Pós Davos: a importância da cooperação internacional para enfrentar as desigualdades sociais no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 06/02/2023

O Fórum Econômico Mundial de Davos 2023 reuniu em janeiro líderes mundiais, mercado financeiro e sociedade civil em torno do tema: “Cooperação em um Mundo Fragmentado”. Considerando que o Brasil chegou ao encontro em um contexto de aprofundamento das desigualdades sociais, o tema era de interesse ao país.

Pela primeira vez no evento, Rodrigo Pipponzi, cofundador da Editora MOL e conselheiro do GIFE, ficou impressionado com a união de diferentes partes para alcançar objetivos em comum. “A mensagem principal foi essa: sem cooperação entre países, poderes e setores não há solução.”

Para o doutor em administração e mestre em economia Elias Sampaio, tendo em vista as desigualdades sociais como mais grave problema do país, a cooperação internacional é fundamental. Membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial, defende ainda que não é possível tratar do tema de forma desvinculada da desigualdade racial.

De acordo com números do IBGE em 2021, a taxa de pobreza da população negra é duas vezes maior do que entre a população branca. E é justamente por isso que Elias Sampaio considera que o apoio da filantropia no campo da desigualdade ainda é muito tímido em áreas estratégicas. “Os avanços do Brasil em políticas de promoção da igualdade são fundamentalmente no campo público.” 

Entre as experiências que Elias Sampaio já construiu nesse sentido, estão o Programa de Combate ao Racismo Institucional e o Fundo Baobá, e destaca que a construção de ambos não seria possível sem o investimento da cooperação internacional.

“No combate às desigualdades, o aprofundamento da cooperação internacional é o salto qualitativo que precisamos. Aí é onde eu acho estratégico participar de conferências como Davos, que trabalha com os grandes players da economia mundial.”

“Brazil is back”

Entre os objetivos da comissão brasileira, estavam o diálogo com todos os países; cooperação Sul-Sul; compromisso com a sustentabilidade fiscal e ambiental e ampliar a participação nos organismos multilaterais.

De acordo com Rodrigo Pipponzi, pelo menos o primeiro foi muito bem sucedido, com clara percepção de “uma volta à cena do Brasil”, principalmente devido à mudança de governo. “Se ouviu muito isso ‘Brasil is back’. Tem o desafio de ampliar a participação, recuperar o tempo perdido, mas o primeiro passo foi dado.”

Retorno considerado por Elias Sampaio essencial para que o Brasil possa potencializar a cooperação e trocar experiências filantrópicas com outros países. Outro ponto destacado pelo economista é a cooperação Sul-Sul. De acordo com ele, embora estivesse na lista de objetivos da delegação brasileira, discutir o tema apenas em Davos não é suficiente, é necessário desenvolver as relações com países da África e da diáspora.

“Há experiências importantes e precisamos conhecer para replicar o que for positivo. Para os países que têm uma economia menor, o Brasil já tem maturidade para levar suas experiências.” 

O economista vê no país potencial para ser um grande elemento catalisador das relações Sul-Sul, da reorganização do Mercosul e da cooperação internacional focada no combate às desigualdades.

Filantropia em Davos

Entre políticos e executivos, a conferência também é marcada pela presença da sociedade civil. “Uma coisa que me chamou atenção foi como eles valorizam o papel da filantropia e como essa agenda estava presente na programação”, lembra Rodrigo Pipponzi, que presenciou diversas trocas sobre estratégias filantrópicas nos diferentes continentes e que podem inspirar o Brasil.

O momento de maior destaque filantrópico foi o lançamento da iniciativa global de doações Giving to Amplify Earth Action (GAEA). A iniciativa tem como objetivo financiar e desenvolver parcerias públicas, privadas e filantrópicas para liberar os US$ 3 trilhões de financiamento necessários por ano para reverter a perda da natureza e restaurar a biodiversidade até 2050.

O papel da filantropia é considerado estratégico no financiamento climático, tendo em  vista que o atual financiamento é lento se comparado à urgência da crise. Por ser ágil, tolerante a riscos e impulsionada por resultados de longo prazo, a doação filantrópica tem sido vista como um dos principais caminhos.


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