Projeto VIRALIZE aproxima influenciadores digitais de causas sociais e fomenta a cultura de doação

Por: GIFE| Notícias| 14/05/2018

Hoje, há cerca de 310 mil canais de vídeo online no país e na lista dos 100 canais mais influentes do mundo, 24 são brasileiros. Dá pra imaginar quantas pessoas acessam estes veículos de comunicação? Pesquisas falam que, atualmente, mais de 100 milhões de brasileiros têm acesso à internet; 90,8% dos internautas brasileiros estão nas redes sociais; as pessoas ficam conectadas, em média, 4h59 por dia; e 94% são usuárias do Facebook.

E se este universo imenso de internautas pudesse também receber informações sobre projetos e causas socioambientais e fossem convidados a se engajar e apoiar a cultura de doação no Brasil? Será que conseguiremos avançar e ampliar o montante hoje de recursos doados, que gira em torno de 0,23% do Produto Interno Bruto (PIB) do país?

Foi justamente apostando nesta ideia, de trazer novos públicos e formadores de opinião para a conversa, ampliando assim o impacto do campo e permitindo que o tema se espalhe em diversas frentes, que o Estúdio Cais – Projetos de Interesse Público criou o projeto VIRALIZE – um clique em prol da cultura de doação. A iniciativa é um dos quatro projetos aprovados pelo primeiro edital do Fundo BIS e acaba de ser lançada: www.viralizedoacao.com.br.

O Fundo BIS lançou em 2017 seu primeiro edital, a fim de fomentar o movimento da cultura de doação no país, bem como ampliar o volume de recursos financeiros doados no Brasil. Para a estruturação do fundo e realização da primeira edição do edital, o Fundo BIS recebeu aportes do Instituto Arapyaú, do Instituto C&A, do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e do Instituto Cyrela e está sendo incubado pelo GIFE. Além do VIRALIZE, são apoiados ao longo de 2018 outros três projetos (veja neste vídeo da mesa sobre “Fortalecimento das OSC – cultura de doação”, realizada no X Congresso GIFE, a apresentação de todas as iniciativas).

O projeto foi construído partindo da premissa de que para ampliarmos as doações no país é preciso aumentar a confiança dos cidadãos nas organizações, a partir de mais transparência e informações, aproximar as pessoas do universo das causas e atuação das organizações e chegar a novos doadores e de forma impactante – com mensagens que de fato gerem engajamento. Ou seja, ampliar a cultura de doação passa por fomentar e dar escala a um processo intenso de comunicação. E o VIRALIZE une estes três aspectos – necessidade de divulgação, proximidade à causa e acesso às novas tecnologias.

Karen Polaz, coordenadora de fomento e inovação do GIFE, organização que incuba o Fundo BIS, aposta no papel da comunicação para desenvolver esse ambiente cada vez mais motivante para que todos os brasileiros e brasileiras tenham causas e queiram destinar recursos a elas.

“Ela assume, assim, um papel essencial em promover essa temática por meio de seu poder de pautar novos temas, levantar debates e mobilizar pessoas. O VIRALIZE consiste em uma iniciativa bastante estratégica para comunicar causas e indicar caminhos de como doar recursos a projetos que as representem, capilarizando e alçando a cultura de doação para todos os cantos do Brasil”.

Como se engajar no projeto

A proposta do VIRALIZE é conectar influenciadores digitais – que atuam em canais como Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Snapchat -, já comprometidos com alguma causa ou agenda socioambiental e que engajam uma enorme audiência em suas plataformas digitais, a projetos e organizações alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e que estejam com captação aberta, diretamente em suas redes, ou por meio de plataformas de financiamento colaborativo.

Assim, será possível aproximar projetos socioambientais a um amplo público: desde um grupo de mães que acompanha instagramers de maternidade e, portanto, sensíveis a causas da infância; chegando a centenas de jovens que acompanham blogueiras que falam sobre alimentação, que podem ser mobilizadas a doar a projetos de combate à desnutrição. As pesquisas apontam que há uma possibilidade maior de sensibilizar possíveis doadores para causas já de seu interesse, além de facilitar o acesso às OSC, sem, necessariamente, onerar as entidades com necessidade de investirem em seus canais de comunicação.

