Projetos reduzem a desnutrição e promovem a educação alimentar na América Latina
Por: Fundação Banco do Brasil| Notícias| 06/08/2018
Extinguir a fome no mundo; alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável são ações que sintetizam o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 2 – definido pelas Nações Unidas em 2015 com o propósito de alcançar a dignidade até 2030, pela nova agenda de desenvolvimento sustentável global. Com o título “Fome Zero e Agricultura Sustentável”, o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 2 elenca oito metas para todos os países adotarem de acordo com suas prioridades e desafios ambientais de todo o planeta. O cumprimento das metas estabelecidas pretende acabar com todas as formas de fome e má nutrição até 2030 (conforme a agenda de desenvolvimento sustentável global), garantindo o acesso suficiente a alimentos nutritivos durante todos os anos.
Segundo dados das Nações Unidas, a agricultura é a maior empregadora única no mundo, provendo meios de vida para 40% da população global atual. Ela é a maior fonte de renda e trabalho para famílias pobres rurais. Dessa forma, investir em pequenos agricultores é um modo importante de aumentar a segurança alimentar e a nutrição para os mais pobres, bem como a produção de alimentos para mercados locais e globais.
Alinhado com esses desafios, o Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – unidade de Montes Claros – promoveu a elaboração de um produto inovador no combate à desnutrição infantil local. Trata-se de uma bebida láctea fermentada a base de soro de leite, suplementada com minerais e adicionada de polpa de fruto do Cerrado (como mangaba, coquinho azedo, cajá, entre outros), capaz de suprir as necessidades nutricionais de crianças desnutridas.
Esse produto constitui-se de um alimento estável, nutricionalmente balanceado, que complementa as necessidades básicas diárias de uma criança. A tecnologia social “Ações e Alternativas contra a Subnutrição Infantil” foi certificada pela Fundação Banco do Brasil em 2017 e também consta no Banco de Tecnologias Sociais.
Segundo o professor e pesquisador do instituto, Igor Viana Brandi, responsável pelo desenvolvimento do produto, a bebida láctea foi elaborada para tratamento de subnutrição infantil para crianças fora da rotina escolar. “Na etapa de cadastro das crianças subnutridas, observou-se que estas não estão na escola. Normalmente, crianças subnutridas são as que não frequentam o ambiente escolar”, conclui o professor. Ele explica que na avaliação sensorial, com 120 crianças, confirmou-se que ambos os gêneros gostaram muito da bebida e que a aceitação pelas crianças foi acima de 85%.
Na avaliação da eficácia contra a subnutrição infantil em crianças na faixa de 2 a 5 anos de idade, com apoio de agentes de saúde e pastoral da criança, conseguiu-se cadastrar em grupo de 15 crianças na fase experimental. Estudantes de graduação forneceram 200 ml da bebida diariamente, por 60 dias. Apesar de serem apenas 6% o número de crianças subnutridas atendidas da cidade, todas as participantes superaram a deficiência nutricional. “Foi possível retirá-las do estado de subnutrição, comprovados através de medidas antropométricas, peso e altura, e análise de albumina no sangue”, explica Igor.
A prefeitura de Montes Claros apoiou as etapas de identificação das crianças, com dados dos postos de saúde. Agora novas ações estão sendo realizadas para reativar a fábrica de alimentos para merenda escolar da rede municipal, todavia, busca-se um novo modelo de gestão para que a fábrica seja autossustentável, e também aumentar a capacidade de produção na Universidade. Para Igor, o produto também pode ser uma alternativa ao Sistema Único de Saúde (SUS), que pode deixar de importar produtos funcionais, valorizando a tecnologia nacional.
“O produto possui em sua formulação os nutrientes em concentração suficiente para se retirar uma criança do estado de subnutrição. É rico em proteínas, lipídeos, minerais como cálcio e ferro. Utiliza em sua formulação um subproduto da indústria de laticínios, o que permite a redução de efluente e redução de custos do produto, além disso, possui elevada aceitabilidade, e utiliza ainda frutos do Cerrado, que são encontrados com elevada disponibilidade no nosso país”, conclui o professor.
Dados do Ministério da Saúde registram mais de 70 mil crianças menores de cinco anos desnutridas no Brasil. Além de diminuir a imunidade de crianças, a desnutrição infantil aumenta a susceptibilidade a doenças e prejudica o desenvolvimento físico e mental.
Do produtor local para a merenda
Outro exemplo de iniciativa alinhada em promover a segurança alimentar, desta vez no ambiente escolar, vem se desenvolvendo na cidade de Atiquizaya, em El Salvador. O projeto Escolas Sustentáveis, implantado em nível municipal, promove atividades integradas de diferentes instituições e setores relacionados com alimentação escolar, participação social, educação nutricional através de jardins educacionais, compra da agricultura familiar local e adoção de menus adequados e saudáveis. Além de ser enriquecida com os vegetais colhidos na horta, a merenda das escolas é complementada com a aquisição da produção dos agricultores familiares da região. A iniciativa foi finalista no último Prêmio de Tecnologia Social e integra o Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil para ser reaplicada em outras localidades. O projeto também tem o apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
“O projeto permitiu que muitos atores se juntassem para promover o desenvolvimento da economia local, com a compra de produtos da agricultura familiar, e assegurou uma alimentação completa para crianças em idade escolar, assim como contribuiu para a mudança cultural na alimentação das famílias”, comenta o chefe da Unidade de Segurança Alimentar e Nutricional de Atiquizaya, .
A Agenda 2030
Definidos pela ONU durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, também conhecidos como Objetivos Globais, fazem parte da Agenda 2030, que se baseia nos progressos e lições aprendidas com os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, entre 2000 e 2015. Esta agenda é fruto do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo que pretende criar um novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o meio ambiente e combater as alterações climáticas.
No total são 17 ODS e 169 metas que estimulam ações até o ano de 2030 em áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta.
*Crédito da foto: Lucas Braga/UFMG