Rede Temática de Saúde dá início às atividades do ano com planejamento estratégico

Por: GIFE| Notícias| 04/02/2019

Abrindo o calendário de reuniões das Redes Temáticas (RT) do GIFE em 2019, a RT de Saúde realizou seu terceiro encontro no dia 30 de janeiro, na Associação Samaritano, em São Paulo.

A agenda do dia foi cheia, preenchida com a retomada de assuntos abordados em encontros anteriores – como a vontade comum do grupo de mapear organizações que atuam com saúde no Brasil -, uma exposição do cenário atual da saúde pública e privada no país e também um momento de elaboração do propósito da Rede.

Rogério Kelian, gerente de Responsabilidade Social da Associação Samaritano, fez uma breve retomada dos assuntos a partir da rearticulação da RT, em junho de 2018. “Junto com a RaiaDrogasil, éramos novos associados ao GIFE. Quando íamos buscar organizações na área da saúde, tínhamos muita dificuldade. Então ficou evidente a necessidade de termos uma ferramenta prática para encontrar instituições que atuam nesse campo no Brasil. E reunindo mais organizações e participantes no grupo da rede temática se consolidou a vontade de mapear grantmakers, grantees e também os desafios e obstáculos da saúde no país. ”

Na segunda reunião do grupo, a RT reuniu duas empresas a apresentarem propostas para esse mapeamento. Entretanto, os participantes da rede optaram por seguir outro caminho. Gustavo Bernardino, coordenador de Políticas Públicas do GIFE, explicou que a opção escolhida foi potencializar o uso de uma ferramenta já existente: o Mapa das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), criado em 2015 e gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A plataforma virtual — pública e colaborativa — contém dados das OSCs de todo o Brasil. Depois de reuniões estratégicas entre a coordenação do grupo e o IPEA, ficou decidido que os membros da RT poderiam compartilhar suas bases de dados para serem inseridas na plataforma, além de incentivar que OSCs de saúde parceiras preenchessem o mapa.

“Nós sentimos que o mapa das organizações atuantes em saúde não iria oferecer essa convergência que precisamos e queremos. Para sustentar a RT a médio e longo prazo precisamos de objetivos que estejam no horizonte. A proposta aqui hoje é encontrar esse horizonte um pouco mais convergente”, ressaltou Gustavo.

Estruturas e desafios da Saúde no Brasil

Depois do momento de retomada, a primeira apresentação do dia ficou a cargo do Dr. Carlos Del Nero, doutor em Economia da Saúde pela London School of Economics and Political Science.

Para conceituar os sistemas de saúde nos setores público e privado, o especialista explicou sobre aspectos da estrutura complexa e múltipla do setor de saúde brasileiro que, com intensa participação estatal, é formado por: população (pessoas, famílias e grupos organizados); pagadores (Sistema Único de Saúde (SUS), sistemas privados e terceiro setor); fornecedores (farmácias, tecnologia, máquinas e devices); reguladores (Ministério da Saúde, agências, Legislativo e Judiciário); e prestadores (hospitais, clínicas e empreendedores).

Segundo Carlos, os fornecedores constituem o pilar menos conhecido. “Ao estudar o setor de saúde, é importante ter uma visão de todos, pois a atuação de um pilar pode alterar bastante o cenário. O governo, por exemplo, está sempre mais perto de instituições reguladoras, como as agências de saúde. O Judiciário tem interferido muito nas decisões do setor e temos um ministro da saúde [Luiz Henrique Mandetta] que veio do Legislativo, que também tem tido essa postura.”

Em seguida, o especialista apresentou dados gerais do SUS, como o fato de que três quartos da população fazem uso do Sistema, que está disponível de forma universal e sem restrição a todos. Apesar disso, a distribuição do serviço é desigual e a mudança da população afeta diretamente nas demandas por serviços de saúde. Do outro lado, estão beneficiários de planos de saúde que, com maior poder aquisitivo ou um emprego formal, estão em maior concentração nas regiões sul, sudeste e em grandes regiões metropolitanas.

Apesar das diferenças entre o setor público e privado, o especialista afirma que o gradual envelhecimento da população é determinante para a transformação do setor de saúde, uma vez que a demanda por serviços aumenta significativamente conforme o avanço da idade, com maior necessidade de serviços relacionados a doenças crônico-degenerativas, ortopedia e oncologia, por exemplo.