A iniciativa atua em cinco causas – Educação, Direitos Humanos, Saúde e Bem-estar, Meio Ambiente e Cultura – e, neste momento, indica cerca de 50 projetos e organizações, de diversas regiões do país. Todo o material com informações sobre as causas, assim como a respeito das organizações e projetos, estão disponíveis na plataforma.

Em Educação, por exemplo, é possível apoiar a campanha “Tirar a Lei do Papel – #tiraraleidopapel”, a fim de que o ensino da história e cultura afro-brasileira seja de fato implementado em todas as escolas do país e, em “Saúde e Bem-estar”, há iniciativas como o Instituto Feira Livre, uma associação sem fins lucrativos que promove o acesso a produtos orgânicos de maneira transparente e sustentável.

Para apoiar a atuação dos influenciadores, o VIRALIZE disponibilizou uma série de produtos de comunicação como cards em vídeos, chamadas no Facebook ou Twitter, imagens no Instagram etc., sobre o tema da cultura de doação e as causas escolhidas. A ideia é que eles possam convidar os internautas a se engajarem. Diversos influenciadores já começaram a se publicar em seus canais materiais sobre o VIRALIZE, disseminando assim a proposta.

“Além de atuar com os influenciadores, a proposta do VIRALIZE é ampliar o entendimento da sociedade sobre a importância da doação para o fortalecimento e autonomia das organizações e disseminar a ideia de que doar é parte do jogo democrático, é parte da mobilização e do controle social que viabiliza uma sociedade mais justa, com mais cultura, mais direitos e mais conectada com o planeta”, comenta Rodrigo Bueno, sócio do Estúdio Cais.

Por isso, a plataforma VIRALIZE e as redes sociais do projeto irão disseminar uma série de conteúdos focados nos possíveis doadores, com dicas sobre ferramentas e formas de doar, pesquisas e estudos sobre o assunto, entre outros materiais. Além disso, no site, é possível também qualquer interessado pelo tema e que queira participar da iniciativa baixar cards e chamadas para serem disponibilizadas em suas próprias redes sociais.

O poder da comunicação

A comunicação tem sido cada vez mais estratégica para as organizações, garantem os especialistas que atuam nas OSC, e, portanto, fundamental para conquistar novos parceiros para a sustentabilidade das instituições.

Paula Piccin, coordenadora de Comunicação do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) – um dos projetos apoiados pelo VIRALIZE – destaca que a comunicação com os públicos estratégicos é parte essencial da mobilização de recursos nas organizações da sociedade civil. “Não existe uma boa campanha de captação sem uma boa estratégia de comunicação, por mais simples que ela seja. A todo o tempo é importante compreender o que engaja as pessoas, o que as move em prol de uma causa, entender o que é primordial para a escolha dela no momento de doar ou de investir um recurso etc. Para mim, o fundamental é também manter esse canal aberto entre doadores e organização, por meio de uma comunicação transparente, contando histórias de sucesso da instituição, evidenciando os resultados e mostrando onde o recurso aplicado está fazendo a diferença”, ressalta.

O IPÊ, por exemplo, utiliza todos os canais de comunicação que dispõe – site e redes sociais – para evidenciar os resultados alcançados pelos projetos e de que forma os recursos estão sendo aplicados. “Quanto mais a sociedade tem acesso a essas informações com transparência, mais ela se vê segura em doar. Um bom exemplo disso: nossas ações de mobilização de recursos com as pessoas físicas hoje concentram-se em parcerias com movimentos como o Arredondar e o Pólen, organizações que facilitam a doação por meio de sistemas de compra e aplicativo. Então, é muito importante que os doadores tenham facilidade em identificar quem é o IPÊ e onde a doação deles será aplicada, para que participem desses movimentos com mais segurança. E nossas ações de comunicação são fundamentais para isso”, acredita.

