projetos e programas do setor.
- Atuação coordenada e sinérgica em prol do fortalecimento das pautas prioritárias para o país.
Vozes do ISP
Veja a seguir depoimentos de alguns dos membros do Conselho de Governança do GIFE acerca das perspectivas para o setor do investimento social privado em 2020.
“2020 nos provoca a repensar nossos conceitos e abordagens no campo socioambiental. Temas até então distantes do universo de atuação do investimento social privado e outros, embora presentes, menos representativos, retornam com força, tais como fake news, produção de conteúdo independente, fortalecimento da sociedade civil, advocacy. A atuação na esfera pública passa a demandar uma revisitação de estratégias. Nesse novo contexto, estamos dispostos a rever nossos conceitos e práticas?”
Fábio Deboni, gerente executivo do Instituto Sabin
“É preciso investir no apoio institucional e na valorização das organizações da sociedade civil. O papel dessas organizações é fundamental para a vitalidade da nossa democracia e para que possamos avançar nas pautas sociais e ambientais. Também vejo como oportunidade posicionar estrategicamente o papel do investimento social privado. Muitos desconhecem a contribuição e a relevância do setor para o país.”
Giuliana Ortega, diretora executiva do Instituto C&A
“Temos que transformar o crescente interesse nacional e internacional em torno das ameaças à Amazônia e dos jovens sensibilizados pela liderança da Greta Thunberg em um movimento capaz de engajar diferentes atores da sociedade brasileira na pauta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e das mudanças climáticas.”
Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável
“A diversidade é um dos maiores desafios do investimento social privado, tanto na perspectiva organizacional, no que se refere à equidade de gênero e raça dentro das equipes e conselhos, quanto no apoio a projetos e no fortalecimento de organizações que possam contribuir com essa equidade. Não podemos tratar a maioria da população como minoria em seus direitos. É preciso pensar em ações que reduzam as desigualdades e essa mudança passa pelo olhar das oportunidades para negros e negras em diferentes esferas.”
Neca Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal e do Conselho de Governança do GIFE
“Os institutos e fundações podem ocupar o papel de laboratórios de inovação para as empresas, visto que todas elas estão olhando para a inovação, porém ainda focadas no mainstream do empreendedorismo tradicional e digital. Essas instituições podem ser parte de uma estratégia integrando inovação e sustentabilidade, bem como um centro de experimentações no que se refere à diversidade e ao futuro do trabalho.”
Luis Fernando Guggenberger, head de inovação e sustentabilidade do Instituto Vedacit
“O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e é preciso que atuemos fortemente nas agendas sociais para que de fato consigamos que nossa população tenha uma educação de qualidade, alcance melhores posições no mundo do trabalho e tenha seus direitos garantidos. Para nós do investimento social privado, é um desafio, mas também uma oportunidade, atuar nas políticas públicas – a partir de evidências e sempre em parceria com o poder público – que, sabemos, são essenciais para fazer com que a população se desenvolva e tenha uma vida mais digna.”
Monica Pinto, gerente institucional da Fundação Roberto Marinho