Já sobre as questões atuais do tema, Carlos levantou alguns pontos de destaque. O primeiro deles é o fato de que o mercado privado de saúde brasileiro está entre os maiores do mundo, com gastos de bilhões de dólares anualmente. Além disso, apesar de uma melhora no SUS, defende que a equiparação entre as ofertas pública e privada é improvável, e um possível crescimento de demanda de serviços pode ser atendido pelo setor privado.

Levando todos os pontos em consideração, o especialista elencou quatro desafios principais a serem problematizados: 1.Como remover os atuais entraves regulatórios que limitam o crescimento do mercado? Será que esses “entraves” podem ser resolvidos a curto prazo?; 2.O que mais pode ser feito para estimular o crescimento do setor? Planos de saúde populares? Terceirização do SUS em municípios localizados?; 3.Como gerir os custos do setor? A inflação do setor de saúde privada é mesmo maior que a do restante da economia?; e 4.É necessário um “choque de gestão”? Como promover as mudanças culturais necessárias à obtenção de eficiência e eficácia no setor?

Planejamento estratégico

O terceiro momento do encontro foi reservado à realização de um alinhamento estratégico, com a definição de um propósito comum para a Rede, assim como sua missão, de forma que as ações sejam balizadas por temas transversais e do interesse de todos.

Para isso, Paulo Sabbag, empresário, consultor e doutor em Administração, organizou um levantamento de ideias dos participantes a partir da exposição anterior do Dr. Carlos Del Nero, em que alguns dos principais pontos levantados foram:longevidade como uma questão prioritária; a promoção da saúde e prevenção de doenças como tão importantes quanto a assistência; a necessidade de advocacy diante da rotatividade de ministros; o fato da saúde mental ser pouco abordada; desigualdades; Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); e a definição de como a Rede vai trabalhar.

O grupo então discutiu qual seria o seu propósito, ou seja, a finalidade e razão de ser da Rede. Chegou-se ao consenso do propósito da Rede Temática de Saúde: “Unir esforços para melhorar a Saúde no Brasil”, com a missão de “Mobilizar e articular parcerias para qualificar o investimento social privado em Saúde.”

Expectativas para 2019

O momento final da reunião foi dedicado a um balanço do encontro e houve unanimidade sobre a importância dos avanços feitos durante o dia. “Conseguimos organizar bastante coisa em pouco tempo [de reunião] e espero que nos próximos encontros possamos destrinchar mais ainda cada um desses passos”, comentou Maria Izabel Toro, gerente da área de investimento social da RaiaDrogasil, outra instituição que compõe a coordenação da RT.

Paulo Sabbag aproveitou para apontar alguns dos próximos trabalhos do grupo. “Essas iniciativas são só um levantamento rápido e ainda não constituem um escopo de trabalho da RT. Para uma atuação conjunta é preciso pensar em regras de convivência que favoreçam a atuação em rede.”

Todos os participantes concordaram que é necessário entender o grupo como uma construção coletiva e não um relacionamento hierárquico. “Trabalhar em rede é difícil mesmo, mas é um processo muito rico e pessoalmente já obtive ótimos resultados. É um trabalho diferente que traz benefícios para todos os que participam”, completou Maria Izabel.

Luiz Maria Ramos Filho, superintendente de Responsabilidade Social da Associação Samaritano, também deu seu parecer sobre a reunião. “A minha expectativa enquanto membro da coordenação foi muito superada. O [Carlos] Del Nero ofereceu um panorama geral da saúde e o Paulo Sabbag nos ajudou a definir um norte para o nosso ano e trabalho. Temos o desafio de agregar mais instituições e fidelizar as que já fazem parte, mas acredito que essa definição conjunta facilita bastante, pois faz com que cada um se sinta um pouco responsável e assim podemos ir em frente. ”

“O trabalho em rede tem essa complexidade, que é conseguir alinhar instituições de grande porte em torno de agendas comuns. Então a expectativa é que esse ano a gente fortaleça a saúde no terceiro setor, tendo em vista a qualidade e diversidade das organizações que participam da RT. Na minha opinião, esse encontro foi um momento chave”, defende Rogério.


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