Apesar das OSC apontarem como fundamental a comunicação no processo de ampliação e conquista de novos doadores – pois traz credibilidade, dá visibilidade ao nome da organização e endossa o trabalho que é realizado diariamente –, grande parte delas ainda tem dificuldade em desenvolver estratégias eficazes e, mais do que isso, recursos para poder investir neste campo. Um levantamento realizado pelo VIRALIZE junto a diversas organizações identificou esse aspecto em grande parte das instituições, principalmente as de pequeno porte, com limitações financeiras ainda maiores.

“Gostaríamos muito de investir mais em comunicação, mas não temos condições de arcar com os custos. Para nós, hoje, por exemplo, seria fundamental ter o apoio e conhecimento de profissionais da área para ajudar a divulgar o nosso trabalho. Temos certeza que isso iria atrair mais doadores”, ressaltou na pesquisa a gestora da organização MEIMEI, da região do ABC Paulista, em São Paulo.

Os próprios comunicadores identificam esse gargalo no setor social. Mayra Rosa, fundadora da plataforma Ciclo Vivo – e uma das influenciadoras que já se engajou no VIRALIZE -, avalia que falta ainda muita estratégia de divulgação de mídia pelas OSC e que, aprender com os mecanismos adotados pelas marcas, por exemplo, pode ser um ponto importante para avançar.

“Vemos hoje dando muito certo essa divulgação para produto e não para a doação aos projetos socioambientais. Acredito que não seja porque as pessoas não queiram doar, mas sim porque não estão sendo impactadas da forma correta. Por isso eu acredito que os influenciadores têm potencial grande de mudar esse cenário. Eles estão ali acessíveis no celular de qualquer um e podem falar sobre muito mais do que apenas estilo, música, roupa etc. Por que não trazer também o social, o ambiental e ajudar na cultura da doação? No Brasil, acho que as pessoas ainda não vêm com bons olhos a doação no sentido de pedir algo. Precisamos mudar isso, pois é muito inteligente apoiar algo que você acredita”, destaca a comunicadora.

As organizações também apostam neste movimento junto aos influenciadores e estão motivados em se engajar junto a esse novo público. “É uma forma de ampliarmos o alcance do nosso trabalho a um público que usa outras mídias, e com quem ainda não estabelecemos um diálogo, e sabemos do potencial que isso pode ter. Os influencers hoje têm essa grande capacidade de mobilização e de engajamento de seus seguidores para uma série de assuntos. Usar esse potencial em benefício de causas socioambientais é um grande ganho não apenas para as organizações beneficiadas como para dar ainda mais relevância ao trabalho que eles desenvolvem. Tê-los como parceiros nessa jornada pela conservação da biodiversidade será muito importante!”, completa Paula Piccin.

Aprendizados

Um dos pontos-centrais das iniciativas do Fundo BIS é, mais do que apenas colocar os projetos para rodar, também ter a oportunidade de aprender com o processo e, com isso, trazer novos conhecimentos para o campo, ajudando assim a superar os desafios em relação à cultura de doação no Brasil.

No caso do VIRALIZE já é possível levantar várias questões, que serão reflexões importantes de serem feitas ao longo de 2018, como, por exemplo: Como influenciadores recebem essa proposição e como se mantém (ou não) engajados nesse papel social? Como sua rede reage? E principalmente o quão os projetos e as organizações sociais estão preparados em termos de comunicação e estrutura de doação para adentrar esse sistema?

“Para nós, o projeto tem se mostrado muito mais do que intuíamos originalmente. Olhando para as formas contemporâneas de comunicação e sociabilidade, partimos da ideia de que seria possível ‘hackear o sistema’, propondo redirecionamentos daquilo que muitas vezes é só ‘consumo de massa’ para um compartilhamento de valores democráticos, por meio do incentivo da cultura de doação. Que influenciar fosse de fato engajar em propósitos de interesses coletivos. Isso está se provando possível, com muitos desafios e aprendizados. Mas, mais do que milhares de posts, o que nos interessa também e nos surpreende a cada momento é a possibilidade de entender como o sistema se comporta, quais suas fragilidades e quais suas perspectivas. Entendemos que todo o processo de planejamento e execução que estamos vivendo irá contribuir para o campo muito além dos cliques. Por isso, nossa ideia é também compartilhar isso”, comenta Gabriela Moulin, sócia do Estúdio Cais.


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